Ensinando as Crianças a serem Pacificadoras

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qua, 17/03/2004

Com a erupção da violência nas escolas de nosso país, os pais estão procurando aprender como ensinar as crianças a serem apaziguadoras. Um grande passo nessa direção será fazer com que nossas crianças aprendam a cooperar, ao invés de competir umas com as outras.

Infelizmente, a sociedade americana parece inclinada à competição. Nós louvamos a competição e a encorajamos entre nossas crianças, já nos anos da pré-escola. Por que, de outra maneira, escolheríamos "a melhor" fantasia do Dia das Bruxas numa festinha de crianças com 4 anos de idade? Por que, no Jardim da Infância, só damos figurinhas para as crianças que são capazes de escrever seus nomes e destacamos o ganhador no jogo da amarelinha?

Os Perigos da Competição.

Em cada situação competitiva enfrentada por uma criança está a terrível realidade: "se ele ou ela ganhar, eu perco", Alfie Kohn em seu livro, "No Contest: the Case Against Competition" (ainda sem tradução - Sem disputar: O caso contra a Competição) insiste em que falar de "competição saudável" é uma contradição de termos. Não somente a competição não é saudável para as crianças, como veremos, mas também fomenta muitos perigos.

Crianças sem esperança de ganhar num teste de ortografia, de obter um lugar num brinquedo, ou de vencer num jogo, perdem a autoconfiança e desistem de tentar. A perda da autoestima leva à falta de disposição para aproveitar chances e arriscar fracassos futuros. Essas são as crianças que desaparecem nos cantos ou se viciam em televisão. São também as que comem muito, ou muito pouco, para manter a vida.

Há uma grande diferença entre procurar sair-se bem e procurar sair-se melhor do que os outros. A competição pode produzir níveis de ansiedade inibidores. Crianças que têm sucesso nos debates, ou que ganham prêmios em competições musicais, por exemplo, muitas vezes o fazem por terem temperamento para suportar a pressão do evento, mais do que o talento para ganhar. A criança artística, sensível, pode se tornar incapaz de fazer as coisas, devido ao estresse da competição.

Kohn cita pesquisa mostrando que crianças que tomam aulas de arte e competem por prêmios mostram menos criatividade do que aquelas que não competem. Não há dúvida de que isso se deve ao fato de que essas crianças correm menos riscos ao produzir obras de arte que elas esperam agradar os juízes mais do que a si próprias.

A competição é uma "vaca sagrada" em nossa sociedade. Nós nos agarramos à crença de que ela forma o caráter quando, de fato, existem evidências de que o que ela forma são ressentimentos. Crianças que ficam com raiva ou deprimidas são as que enfrentam espancamento quando aparecem em casa com um boletim mostrando notas abaixo do desejável, ou não conseguem um troféu para seu projeto de ciências. São essas as crianças que correm perigo de agir sob a influência de seus ressentimentos, quem sabe até ao ponto de violência.

O que os pais podem fazer

A começar na pré-escola, promova jogos e situações ganha-ganha. Por exemplo, no Monopólio, cada jogador que ficar ao redor da mesa ganha $200. Reescreva essas regras para outros jogos favoritos das crianças, de modo que todas ganhem.

Encoraje seu filho a envolver-se em projetos comunitários, tais como uma limpeza na vizinhança ou recolher doações para o banco de alimentos, que recompensa a cooperação.

Elogie as crianças por serem elas mesmas ("Você é uma criança maravilhosa", ou "Eu tenho muito orgulho de você") mais do que por uma determinada realização.

O que os professores podem fazer

Ensine as "novas regras básicas" das habilidades que as crianças precisam para alcançar sucesso no século XXI. Elas são delineadas por Naomi Drew, em seu livro: The Peaceful Classroom, e incluem: respeito por si mesmo e pelos outros, capacidade de trabalhar em cooperação, capacidade de administrar a raiva, e a compreensão de que a violência sob qualquer forma é inaceitável.

Retire toda a ênfase das estrelas de ouro, fitas azuis e notas. Enfatize o autoconhecimento, a empatia pelos outros e a alegria de aprender.

Inicie seu dia de aula com uma declaração de sua filosofia. Drew conta que uma turma de alunos de 10 anos formulou a seguinte declaração: "Nós prometemos ser apaziguadores o tempo todo, tratar os outros com respeito e viver conforme a Regra de Ouro."

O aprendizado cooperativo dá suporte a pacificação. Se continuarmos a patrocinar a competição, jamais teremos sucesso em ensinar nossas crianças a serem apaziguadoras. Como sociedade, devemos entender que não podemos ter uma coisa se insistirmos em manter a outra.

Referências:

Alfie Kohn, No Contest: The Case Against Competition (ainda sem tradução) (Boston: Houghton Miffin Company, 1986.
     http://www.alfiekohn.org/
     Do mesmo autor: PUNIDOS PELAS RECOMPENSAS - ATLAS - ISBN 8522420637

Naomi Drew, The Peaceful Classroom in Action (ainda sem tradução) (Torrance, CA: Jalmar Press, 1999)
     http://www.learningpeace.com/
     Da mesma autora: A PAZ TAMBEM SE APRENDE - GAIA EDITORA - ISBN 8585351039
     (Título original: Learning the skill of peacemaking)

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