Eu ouviria meus pais se pelo menos eles calassem a boca

Livro do Mês - Fevereiro de 2014

Eu ouviria meus pais se pelo menos eles calassem a boca - O que dizer e o que não dizer quando educamos adolescentes

A primeira obra apresentada por Golfinho em "Livro do Mês" de 2014 possui um título imenso, e um subtítulo de igual tamanho, "O que dizer e o que não dizer quando educamos adolescentes" – mas, paradoxalmente, em suas 443 páginas encontramos um texto enxuto, de leitura agradável, um estilo bem-humorado para um assunto tão complexo quanto a relação de adultos com a nova geração.

O autor, Anthony E. Wolf, é psicólogo clínico de crianças e adolescentes, especialista em orientação para pais e educadores, além de palestrante e colunista. A edição brasileira é da Rocco. Rio de Janeiro.

O livro expõe, criativamente, a dificuldade, cada vez maior, do relacionamento dos pais e filhos, de adultos e jovens, quando comparando com as gerações anteriores, em que as interações eram, aparentemente, mais estáveis, as regras comportamentais, na família e nas escolas, mais bem definidas e concretizadas.

O autor, já no Prefácio, lembra os adultos de que há "uma razão significativa para os adolescentes de hoje não serem obedientes e replicarem as falas de seus pais de uma forma que era impensável há apenas algumas décadas".

A atual geração, registra, não tem medo dos pais.

Não há mais severos castigos: o pater famílias definhou em seus instrumentos de educação em benefício – em benefício não seria bem a palavra correta – do agigantamento das funções do Estado, o novo monopolista dos direitos e deveres dos cidadãos. O pai não prende os filhos menores, e o Estado ideologizado, semanticamente, apreende. O adolescente vota, como adulto, mas na prática é impunível. O pai-Estado, todo soberano em legislar, ainda não conseguiu gerar modelos educacionais que socializem o jovem do Século XXI. Daí a importância de obra como a "EU OUVIRIA MEUS PAIS SE PELO MENOS ELES CALASSEM A BOCA", pois apresenta caminhos modernos, flexíveis, perfeitamente aplicáveis, para a comunhão entre o passado e o futuro de gerações de cidadãos.

Wolf alia uma grande base, teórica e prática, de educação dos adolescentes, e uma grande capacidade de dividir sua rica experiência com seus leitores, pais ou não.

São mais de quatrocentas páginas ricas de práticos conselhos, explicitados com grande carga dialogal e de humor. Caminhos orientados para gerar nos adultos, e nos jovens, comunhão satisfatória. Aprendemos a refletir sobre as drásticas mudanças havidas nos últimos anos nos nossos relacionamentos intra e interpessoais, e o papel da internet e dos dispositivos eletrônicos de todos os tipos na vida de nossos filhos.

Capítulos que nos ensinam a elaborar o "não", a conseguir afeto e obediência de seu filho, a importância da conversa familiar, da construção de um relacionamento sólido.

Textos em que aprendemos a interpretar as expressões mais populares dos adolescentes, a gerar com eficácia regras e controles, a desenvolver o caráter, a traçar rumos para os dilemas e desafios da adolescência: a escola em crise, a família transfigurada, o sexo, o álcool, um mundo de conflitos dentro de nossa casa trazidos pelos vendavais eletrônicos.

Uma obra que, com paciência e perseverança, pode frutificar e amadurecer ecologicamente os frutos dos amores e desamores dos pais modernos.

Uma obra aberta, otimista, fundamentada na convicção do autor de que atitudes atenciosas, amorosas e firmes no relacionamento entre pais e filhos adolescentes são determinantes para o equilíbrio na maturidade, como bem assevera o editor brasileiro na primeira orelha do livro.

Um livro de cabeceira para pais e mães, padrastos, madrastas, educadores, lideres comunitários, adultos em geral.

João Nicolau Carvalho, professor, pai e avô*.