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A primeira grande etapa educacional se encontra nos primórdios da Comunicação Oral. As sociedades se estruturam em tribos e clãs, e as palavras são fluidos transcendentais: sagradas. Acredita-se no que se ouve. O ouvido, órgão vital, registra os fatos falados, cantados, exteriorizados em forma de mitos. As fábulas, as metáforas, são ferramentas poderosas que impregnam as gerações com histórias dos clãs.
O homem tribal é culturalmente auditivo. Sua mente é povoada de magias e metáforas. O ancião é uma espécie de biblioteca: o guardião da memória do povo e das referências à natureza deificada. Solidário, ritualizado, totêmico, o homem tribal tem nos sons e ruídos o mecanismo principal de leitura do mapa do seu universo.
O Alfabeto
Com a fragmentação tribal nasce o alfabeto, que deve responder por 3.000 anos de História do Homem Ocidental. Com sua criação, o homem transforma a visão no órgão vital. O espaço acústico submete-se aos espaços visuais. Nasce a individualidade. O sagrado é ressignificado: aparece o profano. Dicionariza-se a palavra. Ingressamos Na Civilização do Manuscrito.
E com o manuscrito as profissões de escriba, de copista, de calígrafos. A arte é gerada. Aparecem os analfabetos, deserdados da nova plataforma educacional.
O pergaminho, o papiro, o papel, iniciam o processo de aposentadoria da experiência acústica, da sabedoria acumulada pela vivência e transmitida oralmente.
A escrita, lembra McLuhan, é um processo de visão. E essa extensão provoca profundas mudanças nos campos sociais, gera alterações psíquicas e novos padrões culturais e educacionais.
O homem que aprendia solidário, aprende a ser solitário.
Com a solidão aparecem a análise, a consciência individual, o afrouxamento dos laços com o clã, com os liames totêmicos que gerenciavam o universo.
A educação, antes mais auditiva que visual, torna-se, com o império da escrita, com a monarquia do olho, linear e lógica: o mundo é vivenciado em perspectiva. A escrita é fragmentada e na reunião dos "fragmentos" é que nascem a ideia, o pensamento racional, a ciência.
O ancião-biblioteca perde sua função. As prateleiras de manuscritos acumulam sabedoria. A escola desterra a natureza e rende-se às paredes das salas. Aparece o professor.
A Galáxia de Gutemberg
Com a invenção da imprensa ocidental, o manuscrito se vê suplantado e a cultura democratizada. Mas o olho continua o grande órgão de aprendizado.
A Civilização do Livro torna possível ao homem dividir sua casa com Platão, Aristóteles, Buda, Confúcio, Maquiavel; ler os Sutras, a Bíblia, o Alcorão.
O livro organiza a língua e, nas salas de aula, nascem nações, a igualdade humana, o individualismo, o debate, a Revolução Francesa.
Para McLuhan, o livro foi "a primeira máquina de ensinar e também a primeira utilidade produzida em massa".
A Sociedade Planetária
A escola continua fazendo do livro o seu grande instrumento de educação, mas a sociedade já ingressou na era da Comunicação Eletrônica. O homem, antes auditivo, tornou-se visual, e agora envolve-se sensorialmente com o circuito eletrônico, que não é o prolongamento de um sentido específico, mas a extensão do sistema nervoso central.
Enquanto a escola muda a cor do "quadro-negro" para verde e rebatiza-o de "quadro de giz", - a criança, nem bem cortado o cordão umbilical, é presenteada com as "xuxas babás", desgramaticalizadas mas muito íntimas. Elas invadem os poros, tateando nossos corpos, saturando-os de cinestesias.
A microeletrônica, os chips, o verticalismo das cidades, a natureza transformada, a biotecnologia, a biologia molecular, os Ets eletrônicos, a engenharia genética, a inteligência artificial, a robótica, apenas são citados nas escolas, mas já perambulam pela sociedade.
O terceiro Milênio às portas, a Geração TV — Geração Apartamento (e a da Favela) eletronicamente ligada ao planeta, massificada por um universo tátil, desnacionalizada, "que sabe mais sobre o mundo, aos 10 anos, que seu bisavô aos 60", continua institucionalmente ligada à escola linear, fragmentária, trabalhando com fatos acontecidos, enquanto na TV global do mundo global, coloridamente, fatos simultâneos da África, da Eurásia, das Américas, acontecem com sua participação.
Aqui, cabe uma pausa poética; socorro-me de Fernando Pessoa:
"O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia."
As escolas dos países em desenvolvimento não possuem televisões, computadores, Internet, para motivar e ensinar seus cidadãos do Século XXI, mas os rios heurísticos chamados Programação Neurolinguística, Aprendizagem Acelerada, Leitura Fotográfica, Técnica do Mapa Mental, Mapeamento Cerebral, técnicas virtuais, permitem-nos afirmar que nós, dos países em crescimento socioeconômico e cultural, temos condições de superar as limitações que bloqueiam a conquista do progresso profissional e felicidade pessoal, e ingressar, evolutivos e transformadores, como seres pensantes e atuantes, na Era do Conhecimento.
Finalmente, nós do chamado Terceiro Mundo, temos à disposição excelentes manuais de aprendizagem para o melhor computador do mundo: o nosso cérebro.
É só ressignificar nossas escolas, ensinar nossos professores, e começar a usá-los.
Eis o belo desafio que se nos apresenta.
Artigo publicado no Golfinho Impresso Nº23 de SET/96