CAPITULO VI

VALIDAÇÃO DA PROPOSTA

5.1. Introdução

Antes de se partir para a Comunidade Européia foi realizado um último estudo no Brasil, procurando identificar as propostas feitas por universidades para modelos de gestão da inovação tecnológica.

A Universidade Federal de São Paulo publicou uma coletânea sobre o tema que foi empregada como referência básica neste trabalho.

A USP com um Programa de Administração em Ciência e Tecnologia (PACTo), funcionando junto ao Instituto de Administração da Faculdade e Economia, Administração e Contabilidade e o Núcleo de Política e Gestão de Ciência e Tecnologia, pronuncia-se a cerca da ciência e tecnologia, da seguinte maneira:

" A ciência e a tecnologia formam a base do desenvolvimento econômico e social de uma nação. A criação, a adaptação e a aplicação de conhecimentos em prol do bem-estar da coletividade e da soberania nacional são processos que dependem do êxito das organizações nas quais se praticam pesquisa e desenvolvimento, visando à busca e ao emprego de novos conhecimentos, na contínua procura para estabelecer o melhor aproveitamento dos recursos mediante a exploração das descobertas científicas".

"Como pode ser alcançado este êxito? Basicamente de duas formas: em primeiro lugar, com a excelência técnica representada pelo talento dos pesquisadores; e em segundo, com a qualidade das soluções administrativas que devem oferecer condições ao pleno aproveitamento daquele talento".

"Entretanto administrar não é entravar, mas facilitar o atingimento dos objetivos."

Na coletânea autores como prof. Eduardo Vasconcelos e Jacques Marcovirtch discorrem sobre vários aspectos da administração do processo de inovação tecnológica, de onde foram extraídos vários pontos para a orientar a observação do perfil do "executivo facilitador", cuja presença nos processos de inovação tecnológica, fora identificada no estudo de caso.

Os estudos apresentados pela USP propõe a estrutura matricial como a adequada para o gerenciamento de equipes com perfil técnico, dando ênfase a questão de relacionamentos interpessoais, como um dos fatores críticos de sucesso em processos de inovação tecnológica.

O trabalho desenvolvido pelos autores, que dedica vários capítulos tratando o perfil do gerente técnico, faz extensa revisão de modelos empregados nos USA. Detém-se porém no perfil do gerente e da equipe técnica, por voltar-se mais à pesquisa e desenvolvimento, atividade que pode ser encontrada também em empresas privadas, a exemplo da EMBRACO, METAL LEVE, RHODIA dentre outras.

Este não é o caso de indústrias têxteis.

Novos trabalhos foram analisados no decorrer da pesquisa, procurando obter a visão de europeus. Buscou-se junto a pesquisadores franceses, da região de Grenoble, obter novos dados.

Os pesquisadores François Juillet e Chantal Schlecht, em uma passagem pelo SENAI forneceram documentos gerados na França, que novamente enfatizam a questão de relacionamentos pessoais no processo de inovação tecnológica. Vão além, colocam-na com a primeira a ser tratada no caso de transferência de tecnologia.

Aqui a questão já se aproxima do que pode ser observado no setor têxtil, que tradicionalmente "importa" tecnologias, inovando seus processos.

No estudo de caso realizado em uma malharia o que ficou muito evidente foi a participação de técnicos que apoiavam gerentes das áreas de produção, no momento da assimilação de uma nova tecnologia. Por deterem conhecimento específico a cerca da tecnologia importada, dão suporte aos gerentes, navegando nos diferentes níveis hierárquicos da organização: vertical e horizontalmente.

Este papel não tem sido estudado ou apresentado na literatura revista. Trata-se de um caso novo que pode, porém ser encontrado com relativa freqüência junto aos fornecedores de tecnologia, tanto na Europa quanto nos USA. Este colocam facilitadores a serviço do cliente auxiliando na seleção e implantação de soluções.

Um levantamento efetuado na Comunidade Européia permitiu identificar a presença de facilitadores, totalmente caracterizados como tal e localizá-los dentro da "geografia" da empresa.

A coleta de dados em campo permitiu observação da atividade têxtil, sob a ótica gerencial, em uma comunidade tecnologicamente mais desenvolvida, tornou-se fase obrigatória no desenvolvimento de um trabalho que se propõe tratar o papel do facilitador no processo de inovação tecnológica.

O local escolhido para o levantamento de dados foi a Comunidade Européia, já que um primeiro rastreamento fora efetuado nos USA. Para garantir a eficácia da coleta de dados optou-se por realizá-la através de um programa sediado em Bruxelas, sob a coordenação de uma Agência de Desenvolvimento - AGCD - ligada à ONU.

Um conjunto de atividades, previamente programadas abordou o setor têxtil desde sua história até o comércio internacional de têxteis e as tendências previstas para o setor na década de 90. A abrangência do programa permitiu reunir importante material sobre o desenvolvimento tecnológico do setor e os aspectos gerenciais envolvidos.

5.2. Observações realizadas

Apenas para manutenção de um encadeamento lógico, a apresentação dos dados coletados começa pela matéria prima empregada pela indústria têxtil.

5.2.1. MATÉRIA PRIMA:

- Manipulação Genética, Melhoramento e Cultura do Algodão:

A disponibilidade de matéria prima é elemento decisivo nas atividades do setor têxtil no mundo e o algodão ocupa lugar de destaque dado ao seu volume.

A produtividade tanto na produção quanto na distribuição e no emprego posterior do algodão pela indústria está diretamente ligada à tecnologia, sendo que uma boa gerência pode aumentá-la ainda mais.

A primeira preocupação é com a cultura do algodão: tipos de algodão, cultura, colheita, descaroçamento e doenças. Níveis tecnológicos bastante distintos caracterizam a cultura do algodão nos países. Na África: Egito, Burundi e Zaire e na América Latina: Perú e Paraguai, a cultura e a colheita apresentam baixo ou nenhuma mecanização, o que acontece também no Brasil. Situação muito diferente das culturas nos USA.

Países como Inglaterra e Bélgica, mesmo sem tradição no plantio contam com laboratórios tecnologicamente muito atualizados, dirigidos por profissionais altamente preparados, de suporte à cultura do algodão.Isto se deve ao fato de terem tido colônias em outros continentes que produziam algodão.

No Brasil temos institutos similares em Campinas. Contamos com atividades do SENAI voltadas ao algodão e o CETIQT no Rio de Janeiro, que prepara técnicos de nível superior.

Já no momento da cultura existe a preocupação como melhoramento das espécies de algodão. O melhoramento trata de cruzamentos nitra e inter-espécieis, bem como pesquisa na área de genética e tem como alvo a fibra do algodão estrutura e características tecnológicas.

A tecnologia empregada na colheita e no tratamento preliminar do algodão, ao ser recebido pela indústria determina o grau de impureza apresentado pela matéria prima. Observam-se a própria fibra e materiais estranhos presentes e determina-se o rendimento que pode ser ampliado através do emprego de modelos de programação linear para otimizar a mistura de fibras de diferentes características tecnológicas.

Após o enfoque voltado à produção, qualidade e produtividade da matéria prima, relacionados ao mercado fornecedor, vem o estudo do perfil do mercado consumidor bem como dos aspectos de distribuição: características, localização e movimentos.

Abastecimento do Setor Têxtil:

Os movimentos de produtores e consumidores de algodão, por quem intermedia os movimentos de produção e consumo, é altamente dependente da disponibilidade de tecnologia de informática.

Para conhecer de perto este aspecto do setor nada mais adequado que uma visita técnica junto ao maior importador/exportador europeu de algodão, BUNGE, sediada em Antuérpia. Esta organização atua no mercado desde 1850 e não limita-se a compra e venda de algodão, mas também a comercialização de cereais. Sua maior subsidiária localiza-se em São Paulo.

As atividades do Grupo Bunge, que atua no mundo todo, começam com a monitoração das culturas de algodão e outros cereais em todas as regiões. Possuem além de uma grande equipe, uma rede de comunicação, que cobre o globo terrestre. Equipe esta sediada junto a um dos maiores portos marítimos do mundo.

Acompanham também as demandas destas matérias primas junto aos consumidores, independente de onde se localizem.

Como compradores de algodão estão equipados com um laboratório de classificação, com classificadores experientes. A existência destes profissionais é fator crítico de sucesso para a atividade, pois o tipo e a qualidade do algodão determinam o preço de comercialização. A classificação obedece normas internacionais e conta com tecnologia de apoio: equipamentos de colorimetria, por exemplo.

A empresa possui um banco de amostras, classificadas a partir de safras anteriores, organizado por fornecedor, que serve como padrão de referência para determinação da qualidade do algodão e até mesmo para a avaliação do trabalho dos classificadores.

O preço é determinado pela bolsa de mercadorias de Nova York, com a qual a empresa está conectada "on line".

Por ocasião desta visita, tomou-se contato com as atividades significativas do "Comércio Internacional de Algodão".

Material contendo dados relativos ao mercado algodoeiro manipulados estatisticamente, verdadeiros "barômetros" de preços internacionais, são mantidos atualizados pela empresa, como suporte à tomada de decisão por seu corpo gerencial.

Para empresários da indústria têxtil é fator crítico de sucesso conhecer as atividades de uma empresa como a BUNGE, já tradicional no comércio internacional de algodão e na medida do possível executar as mesmas operações.

Pode-se observar as estratégias empregadas pelo importador de algodão, visitado em Antuérpia.

Sua localização junto a um grande porto, ainda hoje Antuérpia mantém-se entre os portos mais movimentados do mundo, é o sétimo no "ranking" mundial.

Mantém sua própria equipe de classificação, que é reconhecidamente fator chave de sucesso para a atividade. O chefe da equipe de classificadores, que é muito reduzida, trabalha a longo tempo para a organização, sendo verdadeiramente um " expert " no assunto.

Um problema constatado, refere-se ao treinamento. Parece não existir preocupação em preparar substitutos. Observam-se pessoas próximas da aposentadoria, efetuando os trabalhos, sem alguém que a acompanhe, se tem, é muito jovem, o que denota a falta de uma geração intermediária.

Para obter sucesso na comercialização do algodão é necessário monitorar ofertas e demandas a nível mundial.

O acompanhamento da safras por região, ao longo do tempo promove maior sensibilidade para a organização, que com o tempo tornou-se capaz de "forcastings" acurados.

O "negócio" algodão não existe sozinho. Esta empresa comercializa, também grãos, o que a coloca em posição diferenciada, pois trabalha com as duas bolsas: Chicago e Nova York, simultaneamente. Isto permite acompanhar movimentos que são competitivos entre si.

Se o desempenho do algodão é bom há um deslocamento natural do agricultor, para esta cultura, em detrimento dos cereais produzíveis na mesma região. O inverso também é verdadeiro.

Quem gerencia um departamento de compras e é responsável pelo abastecimento do algodão promoverá vantagens competitivas significativas para sua empresa se monitorar a safra de algodão, colocando técnicos da empresa junto às culturas de seu país e computadores ligados, através de tecnologia de telecomunicação, às bolsas de futuro que operam com algodão.

5.4.3. Fibras

Não apenas volumes e localização da produção de algodão são determinantes nos preços praticados, mas também as características tecnológicas das fibras deste algodão contribuem para caracterizar a sua comercialização.

5.4.4. Classificação Comercial e Tecnológica:

Novamente a tecnologia entra como elemento chave na otimização do emprego do algodão disponível a cada nova safra. Existem normas e padrões internacionais de medição das características que influenciam as condições de comercialização e desempenho dentro do processo produtivo. São elas:

. Características tecnológicas das fibras,

. Relação entre as características tecnológicas e o comportamento da fibra na fiação e,

. Qualificação global da fibra.

A tecnologia disponível para a classificação de fibras vem em grande parte da Suíça e tem evoluído bastante com o aparecimento da inteligência artificial.

5.5. O PROCESSO TÊXTIL E SEU CONTROLE:

5.1. Fiação:

5.1.1. Tecnologias de Fiação:

O processo de fiação, primeiro na cadeia lógica do processo têxtil, não sofreu mudança conceitual: obtém-se fio através da torção e estiramento das fibras têxteis. Apenas uma nova tecnologia se configura: a fiação por rotor, que é baseada no emprego da força centrífuga, para a obtenção de fios. Quem gerencia uma fiação sabe das limitações de emprego dos produtos gerados por esta nova tecnologia, disponibilizada em equipamentos de fiação por empresas alemãs.

Os fios obtidos no processo de fiação, sofrem inspeções físicas que são tanto mais acuradas quanto maior for o nível tecnológico dos laboratórios que as efetuam. Estas inspeções concentram em testes de resistência à tração e torção, para diferentes diâmetros.

O que se busca é a realização destes testes durante o processo, corrigindo-o imediatamente. Trata-se do controle de processo e é possível com o emprego de sistemas que incorporem inteligência artificial.

Alguns fornecedores de equipamentos de fiação já vem ofertando estes sistemas de monitoramento de produção, como parte integrante dos equipamentos.

Equipamentos de laboratório, para controle de qualidade de fiação, tornam-se cada vez mais sofisticados, buscando resultados cada vez melhores para a atividade têxtil como um todo.

É comum na Europa encontrar nas indústrias fornecedoras de equipamentos para o setor têxtil, fábricas pilotos, miniaturas de fábricas, onde são testadas as novas tecnologias de produção e controle.

- Fábricas Experimentais:

Três foram as plantas pilotos visitadas durante este período de coleta de dados, que estão atreladas a departamentos de pesquisa e desenvolvimento de empresas fornecedoras de equipamentos para o setor têxtil.

- A primeira delas foi a planta piloto da Houget Duesberg Bosson (Bélgica), fabricante de cardas para fibras longas, como a lã. Esta unidade propõe a total automação da fiação e é o resultado de pesquisa desenvolvida pela própria Houget, que destina 6% de seu faturamento bruto para pesquisa e desenvolvimento.

- Junto ao Centro de Treinamento da RIETER, na Suíça, existe uma fábrica experimental que produz uma seção completa de preparação para a fiação.

- O fabricante de equipamentos de fiação, Schlafforst, da Alemanha, também possui uma planta piloto, onde pode-se constatar o elevado esforço da empresa em integrar o transporte ao processo de fabricação, reduzindo significativamente os "set-up".

Cabe a quem gerência fábricas têxteis tomar contato com as novas tecnologias de processo nesta fase de "gestação", visitando periodicamente esta plantas experimentais. Identificando com a devida antecedência mudanças pelas quais sua empresa passará no futuro, se preparando para os processo de inovação tecnológica adequadamente.

Fornecedores como Schlafforst, na Alemanha e a Rieter na Suiça, são referências para as fiações. Este último dedica-se ao sub-setor preparação, sendo que o fornecedor alemão, tem duas grandes linhas de produtos. Os equipamentos denominados AUTOCONER, baseados no processo tradicional de fiação e os AUTOCOROS, ou fiação por rotor.

Fabricantes japoneses, como MURATA, tem se tornado estrelas nas feiras têxteis na Europa, a exemplo da ITMA que acontece a cada quatro anos.Conseguem colocar nas exposições fiações "manless". O nível de tecnologia é tal que estas fiações independente do volume de produção tem inteligência para operarem sozinhas. Prescindem de mão de obra na produção e no controle. Os custos destas fiações ainda torna proibitivo seu emprego. Estão aí e forçam mudanças nos paradigmas de produção e tem que ser levadas em conta, pois representam o futuro de muitos processos produtivos.

Durante a fase de coleta de dados procurou-se tomar contato com empresas do setor têxtil que empregam fibras sintéticas ao invés do algodão, em sue processo produtivo. As referências tecnológicas são bem distintas, a começar pela matéria prima. O processo apresenta características bastante diferentes de uma fiação que utiliza fibras naturais.

A empresa visitada foi Fiação TIBERGHIEN, na região flamenga da Bélgica.

De igual forma a palavra de ordem é tecnologia. Para se empregar a tecnologia como elemento de apoio estratégico nas empresas é fator imprescindível a presença de um corpo gerencial capacitado para tanto.

Os europeus se preocupam com isto há muito tempo pois tiveram que competir com países onde a mão de obra barata representava diferencial competitivo. As empresas têxteis européias que subsistiram alteraram sua estrutura, transferindo seu processo produtivo para países do norte da África ou se concentraram na inovação tecnológica de seu processo produtivo. E é este último fator que está trazendo de volta para o hemisfério norte a indústria têxtil.

Países da América Latina e África começam a perder espaço por falta de capacidade de absorver novas tecnologias na velocidade que se faz necessária.

5.2. Tecelagem:

No domínio da tecelagem, várias foram as visitas técnicas realizadas. O primeiro grupo a ser visitado foi UCO, empresa belga voltada a produção de tecidos para distintas aplicações, com um faturamento anual de 350 milhões de dólares. Emprega 3 000 pessoas em dez unidades de produção. Cerca de 80% de sua vendas ocorrem na CE.

A empresa, para sobreviver durante o período em que várias empresas do setor eram desativadas, na Europa, usou a estratégia da expansão horizontal, espalhando unidades de produção nos países em desenvolvimentos, principalmente no norte da África.

Com a adoção desta medida a empresa viu-se forçada a criar um forte Departamento de Engenharia que orienta a instalação de novas plantas e dá suporte à sua operação.

A UCO desenvolveu seu próprio Departamento de Estilo, que como se sabe, atualmente é fator crítico para a sobrevivência do setor têxtil na CE.

5.2.2. Fornecedores

A introdução de novas tecnologias na indústria têxtil é realizada em grande parte, se não em sua totalidade pelos seus fornecedores. Para ver de perto como este processo ocorre partiu-se para visitas técnicas à fornecedores de equipamentos para tecelagem.

PICANOL: Um dos maiores fabricantes de teares para tecido plano localiza-se na Bélgica, trata-se do Grupo PICANOL.

Esta empresa é um dos grandes fornecedores de equipamentos para a América Latina e África.

O ponto alto da visita foi o "show room", onde pode-se analisar os diferentes tipos de equipamentos e seu elevado grau de automação. Os controladores embutidos nos equipamentos da PICANOL, são fornecidos pela BARCO, organização visitada posteriormente.

Novas interfaces são estabelecidas entre grupos empresariais que detém conhecimentos distintos. As empresas que detém tecnologia de controle de processo são cada vez mais solicitadas como parceiros pelo fabricantes de equipamentos para a indústria têxtil.

SULZER RUTTI: Na Suiça foi visitada a SULZER-RUTI, conceituado fornecedor de teares para tecido plano. Da mesma forma possuem um "show room", onde efetuam demonstração das várias gerações de teares: a lançadeira, com projétil e a jato de ar.

Equipamentos com a tecnologia de jato de ar tem grande aceitação por empresas catarinenses. Tais teares podem ser encontrados na CREMER, em Blumenau, produzindo fraldas.

Algumas empresas empregam equipamentos deste fornecedor em regime de "pool". Uma unidade de controle de qualidade de algodão, operando como anexo do SENAI em Blumenau é um dos exemplos. Várias empresas montaram o centro e se servem de seus serviços.

A formação de "pool" pode ser a única maneira de atualização tecnológica em determinadas situações e representa uma forma de otimizar o emprego de determinados recursos, exigindo porém, alterações no processo de gerenciamento da tecnologia disponível, que não é de propriedade de uma só organização.

5.5. Confecção

Para completar o estudo técnico do setor têxtil foi providenciada visita a uma confecção. A empresa alvo: um fabricante de roupas profissionais, no norte da Bélgica: ALSICO.

A empresa produz cerca de 7 000 peças/dia, empregando de 10 000 a 14000 metros de tecidos. Mais ou menos 320 pessoas são envolvidas no processo produtivo.

Para manter-se no mercado, pois comercializa grande parte de sua produção na comunidade européia, a empresa serviu-se da estratégia de expansão horizontal. Tem uma variedade grande de produtos e unidades produtivas localizadas no norte da África, na Tunísia.

5.6. Controle de Processo:

5.6.1. Fornecedor de Equipamentos de Controle de Qualidade para Fiação:

Dada a densidade de inovações que os equipamentos de controle de processo, os seus fabricantes tem promovido treinamento em forma de seminários, não só para quem adquire a tecnologia, mas para quem demonstre interesse. Até para uma adequada seleção Fé necessário um bom nível de conhecimento técnico, não apenas informações comerciais.

Para conhecer estes programas de apoio à venda de produtos com alta densidade tecnológica foi realizado um curso de 8 horas e uma visita técnica às instalações da HUSTER, na Suiça.

Trata-se, sem dúvida de renomado fornecedor de tecnologia e não puramente "hardware" e "software" para controle de qualidade de fios.

5.6.2. Fornecedor de Tecnologias de Controle de Processo:

. BARCO:

A BARCO é um destacado fornecedor de equipamentos para a automação industrial, que recentemente incorporou a SEDO, empresa alemã, fornecedora de equipamentos para controle de processo na tinturaria.

Todos os controladores incorporados nos teares PICANOL, são produzidos pela BARCO.

Pode-se afirmar que este fabricante é responsável por maciça transferência de tecnologia para o setor têxtil.

Esta empresa instalou-se recentemente no Brasil, cadastrando-se no DEPIN, como fornecedor de tecnologias.

Este é um cuidado adicional que as empresas que operam com mercados protegidos, como foi o de informática, por longo tempo no Brasil. Tanto fornecedor quanto comprador estão sujeitos aos aspectos legais relativos a comercialização internacional de bens e serviços.

. DATACOLOR

Na Suiça a visita técnica foi na DATACOLOR, fornecedor de tecnologia para acabamento, que trata da cor e tem vários clientes no Brasil.

As soluções oferecidas pela DATACOLOR incluem equipamentos de laboratório, que dão todo o suporte ao colorista; espectofotômetros para auxiliar na elaboração de receitas, banco de amostras e controle de qualidade.

Também as cozinhas são assistidas pela DATACOLOR, que possui sistema de pesagem com bloqueio qualitativo e quantitativo, com garantia de integração com sistemas de controle de materiais.

6. INSUMOS PARA O SETOR TÊXTIL:

6.1. Visita Técnica a BAYER:

Sem dúvida a BAYER é um dos gigantes mundiais em química, com complexo fabril às margens do Reno na Alemanha.

O setor têxtil é um de seus grandes clientes, comprando corantes para suas tinturarias. Como a área de acabamentos já pudera ser observada, a passagem pela BAYER concentrou-se em outra que apoia a produção da matéria prima.

A visita foi a um grande centro experimental, da área fitosanitária, onde técnicos cultivam plantas tropicais, em ambientes controlados, para estudos. O algodão é um dos alvos destes estudos. Recebeu-se material, com farta documenmtação desta atividade da BAYER.

Da mesma forma foi alvo de visitação um instituto de pesquisa de agro-defensivos.

Observa-se como característica marcante, de ambas as unidades visitadas, a elevada capacitação da equipe.

Novamente um fornecedor do setor assume a pesquisa básica e até as inovações tecnológicas que são apenas assimiladas pelas empresas consumidoras de seus produtos.

6.2. Visita Técnica a C.A.P.A.:

Localizada em Bruxelas, com escritório ao lado da administração da CE, e com centro de distribuição junto ao aeroporto de Zaventen, esta empresa distribuidora de corantes e produtos químicos auxiliares para tinturaria e estamparia, caracteriza-se por um modelo de administração agressivo e atualizado.

Consegue coexistir com gigantes do porte da BAYER, por explorar nichos de mercado, onde se comercializam quantidades menores, com velocidades muito grandes.

Seu quadro de vendas é composto por profissionais que falam o idioma de cada um dos clientes. Esta é a principal estratégia da CAPA.

Apoio tecnológico aos clientes, que localizam-se em países menos avançados, fazendo na própria CAPA, a receita que o cliente empregará em sua fábrica, servindo-se de tecnologias ainda não disponíveis na clientela.

Modelo exatamente igual pode ser encontrado em Brusque onde um distribuidor de corantes dispõe dos equipamentos de colorimetria computadorizada, desempenhando um papel de desenvolvimento que seria de seu cliente. Este distribuidor atualmente opera com uma planta química, produzindo produtos químicos auxiliares nos acabamentos têxteis.

8. TECNOLOGIAS TÊXTEIS: PESQUISA E INOVAÇÃO:

A participação das universidades européias em pesquisa e desenvolvimento de produtos e processos para a indústria têxtil é expressiva. Podem ser citados trabalhos desenvolvidos por institutos renomados como: CELAC, CENTEXBEL e GANT.

Geotêxteis e Agrotêxteis

Um dos Departamentos do CELAC dedica-se a pesquisa de produtos têxteis dedicados à Engenharia Civil e à Agricultura. Uma grande gama de produtos são pesquisados para auxiliar na produção agrícola em países de clima muito frio ou muito quentes, como por exemplo Israel.

Pesquisa em Flocagem:

O segundo departamento dedicado à pesquisas, do CELAC, estuda FLOCAGEM, que é um processo têxtil, de não tecido, de larga aplicação.

O processo constitui-se em cobrir uma manta tecida, com cola, que recebe um campo elétrico. A seguir fibras, com carga oposta são colocadas sobre a manta. O acabamento é muito bom.Forrações de interiores, tanto de residências, bem como de automóveis, são os campos de maior aplicação.

Não Tecidos:

Ainda junto aos departamentos de pesquisa do CELAC, pudemos avaliar pesquisas de produtos e aplicações de não tecidos. Tratam-se de produtos têxteis destinados a uso em hospitais.

Controle de Qualidade

O laboratório da Universidade de GAND especializou-se em determinar padrões para o controle de qualidade de produtos têxteis.

CONFERÊNCIAS:

Visando complementar a coleta de dados na CE houve a participação uma série de conferências, programadas pelo CELAC, e proferidas por especialistas ligados ao governo belga, apontando estratégias que vem sendo adotadas para apoiar o setor têxtil naquele país.

Sustentação da Atividade Têxtil Belga

Proferida pelo M. Ciselet, houve uma conferência abordando aspectos estratégicos, de um programa do governo, para sustentar a deficitária indústria têxtil belga.

O programa inclui:

- A promoção comercial, com a criação do Trade Mark, em Bruxelas;

- Fomento a pesquisa;

- Apoio a criação da atividade de estilismo, na Bélgica, seguindo exemplo bem sucedidos da Itália e França.

11. CONCLUSÕES:

11.1. Matéria Prima:

Pode-se observar as estratégias empregadas pelo importador de algodão, visitado em Antuérpia.

Sua localização junto a um grande porto, ainda hoje Antuérpia mantém-se entre os portos mais movimentados do mundo, é o sétimo no "ranking" mundial.

Mantém sua própria equipe de classificação, que é reconhecidamente fator chave de sucesso para a atividade. O chefe da equipe de classificadores, que é muito reduzida, trabalha a longo tempo para a organização, sendo verdadeiramente um " expert " no assunto.

Um problema constatado, refere-se ao treinamento. Parece não existir preocupação em preparar substitutos. Observam-se pessoas próximas da aposentadoria, efetuando os trabalhos, sem alguém que a acompanhe, se tem, é muito jovem, o que denota a falta de uma geração intermediária.

Para obter sucesso na comercialização do algodão é necessário monitorar ofertas e demandas a nível mundial.

O acompanhamento da safras por região, ao longo do tempo promove maior sensibilidade para a organização, que com o tempo tornou-se capaz de "forcastings" acurados.

O "negócio" algodão não existe sozinho. Esta empresa comercializa, também grãos, o que a coloca em posição diferenciada, pois trabalha com as duas bolsas:

Chicago e Nova York, simultaneamente. Isto permite acompanhar movimentos que são competitivos entre si.

Se o desempenho do algodão é bom há um deslocamento natural do agricultor, para esta cultura, em detrimento dos cereais produzíveis na mesma região. O inverso também é verdadeiro.

11.2. Insumos:

Um dos insumos importantes para a indústria têxtil é o corante, tradicionalmente na mão de poucos fabricantes. Os alemães e suíços com conglomerados como Bayer, Ciba-Geyger e Sandoz são os mais tradicionais.

Existe, porém lacunas que estão sendo tomadas vorazmente por fornecedores menos expressivos e/ou distribuidores astutos.

Em Bruxelas, mesmo, existe um distribuidor que colocou seu depósito ao lado do aeroporto, muniu-se de uma equipe de vendas, que embora pequena se preocupa, entre outras coisas, falar o idioma do cliente, seja lá onde ele estiver.

Estes pequenos fornecedores procuram manter a velocidade na entrega e o cumprimento da promessa de entrega, principalmente para indústrias têxteis em países em desenvolvimento. Nestes países as empresa não tem um planejamento da produção tão aprimorado. Faltas de corantes são freqüentes. Estes distribuidores suprem estas deficiências, conquistando espaços.

Grandes organizações não tem a mesma versatilidade.

É fator crítico de sucesso contar com equipe de coloristas, que saibam manipular cores e oferecer soluções alternativas à clientela. Muitos de seus clientes encontram-se totalmente impossibilitados de acessar este tipo de profissionais.

Observa-se, por parte destes fornecedores a preocupação com a qualidade de atendimento, procurando ser o mais afetivos possíveis, pois sabem que o dispensado pelas grandes organizações com freqüência é "pasteurizado".

11.3. Confecção:

Pode-se constatar a rejeição à introdução de novas tecnologias, mesmo em países altamente desenvolvidos, como a Bélgica.

Em uma das confecções visitadas, o equipamento de CAD para modelagem e planejamento de corte havia sido substituído.

O pessoal da produção de encaixes, que utilizara, sem maiores dificuldades o sistema antigo, encontrava-se em plena atividade, no sistema novo. As modelistas, porém, que haviam exigido a troca do equipamento, alegando falta de versatilidade, continuavam realizando seus trabalhos manualmente, apesar do novo equipamento ter chegado na empresa a quatro meses.

11.4. Transferência de Tecnologia:

Com relação ao desenvolvimento tecnológico, pudemos observar um movimento, que deve ser freqüente, um grande fabricante de produtos com grande densidade tecnológica, absorvendo outro menor, apesar de não possuir o conhecimento deste último. É uma busca de cercar o mercado de automação industrial, que só pode ser pretensão de que dispõe de bastante capital.

11.5. Marketing:

O fornecedor de equipamentos da indústria têxtil, normalmente localiza-se num país bastante desenvolvido, comercializando seus produtos em outros, cujas características são bastante distintas.

Os fornecedores sabem que podem obter um grande diferencial, também junto a estes clientes, através de serviços. Serviços estes que são prestados em um filão diferente.

Procuram conhecer desalmadamente a atividade de seu cliente e auxiliá-lo fornecendo "lay-out" de plantas, determinação de retorno de investimento, cálculo do custo que o cliente terá, se produzir seu produto com o equipamento que o fornecedor propõe.

Apesar de gozar destas vantagens, o fornecedor mantém- se idôneo para conquistar a fidelidade do cliente.

Os serviços podem incluir o treinamento operacional, operação assistida, preparo das equipes de manutenção.

Existe um cuidado crescente junto aos fornecedores em promover treinamentos no idioma do cliente.

11.7 Gestão:

Diferença básica observada na operação do setor na Europa, se comparada com a brasileira diz respeito ao modelo de gestão.

Empregamos uma estrutura piramidal, com vários níveis intermediários, para efetuar a interpretação de planos de fabricação e outras informações, junto ao piso de fábrica, que simplesmente inexiste nas indústrias têxteis que sobreviveram na Europa.

A existência desta "densa" camada entre a direção e o processo produtivo, requer um esforço organizacional e administrativo grande, que parece se realimentar a cada instante, ao invés de se extinguir.

É urgente a eliminação destes níveis intermediários na indústria têxtil brasileira, por questões de competitividade e, conseqüentemente de sobrevivência.

A grande maioria das pessoas presentes neste patamar constui-se de especialistas, que devem se deslocados para a prestação de serviços ao processo, mas não permanecerem atrelados ao mesmo, causando toda uma inércia, reconhecidamente prejudicial às organizações.

Trata-se de um pessoal caro à organização, que sente, com o avanço das inovações tecnológicas, a sua sub-utilização, junto ao processo, e gera uma reação às vezes inconsciente, de barreira a toda e qualquer mudança.

Cabe à direção das organizações tornar-se cada vez mais sensível a este fenômeno e deslocar adequadamente estes profissionais, pois ela pode mantê-los desmotivados ou alimentar a concorrência, do "tipo fundo de quintal", que tem crescido, pois já pode contar com os profissionais treinados, que as grandes organizações colocam no mercado.

Na região do Vale do Itajai, muito já foi assimilado, do modelo gerencial adotado pelos europeus e americanos. Aqueles empregam mão de obra de países sub-desenvolvidos, para a produção, reservando para si a parte criativa do desenvolvimento dos produtos e do marketing.

Aqui vem sendo adotado amplamente o regime de facções onde profissionais, treinados pela grandes organizações, exploram a mão de obra local, em regime de "facção".

A economia gira, como um todo, mas abalando as sólidas bases da empresas verticalizadas.

As grandes organizações tem a seu favor os tentáculos que vem colocando em pontos estratégicos, como CE.

O acesso a mercados internacionais é garantido às médias e pequenas empresas, quando se organizam em "pool" para a exportação.

As barreiras para este último grupo de empresas freqüentemente está nas rígidas normas dos países clientes.

CONCLUSÃO

As observações realizadas na Comunidade Européia demonstram que no processo de transferência de novas tecnologias, o fornecedor assume o papel de facilitador do processo. Isto é bem visível nas empresas que transferem tecnologia, inovando processos em indústrias da América Latina e principalmente da África.

Existem os facilitadores e estes são imprescindíveis para o sucesso do processo de inovação tecnológica. Nossa proposta é, no caso do Brasil, onde se tem uma capacitação adequada em engenharia e técnicos, possuir estes facilitadores dentro de nossas indústrias, de modo que a condução da inovação seja favorável a quem a assimila.