A linguagem no controle do estresse, e na prevenção à violência e ao uso indevido de drogas

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qui, 26/07/2012

As tensões do mundo moderno estão ficando maiores e mais intensas, a cada dia que passa, deixando as pessoas expostas a situações estressantes muito frequentes. Isso ocorre tanto na vida familiar quanto no trabalho. Sem terem uma noção sobre a importância da linguagem, e sua influência nos processos de doença e saúde, as pessoas muito estressadas não conseguem fazer um controle adequado da intensidade dos seus gestos e expressões, nem da qualidade da voz e das palavras que falam. Isso acontece porque seu sistema nervoso fica excessivamente ativado durante as situações estressantes, o que faz com que as pessoas percam a capacidade de controlar seus comportamentos. Nesse momento, as funções inferiores e emocionais do cérebro "sequestram", isto é, impedem as funções superiores, relacionadas com a percepção, aprendizagem, raciocínio e memória. E são justamente essas funções superiores que fazem o controle das emoções, mas esse controle fica impossibilitado, quando a razão está sendo "sequestrada" pelas reações emocionais (Goleman, 1995; Ornstein, 1987).

Tal fenômeno biológico explica a necessidade de conhecermos melhor como funciona nosso cérebro, para sabermos como minimizar fatores estressantes, que prejudicam nossa saúde física, mental e nossas relações sociais. Ansiedade, tensão, insônia, problemas alimentares, estomacais, intestinais, cardíacos, dores de cabeça e no corpo, etc., são sintomas que podem ter a sua causa no estresse crônico do cotidiano, muitas vezes causado pelo uso indevido da linguagem nas relações interpessoais (França, 2002, Crenças...; França, 2002, Brincar...). Tais sintomas afetam o desempenho mental das pessoas, e alteram os resultados de sua atividade intelectual e produtiva.

Expressões faciais e gestos agressivos, palavras faladas com tom de voz alterado, e, até mesmo, o silêncio, interpretado como descaso, indiferença ou desacordo, podem provocar estados intensos de estresse. Mesmo parecendo sutis, esses e outros padrões de linguagem verbal e não verbal podem ser tão danosos à nossa vida social, que desencadeiam outros problemas complexos no sistema nervoso. Eles afetam a paz na vida familiar e/ou profissional, e ainda podem gerar doenças físicas e mentais (França, 2002, Crenças...). Há casos em que os procedimentos verbais e não verbais podem ser considerados assédio moral, gerando, até mesmo, processos jurídicos, que desgastam o indivíduo, seu grupo profissional e a vida em família (Hirigoyen, 2002).

Pessoas com a saúde física e mental frágil trazem prejuízos para as famílias, empresas e também para a sociedade. Elas se tornam improdutivas e aumentam os gastos empresarias e sociais com as ausências no trabalho, licenças médicas e tratamentos médicos caros. Elas ainda necessitam de atenção especial, que nem todos têm condições de dar. Além disso, muitas pessoas, com funções nervosas alteradas pelo estresse, começam a fazer uso indiscriminado de remédios para relaxar e dormir, de cigarro para se acalmar, de álcool para ficar alegre e até de outras drogas para ter sensações de prazer. Elas usam essas substâncias, na esperança de resolverem os desequilíbrios internos, e os mal-estares que sentem no corpo e na mente. Com isso, elas estão dando o primeiro passo que poderá levá-las à dependência química.

A dependência química acontece quando o cérebro e o corpo se acostumam com as substâncias ingeridas, e a pessoa torna-se tolerante a elas. Isso quer dizer que a mesma substância deixa de produzir o efeito inicial, e então a pessoa começa a aumentar as doses para ter as mesmas sensações de conforto e prazer que sentia anteriormente. Assim, se ela só fumava poucos cigarros, ela passa a usar quantidades maiores, e a combinar fumo com bebida. Esse aumento das doses e as misturas, na busca constante pelo prazer e bem-estar, levam a pessoa a se tornar dependente, porque o cérebro e o organismo se acostumam com as substâncias químicas ingeridas, e alteram a produção daquelas substâncias naturais, próprias dos processos químicos do corpo (França, 2002, Brincar...).

O cérebro humano possui mecanismos naturais para garantir nossa sobrevivência e a defesa de nosso organismo (Ornstein, 1987). Durante situações normais e, especialmente de perigo, esse órgão complexo e centralizador das informações internas (do corpo) e externas (do ambiente), aciona a liberação de substâncias naturais do cérebro, chamadas neurotransmissores. Eles ativam a secreção de glândulas, que liberam hormônios, dentre eles, aqueles que fazem parte dos processos de estresse. Os hormônios do estresse desencadeiam ações motoras, como os movimentos envolvidos nas reações emocionais de defesa e ataque, assim como na emissão de sons vocais.

Nossas respostas motoras podem ser inteligentemente planejadas, quando fazemos uso das funções superiores do cérebro. Essas funções dependem da ativação da camada cortical, aquela camada enrugada que recobre nosso cérebro. Mas no momento em que as reações são extremamente estressantes, como as de luta e fuga, de ataque e de defesa, as reações que irão predominar fazem parte das funções inferiores do cérebro, que ficam mais na parte central desse órgão. É isso que faz com que nossos atos se tornem mais impulsivos e instintivos, porque nesse momento as funções superiores, corticais, estão sendo "sequestradas", impedidas pela intensidade das emoções (Goleman, 1995).

Enquanto as funções inferiores, que são automáticas, funcionam desde o nascimento, as funções superiores e inteligentes do nosso cérebro requerem aprendizado cultural, e um processo educacional que necessita de convívio social, caso contrário, elas não se desenvolvem plenamente. Isso explica o fato de muitas pessoas agirem de modo semelhante aos mamíferos, quando elas estão com sua atividade cerebral superior "sequestrada", seja pelo estresse ou pelo uso indevido de drogas. Isso ocorre, porque suas capacidades de produzir linguagem e de raciocinar, que são privilégios exclusivamente humanos, ficam minimizadas. As funções instintivas inferiores predominam nesse momento, e as pessoas ficam com dificuldades para raciocinar em níveis complexos, e para tomar decisões inteligentes, e para planejar a vida, visando o bem-estar próprio, e também o bem-estar social.

A produção da linguagem e do raciocínio pode ficar desestabilizada pela sobrecarga da química do estresse momentâneo, e, principalmente crônico, que é quando o corpo transcende a medida de liberação natural e saudável dos hormônios do estresse. Tal liberação exagerada, cotidianamente, prejudica o desenvolvimento das funções superiores do cérebro nos processos decisórios, além de minimizar as condições do cérebro para perceber, aprender e armazenar informações. Esse prejuízo se intensifica ainda mais quando um indivíduo inclui nesse ambiente químico do cérebro e do corpo, outras substâncias como a nicotina, o álcool, a maconha, a cocaína, e outras drogas lícitas e ilícitas. Nesses casos, as funções inferiores e superiores do cérebro ficam ainda mais alteradas, tornando-se imprevisíveis os comportamentos e os padrões de linguagem. Tudo irá depender das condições de saúde da pessoa, da droga que está sendo consumida, do tempo de uso e de outros fatores, sendo que os prejuízos podem levar a pessoa a problemas sérios de saúde e também à morte. Como isso o sistema imunológico fica mais fraco, a probabilidade da pessoa ficar doente, com mais frequência, também aumenta, principalmente se fizer sexo sem camisinha, e contrair doenças sexualmente transmissíveis - DST/AIDS.

De tal modo, o uso indevido de drogas, ainda que mascare um equilíbrio interno e provoque sensações de prazer, na verdade, está causando danos e até a destruição dos neurônios do cérebro. Consequentemente, as drogas comprometem o bom funcionamento do sistema nervoso e dos órgãos do corpo, assim como também o desempenho intelectual e social, que são funções superiores do cérebro. Isso representa um retrocesso da consciência e na capacidade evolutiva do ser humano.

Muitos problemas de aprendizagem e de comportamento podem ter sua origem no estresse excessivo do cotidiano e no uso indevido de drogas dos pais, principalmente durante a gravidez. Mas não importa se isso ocorrer durante o período de formação da criança, no útero materno, ou após o nascimento. O estresse familiar e profissional, e os conflitos nas relações de comunicação, também podem alterar o funcionamento do cérebro da criança e do adolescente, desde o período intrauterino. As alterações da mãe também irão interferir, futuramente, na capacidade da criança ver, ouvir, sentir, de guardar lembranças e de aprender a ler e escrever, quando for para a escola. O estresse familiar pode apagar informações e conhecimentos que as crianças aprendem no presente, e que serão necessários para tomada de decisões no futuro. O conhecido "branco mental", que ocorre durante as tensões dos momentos de exame e provas, exemplifica bem o fato de que, sob estresse, as funções superiores do cérebro ficam sequestradas, minimizando as capacidades de seu funcionamento inteligente.

A nova geração está ficando cada vez mais exposta a situações estressantes na sociedade atual (Ornstein, 1987), e os hormônios do estresse, que são liberados em excesso, são tão prejudiciais quanto as outras drogas. Além de interferirem nas capacidades intelectuais superiores, eles predispõem a nova geração a fazer uso precoce do cigarro e do álcool, para se equilibrar emocional e mentalmente. Isso, contudo, irá abrir caminho para o uso indevido de drogas ilícitas, contribuindo para que haja um desvio acelerado do comportamento social, que tende para a violência e a criminalidade.

Os pais precisam receber informações adequadas, para saberem como minimizar o estresse familiar, e toda a sequência de problemas que ele pode gerar na família e na sociedade. Os professores também precisam fazer isso no ambiente escolar. Crianças e adolescentes estressados, que têm problemas de aprendizagem ficam predispostos a abandonar a escola, e fazer uso precoce e indevido de drogas. Eles também podem gerar filhos precocemente, sob efeito do álcool e de outras drogas, e as crianças que nascem nessas circunstâncias, certamente, sofrerão com o estresse da mãe e terão dificuldades, ainda maiores, de aprendizagem e de adaptação social. Isso ocorre, porque as drogas danificam neurônios do cérebro e órgãos do corpo da criança, e ela já nasce com desvantagens no desenvolvimento físico e mental, devido aos danos sofridos pelo contato precoce com as substâncias químicas do estresse, e também outras drogas (medicamentos, cigarro, álcool e drogas ilícitas).

Além disso, pais adolescentes, que não têm seus cérebros totalmente desenvolvidos, nem sempre conseguem assumir compromissos sociais como a paternidade e a educação responsável dos filhos. A falta de conhecimentos, e de cuidado com o desenvolvimento superior das crianças, deixa os novos seres vulneráveis a vários riscos de morte. Esses riscos vão desde a exposição a acidentes domésticos, danos físicos e mentais, devido aos espancamentos e à violência doméstica, agressão, brigas de rua e crimes, assim como exposição a doenças sexualmente transmissíveis - DST/AIDS. A carência de informação dos pais também pode levar a criança a sofrer a influência do tráfico de drogas, e isso aumenta, significativamente, o estresse e a violência social, num círculo vicioso sem fim.

Nesse contexto, saber falar, aconselhar e apoiar os filhos, os cônjuges e os companheiros de trabalho, subordinados ou hierarquicamente superiores, clientes, alunos, parentes, vizinhos, etc., torna-se de suma importância, para minimizarmos o estresse na família, no trabalho e na sociedade, de um modo geral. Estamos diante de um grande desafio, que é o de assumir, responsavelmente, a promoção da saúde física e mental de nossa sociedade, assim como também a paz mundial.

Orientar pais, servidores de empresas, professores, estudantes, etc., sobre os efeitos que o estresse e outras drogas exercem sobre o cérebro e o sistema nervoso, é, portanto, um compromisso de todos aqueles que têm informações e experiências para compartilhar com os outros. Por isso, o presente texto apresenta um alternativa natural e holística de prevenção do estresse, violência e uso indevido de drogas. A técnica é denominada "Caretas Articuladas com Movimentos das Mãos – CAMM", e foi sistematizada com base no estudo de gestos e expressões de pessoas que promovem a saúde na cidade de Manaus, Amazonas, por meio de práticas não convencionais (França, 2002, Crenças...). CAMM pode ser realizada em casa, diariamente, para harmonização do corpo e da mente de crianças, adolescentes e adultos.

A prática diária de CAMM favorece o fluxo normal e sincronizado dos impulsos nervosos entre as funções inferiores e superiores do cérebro, e também entre os seus hemisférios esquerdo e direito, especialmente nas áreas sensória e motora. Resultados satisfatórios com a prática de CAMM vêm sendo obtidos em atividades terapêuticas e educativas com grupos de comunidades carentes da periferia de Manaus, e também no trabalho com profissionais que trabalham com adolescentes, autores de atos infracionais e privados de liberdade, no Rio Grande do Norte (França, 2002, Relatórios...). As etapas que serão descritas, a seguir, poderão ajudar na melhoria dos relacionamentos familiares e profissionais, porque favorecem os processos de linguagem verbal e não verbal. Além disso, CAMM estimula o lobo frontal do cérebro, que é determinante na sequência de ações motoras voluntárias, nos atos conscientes e no controle das emoções (Duus, 1997; Damásio, 1996). Por isso, apesar de simples, os movimentos da face e das mãos ajudarão a promover, também, o raciocínio ativo, a iniciativa, a sensação de esforço e de força, a personalidade, a perseverança e o ego social.

Veja os exercícios do CAMM

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