Série M&C 09 - Modelagem neurocognitiva: a arte e a ciência da captura do invisível

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seg, 01/08/2005

Série Explorações Mente e Cérebro

Você já teve a curiosidade de saber porque motivo os nossos olhos se movem enquanto nós pensamos? Por que algumas pessoas têm mais problemas em visualizar do que outras? Olhando para o modelo da PNL sobre pistas visuais de acesso, nunca lhe ocorreu que existem três posições dos olhos para a modalidade auditiva e apenas uma para a cinestésica? Para onde os olhos se movem nas pistas visuais de acesso das representações motora, tátil e emocional? Nós temos uma construção visual, uma construção auditiva, mas onde está a construção cinestésica? Você já percebeu que há pessoas que se lembram visualmente do lugar onde elas supostamente constroem as imagens visuais? Por que as pessoas ainda conseguem visualizar quando os seus olhos estão na posição cinestésica? Por que parece universal o visual estar sempre para cima e o cinestésico para baixo? Você sabia que se você se ver (dissociado) numa memória visual, isto não é uma memória – é uma construção visual? O que realmente revelam os padrões do movimento dos olhos sobre os seus processos cognitivos? Se questões como essas já lhe atormentaram no passado, ou a inabilidade para respondê-las realmente o fez parar de usar os padrões oculares como uma modalidade de calibração, você não está sozinho.

Milhares de Practitioners da PNL no mundo já viram a lógica que está por trás do uso dos padrões de acesso visual, entretanto, a grande quantidade de inconsistências inexplicáveis e contra-exemplos conduz para uma confusão massiva. O que era a semente de um dos mais poderosos indicadores da atividade cognitiva disponível para nós, morreu antes de se achar água no poço. Os olhos são a janela do cérebro e da sua atividade. Apesar da PNL ter começado a rastrear os padrões observáveis, o modelo original não foi revisado nem atualizado com novas distinções por mais de 20 anos. O futuro do Modelo do Desempenho Humano a nível neurocognitivo depende de modelos de calibração precisos e previsíveis que revelem de uma outra maneira a invisível função cognitiva e biológica. O avanço de qualquer modelo como o modelo das pistas de acesso visual, depende das pessoas que classificam a diferença – pessoas que fazem distinções altamente refinadas em face de ruidosos contra-exemplos, e não daquelas que de boa vontade aceitam a generalização da sujeira de um modelo estático.

Construindo a fundação correta

Na PNL nós ensinamos aos Practitioners prestar atenção nos padrões. Esses padrões surgem principalmente sob duas amplas categorias. A primeira é aquele padrão que reocorre no "tempo". A segunda categoria apresenta os padrões correlativos entre a linguagem e o comportamento como os movimento dos olhos e os gestos. O problema da compreensão das pistas de acesso visuais e sua relação com as funções do cérebro é que aqueles padrões correlativos necessários para revelar esta conexão foram incapazes de serem rastreados vinte anos atrás. Assim, nós confiamos nos relacionamentos entre a linguagem e o movimento dos olhos. Qualquer um que tenha rastreado de perto esses padrões pode ter observado um problema básico: a velocidade na qual os padrões da varredura visual ocorrem são numa escala de tempo muito mais rápida do que a velocidade na qual a sua linguagem descreve as suas representações mentais internas. Como resultado dessa grande diferença na escala do tempo, não é possível para o atual modelo de pistas de acesso visual nos dar uma representação precisa da atividade cognitiva. Entretanto, os últimos 10 anos de formação de imagens cerebrais de alta tecnologia ao lado dos 100 anos da velha fundação da citoarquitetônica nos deram uma base suficientemente sólida para entender porque os olhos se movem quando nós pensamos e, essencialmente, revisar pensamentos anteriores sobre os padrões da varredura visual. Em resumo, a solução para o problema é rastrear não somente a correlação entre a linguagem, os gestos e o movimento dos olhos, mas também a correlação entre estes movimentos dos olhos e a ativação cerebral localizada que os auxilia. É estudando essa ativação cerebral localizada que revela as pistas de quais as áreas do cérebro que estão sendo usadas. Agora vamos começar a responder algumas das questões.

Resolvendo o mistério do movimento dos olhos

Por que muitas pessoas têm problemas na visualização e algumas até acreditam que não visualizam nada? Visualizar exige uma grande quantidade de energia cerebral. O cérebro humano pesando cerca de 1 quilo e meio, utiliza entre 20 a 25% de todo suprimento de sangue do nosso corpo para nutrir eficientemente as nossas mais de 100 bilhões de células cerebrais com oxigênio e nutrientes. De todos os campos corticais auxiliando a coleta e a representação dos dados sensoriais, o córtex visual necessita mais oxigênio e fluxo sanguíneo do que qualquer outro. Enquanto um estímulo tátil só leva 16 milésimos de segundos para chegar à base do cérebro, um estímulo auditivo leva o dobro disto e algo como 70 milésimos de segundos para montar uma imagem visual. Qualquer imagem visual que nós montamos desvanece e precisa ser revigorada a cada 250 milésimos de segundos. Isso permite que os nossos olhos inspecionem uma cena visual externa sem ter uma pós-imagem cada vez que nós movemos os olhos. Isso faz o "ver" muito eficiente, mas a visualização muito difícil, já que nós usamos essencialmente os mesmos caminhos corticais. Mais simples, a visualização, o ato de fazer e manter representações visuais no córtex visual, é um trabalho pesado e exige muita prática. Como alguns de vocês podem ter observado, muitas das nossas técnicas efetivas de mudança exigem uma capacidade para visualizar altamente refinada a fim de ser efetiva.

O que causa o movimento dos olhos quando pensamos?

Isso é uma área altamente complicada que eu irei simplificar com o propósito de assentar uma fundação sólida na qual um modelo confiável dos padrões de varredura dos olhos pode ser construído. Os movimentos dos nossos olhos são parte de uma sinergia funcional – para onde os nossos olhos se movem, nossa cabeça segue. Por essa razão, o próprio movimento dos olhos somente conta uma parte da história do funcionamento cognitivo interno. Nós também temos que entender o que acontece fisiologicamente no nosso cérebro quando a nossa cabeça se move. A coordenação do olho, da cabeça e dos movimentos da mão está sob controle de um área da base do cérebro chamada de calículos superior. Essa estrutura do cérebro possui um mapa espacial da atividade visual, auditiva, cinestésica (somatosensorial) e motora, pois assim todos esse sentidos podem ser coordenados juntos no espaço. Essa é a parte do cérebro sem a qual você não poderia matar um mosquito que acabou de lhe morder a perna. Esse sistema de rastreamento espacial permite que a sua mão se mova na direção ao mosquito se a sua presença foi captada pelo seu sentido auditivo (o zumbido das asas), pelo nosso sentido visual ou pelo nosso sentido tátil. Essa e outras funções cerebrais correlacionadas são também responsáveis pela reconstrução do mundo externo como uma representação interna. Isso nos permite reproduzir este mundo numa representação precisa, centrada no corpo e no espaço. Enquanto essa representação interna reconstrói o mundo externo, o movimento dos nossos dois olhos ajuda a ativar a área cortical correta por meio do sistema vestibular bem como manter a locação espacial da representação por meio dos córtices pré-frontal visuoperietal. O córtex pré-frontal atua como uma tela de cinema permitindo a imagem visual armazenada ser projetada a partir do córtex visual. O córtex parietal mantém a representação espacial de toda a imagem e assim, os nossos olhos e a cabeça podem se mover em torno desta imagem enquanto a imagem permanece estacionária nas coordenadas centradas do corpo. Esse processo somente acontece depois de termos acessado a imagem com o auxilio de um rápido movimento do olho. Esse movimento do olho ativa o sistema vestibular que move a cabeça para certas posições ideais e assim, o fluxo sanguíneo e de oxigênio pode ser mantido na parte do cérebro que está sendo ativada. Isso significa que quando nós olhamos para cima a fim de visualizar, aumenta o fluxo sanguíneo ideal em direção a parte de trás da nossa cabeça devido as propriedades físicas da gravidade e que mantém um nível mais elevado de fluxo sanguíneo na região e de oxigênio no córtex visual que está localizado lá. Esse mesmo relacionamento pode ser encontrado em todas as áreas sensoriais. E o entendimento disso pode nos ajudar não somente a responder todas as questões expostas no inicio desse artigo, mas também nos ajudar a construir um modelo de calibração altamente previsível com o qual podemos rastrear o funcionamento cognitivo.

Tudo isso é apenas um pedacinho. Devido a complexidade desse material e os limites do espaço, esse artigo servirá como uma introdução e base para o próximo artigo sobre a Modelagem e a Engenharia do Desenvolvimento Humano e o Modelo da Pista de Ativação do Campo Cortical ("CFAC"). No próximo artigo (parte X) nós iremos esclarecer mais os mistérios do movimento dos olhos e começar a discutir como podemos usar esse conhecimento para modelar o óbvio indefinível.

Artigo publicado na revista Anchor Point de novembro de 1996.
Tradução publicada no www.golfinho.com.br em AGO/2005

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