CAPÍTULO II

ANÁLISE DO SETOR TÊXTIL

2.1. Introdução

Como já foi colocado anteriormente, o setor selecionado para observação de um processo específico de inovação tecnológica, foi o têxtil. Antes da pesquisa se concentrar em uma ilha de inovação, ela é conduzida, através de um estudo bibliográfico, a analisar o setor têxtil.

A pesquisa nesta fase do trabalhou procurou ser o mais exaustiva possível, estudando todos os documentos emitidos pelo setor durante a década de 80.

Como orientação metodológica foi seguida a "Analise de la Filiere" (Uma versão preparada pelo prof. Bruno Kopptike - UFSC), para o estudo do setor.

No momento que se partiu para o campo, entrevistando executivos do setor, para uma complementação dos dados já reunidos e para formular as primeiras conclusões, procurou-se seguir as referências colocadas por Michel Porter, no seu modelo de forças competitivas.

Estudar com profundidade para garantir uma compreensão precisa do setor onde se pretende fazer a pesquisa é relevante. É como formar uma base sólida para então caminhar sobre ela.

2.2. Análise do Setor Têxtil

Procurando analisar o setor têxtil no Brasil, verifica-se que indústria têxtil brasileira tem uma participação histórica e decisiva no processo de desenvolvimento industrial do País, porquanto foi um dos primeiros setores industriais a ser implantado, remontando aos tempos do Império.

O setor ESTRUTURA-SE com empresas espalhadas por todos os recantos do País, gerando milhões de empregos, sejam eles diretos, na fase de produção fabril, ou indiretos, na produção de matérias-primas e vários outros insumos. Destaca-se como estimulador da criação de outras indústrias, entre as quais de máquinas têxteis, de fibras artificiais e sintéticas, de embalagens, de drogas e anilinas. Não se pode omitir a imensa massa trabalhadora, existente na produção de fibras naturais, na lavoura e na pecuária ovina.

Embora indefinido o número de trabalhadores diretamente agregados ao processo produtivo têxtil, estima-se em aproximadamente, um milhão de pessoas.

Seu desempenho no comércio exterior, onde compete com países de maior tradição, proporcionando uma geração líquida de divisas das mais significativas de todo o setor industrial, cerca de um bilhão de dólares anuais, realça ainda mais sua importância no cenário econômico nacional. Para ser ainda mais precisa, esta informação foi conferida junto ao Sindicato Patronal em julho de 1995, exportamos m 1993 - informação mais recente que se tem no setor, US$ 1.346.766.000,00, de produtos têxteis. A produção correspondente em toneladas é de 1.050.000, cuja participação do algodão enquanto matéria prima foi de 830.000 toneladas.

O Setor Têxtil é formado por cerca de 5.000 empresas, das quais apenas 11% são consideradas de grande porte e 21% de pequeno e médio porte. As microempresas, que atingem 68% do total, representam a grande maioria do setor.

No que concerne à propriedade do capital, o Setor Têxtil caracteriza-se por ser constituído por empresas de capital nacional, pois 91% delas pertence a brasileiros e apenas 9% são de estrangeiros.

O Setor da Confecção é formado por cerca de 11.000 empresas, a maioria micro e pequenas empresas do chamado setor informal.

O setor têxtil, bastante diversificado, compreende diferentes ramos de especialização: Fiação, Tecelagem, Malharia, Acabamento, Tricotagem, Artefatos de Passamanaria, Tecidos Elásticos, Fitas, Filós, Rendas, Bordados e Tecidos Especiais.

Para atender a demanda do mercado no que diz respeito a máquinas, seja para reposição ou expansão do setor, o Brasil desenvolveu uma indústria de máquinas, equipamentos e acessórios têxteis e de confecção, com mais de 60 anos de existência, operando com tecnologia própria ou procedente do exterior.

Tem-se atraído efetivamente, um grande número de fabricantes de máquinas têxteis para o Brasil. Alguns dos principais construtores de equipamentos do mundo, encontram-se atuando no mercado brasileiro. Cerca de 120 fabricantes empregam 5.000 pessoas neste setor.

No que tange aos recursos humanos, a indústria têxtil é o quinto maior empregador de mão-de-obra na indústria de transformação, sendo que este percentual sobe para 15% quando se agrega o setor de confecção.

O estudo de mão-de-obra permite identificar quatro categorias especializadas e ligadas diretamente a produção, manutenção, supervisão e a trabalhos técnicos específicos.

Na qualificação dos recursos humanos, o Brasil já possui um sistema nacional de ensino têxtil e da confecção, contando com uma bem aparelhada rede de unidades que atuam nas diferentes regiões do país, tanto na formação, como na especialização de mão-de-obra. A qualificação, quando se trata do pessoal a nível gerencial, apresenta outros dados. De toda a população empregada no setor, apenas 0,27% tem curso superior.

Quanto ao COMPORTAMENTO o setor têxtil se caracteriza por uma forte heterogeneidade estrutural, expressão das possibilidades de operação de plantas industriais com distintos níveis tecnológicos, bem como da natureza do processo produtivo.

Análises efetuadas, com base em Relatórios Contábeis do exercício de 1986, pela Revista Visão (QUEM É QUEM), revelam que, em termos de participação no lucro total da 1000 maiores empresas, uma fatia de 5% é do Setor Têxtil e Vestuário.

Pela mesma análise verifica-se que no subsetor Fiação e Tecelagem, em termos de patrimônio líquido, as maiores empresas de Santa Catarina representam juntas, 6,3% do total.

Da mesma forma, no subsetor das empresas produtoras de artigos de vestuário e acessórios, as maiores do Estado representam 13% do total nacional.

A presença maciça de pequenas e médias empresas no Setor Têxtil é outra característica deste setor. Na área têxtil, como um todo, esta participação atinge 90% do número de empresas; no segmento de fiação e tecelagem esta participação é de 83% e na malharia de 96%.

A partir deste período, anos 80, destaca-se a participação da "Facção", e de filiais de confecção, junto às regiões de farta oferta de mão-de-obra.

Convém ressaltar que algumas fases do processo têxtil, apenas grande e médias empresas detém, entre elas está o enobrecimento de tecidos e malhas, que exige elevados investimentos e grande conhecimento técnico.

Os mecanismos de concorrência mais adotados pela empresas relaciona-se predominantemente com as estratégias de comercialização (exportação, regionalização, especialização) e com a integração vertical das atividades, e menos com a adoção agressiva de inovações técnicas.

Os gastos com pesquisa e desenvolvimento realizados pelas empresas do setor têxtil, são reduzidos quando comparados com os realizados por indústrias de outros setores. Isto significa que as inovações tecnológicas na área têxtil são de natureza incremental (não alteram fundamentalmente o processo de fabricação), e são geradas predominantemente em outros setores industriais.

A microeletrônica possui, atualmente, um amplo espectro de aplicação em todos os setores industriais, nos mais diversos níveis, e na área têxtil propicia um aumento no controle sobre o processo de produção, devido a sua maior capacidade de gerar, armazenar e analisar informações.

Pode estar sendo inaugurado, definitivamente, um novo estágio de mecanização na área têxtil, onde o próprio equipamento detecta o erro, procede a correção, registra o fenômeno e dá continuidade ao processo. Estudos realizados pelo SENAI, no segundo semestre de 86, com base na inferência estatística, através de um grupo de empresas do setor têxtil nacional e tomando como parâmetros inovações tecnológicas, constatou que as empresas mais modernizadas encontram-se no Ceará. Isto decorre da modernização de suas fiações.

Verifica-se também uma distribuição mais uniforme em Santa Catarina, onde empresas estão se inovando.

Entre os motivos que conduziram a implantação das inovações pesquisadas, os mais apontados foram: aumento da produtividade, melhoria da qualidade dos produtos e redução de custos de produção, sendo que o segundo destaca-se como relevante na implantação de dispositivos microeletrônicos.

As empresas apontaram também os motivos restritivos da difusão de tecnologia no setor: alto custo, dificuldades de importação de equipamentos e peças de reposição e oferta limitada de equipamentos no mercado interno.

Não foi observada a existência exclusiva de inovação em nenhuma empresa, ou seja, as novas tecnologias convivem no mesmo espaço de produção com a tecnologia convencional.

Se observado quanto ao seu DESEMPENHO, o setor têxtil representa o segundo item na pauta do comércio internacional, tendo atingido cifras de US$ 120 bilhões, excetuando-se o comércio entre países do leste europeu.

O Brasil participa neste mercado com uma fatia de aproximadamente 1%, algo em torno de US$ 1,3 bilhões. As quinhentas maiores empresas do setor exportam 20 a 25% de sua produção, sendo que o restante é vendido no mercado interno, cujo maior consumidor é a região sudeste.

Ao focalizar exclusivamente o setor têxtil vestuário, observa-se uma elevada taxa de crescimento das pequenas e microempresas, especialmente nos últimos cinco anos, concentrando-se na confecção.

Embora os dados sejam escassos, estima-se que 80% do total destas empresas seja de pequeno porte, sendo que 40 a 50% trabalham informalmente, configurando a chamada economia informal.

A proliferação das pequenas empresas, no setor da confecção, tem como motivo principal o menor investimento necessário, bem como a tecnologia de amplo domínio, se comparado com o sub-setor de fiação e tecelagem.

Na composição média dos custos de uma peça de vestuário, do setor em estudo, pode-se citar como itens principais: Algodão (30 a 32%), produtos químicos e corantes (6 a 7%) e mão de obra direta, com seus encargos (30%).

Observam-se como TENDÊNCIAS no setor, ou pelo menos apontadas como grandes necessidades do setor: a renovação do parque fabril, pois a obsolescência das máquinas e equipamentos da Indústria Têxtil Nacional vem sendo apontada desde estudos realizados na década de 50.

A atitude mais comum tem sido, entretanto, a substituição dos equipamentos mais antigos, que já não produziam retorno econômico, por outros, que na maioria das vezes não representavam o "estado da arte" tecnológico.

Aumentar as exportações é outra tendência no setor o que tem estreito relacionamento com seus níveis de qualidade e custos de produção. Estes dependem enormemente, no Setor Têxtil, das máquinas e equipamentos utilizados.

O estudo dos documentos (Vide referências bibliográficas 12, 14, 16 a 19) de onde foram extraídas as informações sobre: estrutura, comportamento, desempenho e tendências observadas no setor têxtil, traz a tona inúmeros questionamentos, destacando-se:

- "Como uma indústria com características tão variadas pode garantir qualidade e produtividade, mantendo-se competitiva se não através de um parque fabril atualizado tecnologicamente e por uma operação suportada por um adequado gerenciamento?".

Os dirigentes do setor se posicionaram claramente, redigindo em 1984, em conjunto com SENAI e CETIQT, um documento que representava, na época de sua elaboração, "um esforço em prol do desenvolvimento de uma política industrial, voltada para a expansão e atualização dos setores têxteis e da confecção, em termos de equipamentos, matéria prima e recursos humanos".

Cada um dos sub-setores procurou quantificar necessidade de máquinas, recursos financeiros e mão de obra, prevendo ainda o consumo de matéria prima até o ano 2000, não deixando de destacar a necessidade de capacitação gerencial.

A edição de 1985 do Congresso Nacional de Automação Industrial, teve como tema "Automação e Sociedade". Neste evento houve uma seção voltada à indústria têxtil, apresentando um estudo conjunto da "São Paulo Alpargatas" e "Santista", denominado: "Automação na Indústria Têxtil". O trabalho contém propostas alternativas de automação, bem como enfatiza a necessidade de gerenciamento adequado das inovações.

Em 1987 o SENAI elaborou um documento, abordando as características do "processo de fabricação, evolução e difusão das inovações técnicas, configurações do emprego e estrutura ocupacional na indústria têxtil". Contém dados indicativos da difusão tecnológica e da qualificação profissional em contexto de mudança técnica e avalia o SENAI quanto ao atendimento ao setor têxtil.

Em 1988, no CONTEC, realizado em Blumenau, apresentou-se um trabalho intitulado: " A Indústria de Confecção Nacional - Situação Atual e Caminhos para o Futuro", onde propunha-se como "solução lógica e urgente", para crises do setor, "uma política industrial de investimentos em avanços tecnológicos e na geração de empregos, que pudesse atender a demanda latente do mercado nacional".

Mais uma vez os avanços tecnológicos são citados, denunciando o emergente esforço empresarial, na implementação das novas tecnologias.

O Instituto de Economia Industrial da Universidade Federal do Rio de Janeiro, participa do processo de inovação, com diagnósticos, elaborando um questionário, sob encomenda do SENAI, denominado: "Percepção de futuro de especialistas sobre a difusão de inovações e transformações no perfil de qualificação da mão de obra". Trata-se de um novo esforço em prol da adequação do processo de inovação tecnológica, no país.

Se analisados documentos como "Manufatura de classe mundial no Brasil" percebe-se que "qualidade e tecnologia" são colocadas como "questões e Preocupações administrativas".

A análise do setor, efetuada segundo a metodologia de "Analise de la Filiere", exigiu extensa revisão bibliográfica, estudando documentos emitidos pela indústria têxtil brasileira.

A revisão bibliográfica, no seu início voltou-se a "radiografar" o setor, procurando identificar, nos documentos recentes o posicionamento de seus atores frente a inovação tecnológica.

Sentiu-se necessidade nesta fase de obter elementos mais dinâmicos, para alimentar, com mais movimento, uma versão inicial de um modelo.

2.3. Dinâmica Concorrencial do Setor Têxtil

A pesquisa bibliográfica foi seguida por "protocolos verbais", onde executivos do setor foram entrevistados e forneceram novos elementos, agora sobre a dinâmica concorrencial do setor.

A identificação das forças competitivas revela que indústria têxtil opera entre duas frentes com elevado poder de barganha: de um lado um mercado altamente disputado, abastecido por produtos com ciclo de vida muito pequenos , alguns de dois meses apenas; e do outro um conjunto de fornecedores que exerce pressão não menos elevada.

É de fundamental importância para o setor, o abastecimento de matérias primas e de insumos para a produção. Nesta abordagem o estudo do suprimento é feito por blocos, permitindo a análise individual do poder de barganha de cada grupo de fornecedores.

ALGODÃO - É a principal matéria prima das indústrias brasileiras, com um consumo anual de 555.000 toneladas. Representa cerca de 30% do custo total do produto acabado.

Comprimento e resistência da fibra, cor e grau de pureza, são atributos que determinam a qualidade da matéria prima, classificando os fornecedores.

Para apoiar o produtor de algodão existem, no Brasil, institutos como o IAC - Instituto Agrícola de Campinas e EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agrícola.

Outra fonte de matéria prima é o mercado externo. Seu acesso é restrito e as compras sujeitas à taxações. O exportador é beneficiado pelo sistema "Draw Back". O IPT de São Paulo fornece relatórios a cerca do consumo de matéria prima, nos produtos exportados, determinando o volume a ser importado. As importações tem que se submeter às políticas aduaneiras.

Na contínua busca do adequado abastecimento algumas empresas estendem suas atividades até o plantio do algodão.

Com a atualização tecnológica dos processos, aumentando a velocidade imprimida nos equipamentos de fiação, tecelagem e malharia, aumentam as exigências em termos de qualidade da matéria prima.

Existe um equilíbrio entre oferta e demanda de algodão, tanto no Brasil, como no mercado externo. Internamente, o governo interfere, através de políticas agrícolas, nos preços praticados.

Outra interferência é das cooperativas, que tem maior poder de barganha, segurando o produto e "forçando" os preços.

Pelo exposto conclui-se que as empresa compradoras sofrem inúmeras pressões, ao buscar a matéria prima, não empregando políticas de estoque mínimo, pois o risco associado é elevado.

Gerentes de departamentos de compra tem apontado como alternativas: monitoramento da safra por parte do comprador e o apoio por tecnologia de informação, tais como disponibilidades de terminais de computador que os coloque em contato com as bolsas de Nova York e Chicago. A informação representa "diferencial competitivo", desde o abastecimento do processo produtivo, com matéria prima.

CORANTES E PRODUTOS QUÍMICOS - São insumos muito importantes para a indústria têxtil, os corantes e produtos químicos. Um exemplo: peróxido de hidrogênio, usado em alvejamento das fibras de algodão.

O processo de fabricação destes insumos exige grandes investimentos e o domínio de processos de química fina, o que reduz os fornecedores a pouca e grandes empresas transnacionais, acentuadamente as alemães.

Com relação aos produtos químicos o quadro é um pouco melhor, pois existem opções de fornecimento no mercado nacional.

EMBALAGENS - A indústria têxtil está sujeita aos papeleiros, que constituem um grupo fechado. Para minimizar o poder de barganha deste grupo de fornecedores, o setor tem buscado estabelecer novas relações "fornecedor-cliente", com o emprego de recursos disponíveis em ambientes que operam segundo as regras do "JIT".

EQUIPAMENTOS - Com relação a compra de equipamentos, observa-se a desatualização do parque fabril têxtil nacional. Poucos investimentos tem sido feito de 80 para cá. Isto tem reflexo direto na oferta de equipamentos pelo mercado nacional.

Ao recorrer ao mercado externo para a aquisição de equipamentos, o comprador brasileiro deve passar pelo crivo da SEI(Secretaria Especial de Informática do Ministério de Ciência e Tecnologia), INPI (instituto Nacional de Propriedade Industrial), SINDIMAQ (Sindicato de Fabricantes de Máquinas), ABINEE (Associação dos Fabricantes de materiais Elétricos e Eletrônicos), ABIMAQ (Associação de fabricantes de Máquinas), além dos órgãos governamentais reguladores e agenciadores de importação o BEFIEX e a carteira de câmbio do Banco do Brasil.

CONSUMIDOR

A situação econômica do País acarreta dificuldades para comercialização dos produtos do setor têxtil, da mesma forma que afeta outros setores. Surgem picos de demanda, intercalados de períodos de recessão, difíceis de administrar, quando o produto é sazonal. Existe o risco da formação de estoques de produtos acabados, na empresa, o que a coloca facilmente a mercê dos clientes.

O consumidor brasileiro, na sua grande maioria tem baixo poder aquisitivo, o que acaba privilegiando o setor informal.

Em se tratando de um produto destinado ao vestuário, a ser comercializado em um pais com dimensões continentais, os aspectos regionais, tais como clima e bio-tipo dos consumidores tem que ser levados em conta, na determinação das estratégias de marketing.

A falta de padronização, tal como uma norma da ABNT que forneça dimensões padrões para vestuário, geram dificuldades não só de produção, mas também de satisfação do consumidor.

O maior volume de comercialização dos produtos têxteis se dá no eixo Rio-São Paulo, parte de Minas Gerais e parte do Rio Grande do Sul.

Não só o mercado interno consome os produtos do setor têxtil nacional; muitos produtos são exportados. A exportação de têxteis brasileiros representam apenas 1% do movimento total mundial de têxteis. Mesmo assim movimenta um bilhão de dólares.

No mercado internacional o setor enfrenta forte concorrência de países como Paquistão, China e até dos "tigres asiáticos".

Para atender os clientes do mercado externo, o setor terá que se readaptar, para enfrentar novas situações concorrenciais geradas pela mudança do Mercado Comum Europeu, e a normalização ISO 9.000, imposta por este mercado.

E sem dúvida a palavra de ordem na relação com o cliente é "quick response".

Observando-se as interfaces fornecedor/cliente e empresa/cliente, pode-se identificar inúmeras maneiras de introduzir novas tecnologias, para melhorar sensivelmente a qualidade destas interfaces.

2.4. Setores Entrantes e Concorrência Interna

Devido à dinâmica de funcionamento do setor têxtil é quase impossível separar a observação dos setores entrantes da própria concorrência interna.

Mais de 50% da produção têxtil no Brasil, pode ser caracterizada como "informal". Este fenômeno se repete no resto do mundo, ocorrendo até mesmo na Europa, em países com a Espanha e Itália.

A produção denominada "informal" não ocorre em todas as fases do processo produtivo. Em etapas como fiação, tecelagem, malharia e acabamento, a concorrência se dá mais entre médias e grandes empresas. A partir do corte e, principalmente na confecção, coexistem grandes organizações, médias e pequenas empresas, com um sem número de micro empresas, na sua grande maioria na informalidade.

As pequenas e microempresas acabam "servindo-se" do esforço de desenvolvimento de produto/processo, efetuado pelas médias e grandes.

O esforço de desenvolvimento de novos produtos, reunidos nas mais diferentes etiquetas e em coleções, exige todo um trabalho de pesquisa, que requer viagens ao exterior. Na etapa de desenvolvimento de produto é empregada mão de obra "nobre", como gerente de produto e estilistas e requer o trabalho de especialistas em modelagem. Somente grandes e médias empresas podem manter departamentos de produto e de engenharia de produto. As demais "copiam" os que aquelas criaram.

Devido às dinâmicas flutuações da moda a que o produto de vestuário é submetido, sem contar com a sua sazonalidade, as empresas mais ágeis, normalmente as informais, levam vantagens competitivas.

Outro fator favorável à manutenção deste setor paralelo é o baixo poder aquisitivo da maioria dos brasileiros.

O mercado destas empresas "paralelas" era, tradicionalmente, o regional. Isto tem se alterado com a presença do "atravessador", figura que encontrou espaço para agir também no setor têxtil. Este elemento comercializa malha e tecido, principalmente saldos e produtos de qualidade inferior, abastecendo as confecções e colocando seus produtos acabados.

As grandes empresas funcionam como verdadeiros centros de treinamento, fornecendo mão de obra para este segmento paralelo.

A vulnerabilidade das grandes empresas reside exatamente no seu porte, que via de regra é sinônimo de pouca flexibilidade, perdendo em agilidade para pequenas e micros. Só o maciço investimento em tecnologia pode fazer com que as empresas "acertem o passo".

Competir com grandes, médias e pequenas empresa requer monitoração contínua da "concorrência", o que pode ser realizado num processo formal de "Administração da Concorrência".

Cada vez mais o tema converge para a "Qualidade de Gestão". A gestão de um negócio, ou parte dele, para ser atualizada, requer antes de mais nada, postura proativa, buscando identificar adequadamente as tendências que se configuram no meio ambiente, para com elas alinhar metas e objetivos.

2.5. Conclusões

Esta pesquisa bibliográfica, permitiu identificar junto a empresas do setor, a preocupação em capacitar seu quadro de gerentes em programas que tratem de questões tais como: "O gerente e o processo de mudanças". Mas cabe aqui destacar que esta preocupação é bastante limitada. O grande enfoque é a importação de novas tecnologias, e este vem muito antes do cuidado com aspectos gerenciais na acomodação destas tecnologias.

A etapa subsequente foi observar como transcorre um processo de assimilação de novas tecnologias, através de um estudo de caso onde as variáveis e os atores do processo puderam ser observados de perto.