CAPÍTULO I

ESTRUTURA DE OBSERVAÇÃO

1.1. Introdução

Enquanto uma multidão se reunia em torno do muro de Berlim, em uma festa que se tornaria um dos eventos históricos de nossa década, alguém num nostálgico monólogo refletia:

"Nós que nascemos antes de 1945, nascemos antes da televisão, da vacina sabin, antes da comida congelada, da fralda descartável, do xerox, do plástico, das lentes de contato e da pílula. Nós nascemos antes do radar, dos cartões de crédito, fissão de átomos, raio laser e canetas esferográficas. Antes das máquinas de lavar pratos, secadoras de roupas, cobertores elétricos, ar condicionado e antes do homem ir à lua.

Nós casávamos primeiro e só depois íamos morar juntos. Gente estranha não?

Nós nascemos antes dos direitos do "gays", da mulher que trabalha dentro e fora de casa, da produção independente de filhos, dos berçários, da terapia de grupo, dos SPAs e dos Flats.

Nunca tínhamos ouvido falar em fita cassete, vídeo cassete, máquinas de escrever elétrica, vídeos games, computadores, danoninho e rapazes de brinco ..."

A velocidade das mudanças ocorridas a partir da segunda metade deste século leva a crer que os próximos dez anos ainda surpreenderão e muito no que diz respeito à descobertas e inovações.

Antes do ano 2000 presenciaremos transformações e mudanças de paradigmas em todos os campos de conhecimento humano, científico, tecnológico, social, econômico e político. Está previsto que as transformações e avanços tecnológicos e sociais desta década ocorrerão em ritmo dez vezes maiores que da década passada.

1.2. Tendências

Neste contexto de aceleração do processo de mudança, perfilam-se como tendências:

A nível de ciência, a transformação de uma visão cartesiana, mecânica, estruturalista para uma visão quântica, holística, ecológica. Todas as ciências serão rescritas a partir desta verdade científica.

Na tecnologia, a passagem da sociedade industrial ou de consumo para a sociedade da informação ou do conhecimento. Uma sociedade baseada em valores informacionais e não materiais, resultante da combinação de telecomunicações e informática.

A nível de economia, um processo de globalização e internacionalização se configura estabelecendo-se um novo paradigma de interação competitiva a nível mundial, em bases tecnológicas, eliminando-se as tradicionais vantagens comparativas assentadas no uso de fatores abundantes como mão-de-obra e matéria-prima.

A nível sócio-político, observa-se um processo crescente de democratização pondo por terra, gradativamente, os regimes autocráticos e autoritários.

Já, a nível estrutural, a organização piramidal, cujo poder e comunicação flui do topo para a base, está sendo substituído por um modelo de rede, onde cada indivíduo está no centro e a equalização é a informação.

No nível empresarial, como conseqüência dos níveis anteriores, grandes transformações estão ocorrendo, fazendo surgir um estilo de administração em rede, com valores baseados na informalidade e na igualdade, com uma estrutura interdisciplinar e o estilo comunicacional, contrapondo-se ao da tecnoburocracia, será horizontal, lateral e intensivo.

A nível de trabalho, o mesmo deixará de ser associado a tarefas rotineiras e exaustivas, uma obrigação social fundada na obediência, na pontualidade, na burocracia e na hierarquia, para assumir um papel mais agradável associado à inovação, à criatividade, à flexibilidade e à negociabilidade.

1.3. O Desafio da Mudança: Forças & Formas

Trabalhos de monitoração do presente e de previsão de futuro, como o de Alvin Toffler, Marilyn Ferguson, John Naisbitt e Patrícia Aburdene, permitem prever o que vai acontecer ao longo desta década. A pergunta que surge então é: "Como ocorrerão tais mudanças? Qual é o processo?"

O "Modelo GEO", desenvolvido por Leland Russel, nos USA, objetiva a visualização e compreensão da "forças" e "formas" de mudança, Quadro 1.

As três principais forças de mudança ambiental são: Globalização, energização e a orquestração.

- GLOBALIZAÇÃO é a crescente e acelerada internacionalização dos negócios e seus impactos nas economias nacionais em todo o mundo. Impactando também nos hábitos, valores, emoções e comportamento das pessoas.

- ENERGIZAÇÃO é o processo liberalizante pelo qual passam o mundo e as pessoas, em que hierarquias são contestadas, o conceito de que a empresa espera que todos se sacrifiquem é abandonado e a responsabilidade por resultados é vista, naturalmente, como função de todos e não de um só. O símbolo da energização é a pirâmide organizacional invertida.

- ORQUESTRAÇÃO é o processo de aprendizagem exigido de um país, uma organização ou pessoa, para aproveitamento, de forma correta e positiva, das tecnologias de que dispõe, de forma natural e planejada. É o produto de interação homem-tecnologia. E as formas de mudanças, quer a nível de sociedade, de organização ou de ser humano, são pontos que demandam profundas alterações na forma de pensar e agir. Exigem na verdade, uma profunda mudança de mentalidade. São elas:

- APRENDIZAGEM na prática de um pensamento estratégico, onde o conhecimento e visão ampla dos fatos e das circunstâncias aumenta a capacidade de ver e entender o que acontece em volta. Implica na busca intensa e contínua do auto-aperfeiçoamento e no aumento da capacidade pessoal de processamento e armazenamento de informações.

- INTERAÇÃO objetiva a ampliação da capacidade de ação sinérgica, com o mínimo de obstáculos, com outros grupos, organizações, sociedades ou pessoas. Pressupõe a busca voluntária de um maior relacionamento com terceiros, formação de alianças e o estabelecimento de parcerias em todos os níveis.

- EXPANSÃO está direcionada para o melhor uso de recursos disponíveis, sejam eles a sua capacidade ou capital. Implica em aumento de capacidade, em ampliação, em maximização.

As forças e formas quando analisadas em conjunto permitem identificar e avaliar necessidades de realinhamento cultural. Para implantar uma nova cultura, garantindo readaptação da empresa a um novo contexto, totalmente diverso do vivido até então, é necessário expandir o potencial da força de trabalho. Mais do que simplesmente treinar, desenvolver ou remunerar, é imprescindível reeducar.

Russel compôs um quadro, Quadro 1, que reúne forças e formas de mudanças em uma matriz, denominada "Matriz de Mudanças". Cada um dos cruzamentos de seus vetores, resulta em um paradigma, Quadros 2. Estes paradigmas podem ser traduzidos em modelos comportamentais a serem seguidos dentro das organizações, Quadro 3.

1.4. Tendências Nacionais

Dentro deste cenário de mudanças, no contexto nacional são delineadas as seguintes tendências:

A nível sócio-político, a transição de um modelo tecnocrata, autoritário e centralizador, para um modelo democrata e descentralizado.

Na economia, a retomada do desenvolvimento em novas bases com o fim do modelo de substituição das importações, passando a utilizar-se das forças de mercado para induzir a modernização tecnológica. O aperfeiçoamento das formas de organização da produção e da gestão do trabalho, redefinindo o papel do estado, agora mais voltado para a regulamentação do processo produtivo, e retirando-se gradativamente, dando lugar à iniciativa privada. Busca-se a eliminação da defasagem tecnológica enquadrando-se ao novo paradigma de integração competitiva a nível mundial.

A nível empresarial, a gestão organizacional terá que saltar da dimensão puramente econômica, com preocupação com métodos de produção, racionalidade, normalização, burocratização, para um alargamento de horizonte mais político, mais negocial e mais participativo.

Nas relações de trabalho, observa-se uma participação cada vez maior do trabalhador nas decisões sobre a organização de seu trabalho, desburocratizando e automatizando as atividades de rotina, permitindo às pessoas o uso sempre crescente da sua criatividade, inovação e senso crítico.

A nível cultural, o convívio com o desenvolvimento acelerado da tecnologia, novos hábitos incorporados à sociedade, novos valores e necessidades individuais, alteração dos valores éticos das organizações, alargamento das áreas de conhecimento, gerando demanda por novas competências, habilidades e atitudes e novos desafios de vida.

1.5. Inovação Tecnológica

A observação dos cenários permeados por contínua e acelerada mudança é possível extrair a tecnologia como o "elemento motriz".

Se tecnologia é agente de inúmeras inovações atualmente, é necessário antes de abordar inovação tecnológica, conceituar inovação.

"Uma descoberta consiste em ver o que todos viram e pensar no que ninguém pensou." (Albert Szent-Gyorgyi).

Pensar no que ninguém pensou pode criar um novo produto ou um novo processo e gerar descontinuidade no sistema vigente, alterando procedimentos e até mesmo comportamentos.

O processo de inovação tem um de seus eixos sustentado pelo "estado atual do conhecimento humano", correndo em paralelo, a "utilização econômica e social" deste conhecimento.

Dois caminhos conduzem à concepção de novos projetos: constatação de uma tecnologia viável ou a identificação de uma demanda potencial. Atividades de pesquisa e desenvolvimento apoiadas por informações técnicas já disponíveis, fomentam o processo inventivo, gerando soluções que, com ou sem adaptação, colocam novos produtos nos mercados. (Daude, B.).

Todo este encadeamento lógico exige "eco" nos mercados consumidores e precisa ter "trânsito assegurado pela emoção humana" dentro das organizações, para obter êxito.

Cada uma das pessoas que se reúnem em torno de um projeto, traz consigo seu sistema de crenças, se posiciona de modo específico, construindo uma representação interna própria para a inovação.

Como harmonizar este rico conjunto de características em um projeto, ou antes, em torno de uma idéia, levando em conta que o tempo é um recurso não renovável e absolutamente precioso no caso de inovação. Como trabalhar as relações interpessoais de modo a otimizar o processo de inovação?

No momento em que a globalização da economia e a internacionalização dos negócios é fato estabelecido, é o momento que mais se requer, tanto a nível individual, na família ou nas organizações, espaço para expressão dos valores individuais e locais.

No momento em que passamos para a sociedade do conhecimento, onde a informação faz a diferença na tomada de decisão as empresas de telecomunicação se colocam como o grande agente deste macro processo de mudança de operação deste planeta.

Se uma indústria metal-mecânica consegue ainda operar num regime taylorista, um empresa de comunicação não gerência somente sistemas, ela gerencia a inteligência contida nestes sistemas.

O uso de tecnologias avançadas torna-se hoje a força motriz da dinamização das telecomunicações, se considerados os próprios valores que guiam a ação de nossa sociedade.

Os sistemas digitais se compactam por efeito da microminiaturização e integração da eletrônica, reduzindo em tamanho e custos, mas ganhando em eficiência e confiabilidade. Tais avanços da tecnologia se refletem, necessariamente, na estrutura funcional da empresa, essas modificações no desempenho organizacional alteram as condições de trabalho. Extinguem reformulam e criam novas atividades, fazendo surgir novos postos de trabalho com características particulares de ambiente e condições de realização, que geram por sua vez novos perfis profissionais, demandando conhecimentos e habilidades específicas.

Além disto a tecnologia digital, por permitir a incorporação de inteligência aos equipamentos, estará facilitando e até mesmo promovendo, em todas as áreas empresariais, a automação dos processos, a monitoração à distância, a centralização dos controles, modificando a estrutura do poder nas organizações e provocando conseqüentemente, a redefinição da estrutura do trabalho e das relações do emprego.

Enquanto uma empresa de comunicação contribui de modo decisivo, talvez como o grande agente de globalização conta com profissionais de perfil técnico elevado, pessoas que enquanto ligado à informação, reconhecendo sua importância, requer cada vez mais espaço para a expressão de seus valores individuais.

São grupos que não aceitam a autoridade só pela autoridade, reconhecem a autoridade pelo conhecimento (um técnico com maior conhecimento) e querem participar das decisões que os afetam.

CONCLUSÃO

A matriz GEO, foi colocada como um elemento estático de observação, onde as tendências definem os movimentos, bem como sua direção e resultados esperados. Esta estrutura garantiu os elementos de observação necessários durante a realização do trabalho de tese.