O que fazer quando a crítica for injusta ou desonesta

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qui, 08/01/2009

Quem está dirigindo o seu ônibus?

Eu estava no supermercado onde regularmente faço as minhas compras. Enquanto esperava na fila, notei que a jovem do caixa (vamos chamá-la de Carol) não estava no seu humor normal – alegre e disposta. Quando chegou a minha vez, cumprimentei-a com um "tudo bem?" para o qual ela respondeu: "Ah, eu estou bem – se os clientes rudes não me puxarem para baixo!"

Como tinham outras pessoas esperando atrás de mim na fila, não tínhamos tempo para um papo longo. Então tomei a saída mais fácil e dei-lhe um conselho (!).

Se o conselho foi ou não de algum valor, nunca saberei. Ela tinha ficado um pouco mais animada ao final da nossa breve interação quando pegou os produtos para colocá-los dentro da caixa. Meu palpite é que a conduta mais animada dela resultou mais por ser ouvida e recebido atenção positiva do que pelos meus comentários profundos!

É tão injusto

Carol não estava frágil ou vulnerável por ter reagido à crítica daquela maneira – todos nós nos abatemos de tempos em tempos, e é improvável nunca termos sido ofendidos, embora momentaneamente, por críticas injustas e sem motivo.

Mas quando você se abate, você não está mais "dirigindo o seu próprio ônibus". O seu crítico está fazendo a condução – a condução do seu humor. Se você reagir com dor, raiva ou ficar ofendido pelo comportamento ou pelos comentários do Jack ou do Bill, então o seu humor estará sendo influenciado por eles – muitas vezes depois de eles terem ido embora e até se esquecido de você.

Algumas pessoas até voltam a insistir com esses pensamentos a altas horas da noite! Jack e o Bill estão dormindo profundamente. Entretanto, nós estamos deitados, imaginando todas as coisas que podíamos ter dito, ou a maneira como deveríamos ter reagido para, em seguida, nos preocuparmos emocionalmente e produzir enorme quantidade de adrenalina, o que vai nos assegurar, mais adiante, perder algumas horas de sono. Enquanto isso, eles já se esqueceram de nós e estão dormindo profundamente...!

Essa não é uma maneira muito competente para conduzir o próprio cérebro.

Então por que isso ocorre?

Por que a crítica pressiona nossos botões? Essa é uma pergunta interessante mas, particularmente, não muito útil. Precisar saber "por quê" eu tenho frequentemente um comportamento disfuncional nos desvia de uma outra questão muito mais importante: "o que eu posso fazer a respeito disso - agora???"

Sim, mas... por quê??

Certo, se você precisa investigar a questão do "porquê"... A maioria de nós persiste com uma crença infantil sobre justiça universal. Faz parte da mitologia sobre como a vida é, muitas vezes, impingida às crianças por adultos bem-intencionados. E nós persistimos com essa crença porque nunca paramos para questioná-la e, também, porque esse mito foi perpetuado por muitos filmes.

Nós acreditamos que se nos comportamos de uma maneira justa, tendo boas intenções, fazendo o nosso melhor, etc., os outros vão nos tratar do mesmo modo... E ficamos surpreendidos, desapontados, ofendidos e até mesmo furiosos quando os outros não jogam o mesmo jogo. Quando, pelos nossos padrões, eles nos tratam injustamente. Como eu disse, é uma crença irracional.

10 dicas para lidar com a crítica injusta

A maneira de receber de volta o volante do nosso próprio ônibus é mudar como nós percebemos e pensamos sobre essas críticas ou comentários "injustos". Para começar, aqui estão alguns indicadores:

1. Será que você não é o alvo mais à mão?

Muitas vezes, a crítica não é pessoal – ela só parece ser deste jeito. Então seja bastante lúcido sobre a realidade da situação e, especialmente, inteligente sobre "de quem é esse problema?" Ele realmente o está atacando pessoalmente ou simplesmente aconteceu você estar disponível e dar a impressão de que não vai revidar?

Esse é o caso, especialmente se você lida com o público em geral no serviço público, em lojas, restaurantes, cafés, bar, etc. Você é visto como "pato" porque eles sabem que é improvável que você possa retaliar na mesma moeda, sem colocar em risco o seu emprego. Criticar pessoas que não podem retaliar é desprezível.

2. Será que elas simplesmente não são pessoas infelizes?

Outra questão relacionada com o "de quem é esse problema?" é que elas estão destilando sua raiva em você porque estão frustradas com alguma coisa. Em outras palavras, será que elas simplesmente não são pessoas infelizes? É provável que sim!

Dê uma outra olhada nelas – parecem felizes? Uma pessoa realmente feliz iria agir desta maneira? Se você está realmente feliz, ou profundamente apaixonado por alguém ou recém ouviu boas notícias, seria capaz de se comportar como elas acabaram de fazer? Provavelmente não.

Então, como elas estão realmente infelizes, insatisfeitas, sozinhas ou frustradas, talvez o mais apropriado seja sentir pena delas! "Não é uma pena que elas estejam tão infelizes – eu é que fico contente por não me sentir deste jeito!"

3. Você ou seu comportamento?

Diferencie entre crítica sobre seu comportamento e crítica sobre sua personalidade. Se eu trabalho no caixa de um supermercado e, na sua opinião, eu estou trabalhando muito devagar ou estou levando muito tempo conversando com um cliente que está na sua frente, então talvez, só talvez, você possa fazer comentários sobre o meu comportamento. Mesmo se for algo desprezível e sórdido de ser feito – sabendo que eu não posso revidar.

Entretanto isso é muito diferente de comentar sobre a minha personalidade ou meu autoconceito.

Dizer que eu sou uma pessoa estúpida, vagarosa ou desatenciosa é muito diferente do que dizer que eu me comporto de uma maneira estúpida ou desatenciosa! Meu comportamento ou meu autoconceito são dois níveis diferentes no modelo dos Níveis Neurológicos da PNL.

4. De quem é a opinião que significa algo para você?

Quando somos criticados, normalmente é no nível do nosso autoconceito (veja o item anterior). Então, por que nós nem paramos para pensar um pouco antes de reagir? Então, por que é que quando uma pessoa diz que você é estúpido, nocivo ou desagradável, você aceita isso no fundo do seu coração? Como essa pessoa sabe como você é de fato? Por que nós nem mesmo consideramos tais opiniões como deturpadas e mesquinhas?

Muitas vezes é porque nós não temos uma opinião elevada de nós mesmos.

Pense um pouco sobre isso. Se você realmente tem uma boa opinião sobre você, e eu o critico, o que você faz? É provável que você se pergunte que tipo de visão distorcida eu desenvolvi e o que está errado comigo que me leva a me comportar dessa maneira. Como a sua opinião sobre você é sólida, você estará mais propenso a querer saber sobre "mim" e minhas percepções do que sobre você mesmo – que é onde devia estar o foco nesta situação.

Vamos dizer que, logo depois que essa pessoa o criticou ou o insultou, alguém cuja opinião você respeita, tenha lhe dito calmamente que o crítico era realmente uma pessoa insana que estava no seu "dia de folga" do hospício.

Como você se sentiria sobre o que ele tinha dito para você ou sobre você? É provável que você pensasse que "Se ele é insano, não tem importância o que ele disse de mim". Porém na realidade, normalmente nós damos importância a como as pessoas nos tratam. Por que isso? Porque nós decidimos que isso realmente é importante. Porque nós consideramos que a opinião delas sobre nós está num grau mais elevado do que a nossa própria opinião sobre nós mesmos.

5. Será que elas estão tentando parecer melhor do que as outras, ao tentar diminuí-las?

Muitas pessoas que criticam ou tentam solapar as outras, fazem isso para se sentirem superiores às suas vítimas. Elas têm uma autoestima tão baixa que precisam reafirmar constantemente a sua confiança de que são melhores do que você.

Nós observamos, muitas vezes, este comportamento naquelas pessoas que passam muito tempo conosco, como a família, amigos ou colegas. Tudo que você faz ou diz está errado, tem defeito ou não está tão bom quanto a versão delas. Essas pessoas são particularmente infelizes e merecem toda nossa simpatia, e bastante tempo sozinhas para pensar...

6. Não recompense essas pessoas!

Se alguém o critica e você não engole a isca, a ação dele não é recompensada. Ele precisa da sua reação para obter a sensação de poder ou satisfação! Ao não retaliar ou reagir, você nega essa satisfação a ele. Comportamentos não recompensados logo desvanecem. Ou a pessoa infeliz procura uma vítima mais cooperativa.

7. Não coopere emocionalmente!

Decida que você não vai deixá-las vencerem – ao se recusar a continuar pensando ou falando sobre a ação delas. E toda vez que você se descobrir começando a pensar no que elas fizeram ou disseram, lembre-se "Eu não preciso fazer isso comigo".

Você não tem que levar isso em conta. Sim, é provável que você tenha uma reação inicial de raiva ou mágoa. Mas não precisa continuar alimentando essa emoção. E caso continue ou não a se estender sobre isso e, se isso vai perturbar ou não o resto do seu dia ou da semana, é uma escolha totalmente sua.

Agora, do mesmo modo que não podemos impedir que os pensamentos negativos pipoquem na nossa cabeça, é improvável que possamos parar de ter respostas inadequadas a tais comentários. O ponto principal é se permitimos que essas reações continuem, se nós nos divertimos ou se nós alimentamos esses comentários ao nos estendermos sobre eles. Então a pergunta é, depois da reação inicial, você deixa o comentário continuar a lhe afetar?

(A técnica Swish da PNL é excelente para isso – especialmente se você tiver realmente um forte pensamento de substituição.)

8. O conceito de justiça não é absoluto.

Lembre-se dessa realidade. E do fato de que pessoas têm diferentes opiniões sobre o que é certo ou errado, o que é apropriado ou não. A versão delas do que é justo pode diferir consideravelmente da sua. O fato de você achar justo alguma coisa e essa opinião ser compartilhada por quase todo mundo que você conhece, não significa que ela esteja correta – apenas que ela é aceita pela maioria.

Porque algo que para você é evidente por si mesmo não significa que alguém não irá ter uma opinião diametralmente oposta. Nem significa necessariamente que você está certo.

Se a opinião delas do que é justo é tão diferente – tão excêntrica em relação a sua – será que você realmente precisa se relacionar com eles? E lembre que a sensação de raiva ou ressentimento em relação a alguém o conecta com ele – porque você ainda está pensando nele. Se alguém é tão diferente em suas opiniões, talvez a indiferença não seja o que melhor funciona para você?

9. Evite retaliação!

"O quê??? Você quer dizer deixá-los ir embora assim, sem fazer nada??? Espere! Isto é um passo para mais adiante, Reg. Por que eles podem se safar assim?"

Isso aparece muito nos meus workshops sobre controle da raiva. E a resposta é que você não pode impedi-los de "ir embora, apesar disso" a menos que eles tenham desobedecido a lei. Nem você nem eu temos o direito nem a autoridade, e nem mesmo a capacidade de mudar o comportamento de um outro ser humano adulto.

Se alguém escolhe ser ofensivo gratuitamente, não podemos impedi-lo. O que nós podemos fazer é escolher passar pouco ou nenhum tempo na presença dele.

Para muitos, essa é uma pílula muito amarga para ser engolida porque elas passaram grande parte da sua vida tentando evitar isso! Nós acreditamos em certo, verdade, justiça e imparcialidade. Nós acreditamos que o mocinho sempre vence. Claro que isso não acontece, e assim nós buscamos consolação nos identificando com o herói em busca de vingança – ou com os filmes de Charles Bronson, Dirty Harry de Clint Eastwood, Stallone, e muitos outros que colocam a ordem no mundo.

10. Alguma verdade nisso?

Por fim, e quando você já tiver se acalmado, você pode querer considerar se os comentários sobre o seu comportamento podem, de algum modo, ser justificados – mesmo que eles não tenham o direito de fazer o comentário.

Isso é baseado no conceito de Ressignificação da PNL de que sempre existe algo para ser aprendido numa situação – por mais negativa ou desagradável que ela possa ser.

Existe um ditado estranho e singular, muitas vezes usados pelos juízes nas cortes britânicas com o sentido de que "qualquer homem razoável pode concluir" uma coisa ou outra ou chegar a uma conclusão particular. (É sim, eles dizem "homem razoável" e não "pessoa razoável".) Tente aplicar esse teste, um pouco questionável, para a situação na qual você está sendo criticado. É possível que uma pessoa razoável possa encontrar "algo" para criticar no seu comportamento? Ou é simplesmente a estranha percepção de uma pessoa infeliz.

E por fim…

...o que eu disse para a Carol: "As pessoas que são rudes gratuitamente, usualmente são muito infelizes – por terem tido um péssimo dia ou mesmo uma vida muito triste. Mas se nós embarcamos nos comentários delas, permitindo que eles nos contaminem, nós as estaremos ajudando a espalhar a infelicidade. E aí, elas terão vencido!"

Reg Connolly é Trainer Certificado e Master Practitioner de PNL, treinador de administração e de vendas.

Artigo publicado sob o título "Who's driving your bus? What to do when criticism is unjust or unfair" no site www.nlp-now.co.uk

(c) 2000-2008 Reg Connolly - copyrighted, todos os direitos reservados.

Tradução JVF, direitos da tradução reservados.

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