Nikola Tesla (1856 - 1943) foi chamado de "gênio que antecipou a idade da energia". Entre as suas 700 invenções se inclui o desenvolvimento básico do motor eletromagnético, a turbina, a transmissão sem fio e o controle remoto. Sua descoberta do campo magnético rotatório no final dos anos 1800 é a base da corrente alternada, fonte principal da capacidade elétrica em todo o mundo. Foi Tesla quem projetou a primeira usina elétrica nas Cataratas do Niágara (o seu sistema foi escolhido em detrimento do sistema de corrente direta de Edison). Conhecido como visionário futurista, suas anotações são ainda hoje estudadas pelos cientistas e engenheiros, visto que inúmeras das suas ideias e princípios ainda estão à frente da tecnologia atual.
Usando as ferramentas da modelagem psicológica da PNL, nós podemos explorar o caminho no qual Tesla desenvolveu e usou os processos cerebrais, como a visão, a audição e as sensações, e tornar explícitas algumas das estratégias mentais que Tesla usou para fazer suas descobertas e invenções.
Numa entrevista conduzida em 1919, Tesla forneceu algumas informações valiosas com relação ao desenvolvimento do seu processo de pensamento criativo.
Na minha juventude, eu sofria de uma aflição peculiar devido ao aparecimento de imagens, muitas vezes acompanhadas por fortes clarões de luz, que arruinavam a visão dos objetos reais e interferiam no meu pensamento e ação. Essas imagens retratavam coisas e cenas que eu já tinha visto, nunca daquelas que eu imaginava. Quando uma palavra era falada para mim, a imagem do objeto que ela indicava se apresentava vivamente na minha visão e algumas vezes eu ficava quase incapaz de distinguir se o que eu via era tangível ou não... [Algumas vezes] na tranquilidade da noite, uma imagem cheia de vida de uma cena se enfiava na frente dos meus olhos e lá permanecia apesar de todos os meus esforços para afugentá-la. Algumas vezes ela permanecia estável no espaço apesar de poder enfiar a minha mão através dela.
Obviamente, Tesla está descrevendo uma capacidade muita pronunciada e poderosa de visualizar desde os tempos antigos. Embora a nitidez da imaginação de Tesla certamente soar fora do comum, não é raro as crianças ficarem assustadas pelas imagens mentais vívidas que elas não podem controlar, nem é raro que as crianças tenham dificuldade em distinguir entre a sua experiência interna e a realidade externa. A maioria das crianças, entretanto, eventualmente aprendem a silenciar ou eliminar esse grau de nitidez quando elas crescem a fim de "tratar mais efetivamente da realidade."
Tesla, entretanto, parece ter aprendido a enfrentar essa questão de modo diferente. Ao invés de impedir o seu processo de visualização, ele aprendeu a conduzir a sua capacidade de visualizar conscientemente. Mais importante, ele foi capaz de trocar o processo de imaginação relembrada para imaginação visual construída. Ele desenvolveu a sua capacidade de "devaneio" para um grau muito mais elevado - similar a "alucinação positiva" na hipnose. É interessante perceber que as descrições da sua capacidade de fantasiar são bastante similares a de outro famoso cientista e gênio Albert Einstein que alegava sempre pensar em imagens do que em palavras ou equações matemáticas. Einstein afirmava que a teoria da relatividade brotou de uma fantasia da adolescência na qual ele tentava imaginar como seria a realidade se ele estivesse viajando no fim de um raio de luz. As tentativas de Tesla para lidar com as imagens internas também conduziram para um outro importante desenvolvimento da sua estratégia de criatividade.
Ao seguir o rastro de seus processos mentais de volta aos eventos externos, Tesla foi capaz de estabelecer uma inestimável conexão prática entre seus pensamentos e a realidade. Essa conexão sem dúvida resguardou a sua incrível imaginação de se tornar simplesmente uma forma de "fuga" e tornou possível que ele convertesse sua própria ficção científica mental em invenções que transformaram o mundo. Essa capacidade, combinada com a prática de Tesla de estabilizar e reforçar as imagens construídas, teve sucesso mais tarde na sua vida.
A estratégia de Tesla tem algumas similaridades extraordinárias com a estratégia descrita por Mozart para compor (ele compunha as músicas na cabeça e depois as transcrevia para o papel) e era bastante diferente da do seu contemporâneo e antigo colega Thomas Edison. Edison, que afirmava que a "invenção é 1% inspiração e 99% de transpiração," preferia colocar logo suas ideias numa forma tangível e aí trabalhar com elas. Edison, por exemplo, passou 14 meses tentando materiais diferentes a fim de descobrir qual seria o melhor filamento para a sua lâmpada elétrica. Tesla chamou o método de experimentação de Edison de achar uma "agulha no monte de feno" e no final se tornou seu rival. Apesar de que as duas estratégias eram obviamente efetivas, a visualização interna de Tesla provavelmente permitia que ele lidasse mais efetivamente com entidades intangíveis (como campos magnéticos), que estão além do domínio do nosso mundo sensorial e até da nossa capacidade de trabalhar fisicamente com elas.
Existe uma anedota interessante sobre Tesla descrevendo como uma vez ele foi desafiado na sua afirmação de que podia construir uma máquina na sua mente. Segundo contam para reagir ao desafio, Tesla "construiu" uma turbina imaginária na sua mente e determinou que uma outra fosse construída fisicamente. As duas máquinas, a real e a imaginária, começaram ao mesmo tempo. Um mês depois, Tesla desmontou a turbina da sua mente e mencionou em detalhes precisos o desgaste nas peças da sua máquina imaginária. Quando desmontaram a máquina real, as descrições de Tesla combinaram com a máquina real em cada detalhe!
Numa descrição notável do seu próprio processo cognitivo subjetivo, Tesla descreve em detalhes precisos as qualidades da sua imaginação interna durante o processo de invenção:
Quando eu fecho os olhos, eu primeiro observo invariavelmente, um fundo de um azul muito escuro e uniforme, como o céu numa noite clara sem estrelas. Em poucos segundos, esse campo se torna animado com inumeráveis flocos verdes cintilantes, arranjados em diversas camadas e avançando na minha direção. Então, na direita, aparece um bonito padrão de dois sistemas de linhas paralelas e rigorosamente espaçadas, um em ângulo reto com o outro, com todos os tipos de cores com predominância do amarelo, verde e dourado. Imediatamente, por essa razão, as linhas ficam mais brilhantes e todo o conjunto fica salpicado com muita luz brilhante. Essa imagem se move devagar através do campo de visão e em cerca de dez segundos desaparece na esquerda, deixando para trás um terreno de um cinza muito desagradável e inerte o qual rapidamente dá lugar a um encrespado mar de nuvens, aparentemente tentando moldá-las em figuras vivas. É curioso porque eu não posso projetar uma forma nesse cinza até que a segunda fase seja atingida.
Essa descrição intrigante tem uma semelhança muito interessante com a estratégia usada por outro famoso inventor, Leonardo da Vinci. Em suas anotações, Leonardo descreve um método para "estimular e incitar a mente para várias invenções," o qual parece ser uma "muleta" visual externa a ser usada para ajudar a alcançar o "terreno inerte do cinza" que Tesla menciona acima.
A PNL sustenta que o fator crítico em gênios é COMO eles usam as suas mentes e que as estratégias mentais de um gênio em particular pode ser aprendida pelos outros e aplicadas em outros contextos. Ao obter algum discernimento sobre o processo de pensamento de pessoas excepcionais como Nikola Tesla, nós podemos aprender a identificar essas capacidades especiais quando elas ocorrem naturalmente em outros, e mais tarde, a cultivar e desenvolver essas capacidades em nós mesmos.
Referência: A Estratégia da Genialidade III - Sigmund Freud, Leonardo da Vinci e Nikola Tesla, Robert Dilts (1995)
Texto traduzido e adaptado da Encyclopedia of Systemic NLP and New Code de Robert Dilts e Judith DeLozier.