Série M&C 02 - Vida, morte e ancoragem

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sab, 01/01/2005

Série Explorações Mente e Cérebro

Quais são os limites de uma âncora?

Uma série de experiências realizadas por pesquisadores no campo da psiconeuroimunologia ("PNI") podem nos dar um indício. A primeira série desses experimentos foi realizada com ratos (resumidos por Chopra, 1990). O objetivo era estabelecer o fato de que o sistema imunológico poderia ser levado a reagir previsivelmente a um só estímulo apresentado pelos sistemas sensoriais. Os ratos foram divididos em dois grupos. O grupo 1 foi injetado com ciclofosfomida que é um conhecido imunodepressor. O grupo 2 foi injetado com Poly IC que é um imuno estimulante popular.

Essas injeções foram usadas para induzir os estados imunofisiológicos desejados. Quando as reações esperadas do sistema imuno foram calibradas, os dois grupos de ratos foram ancorados ao mesmo estímulo. Os pesquisadores usaram cânfora como um estímulo olfativo e água com sacarina com um estímulo gustativo, apresentados simultaneamente. Somente essa âncora dupla assegurava que o estado imuno fisiológico previamente calibrado não poderia ser acionado acidentalmente pelos elementos comuns que entravam em contato pelo ambiente.

Nesse ponto, os pesquisadores tinham estabelecido uma âncora confiável, que poderia ativar um estado imuno depressivo no grupo 1 e um estado imuno estimulante no grupo 2. (Ader, Felten, Cohen, 1991)

O impressionante poder da âncora foi mostrado na fase 2 do experimento. Nessa fase, logo que os indicadores imuno fisiológicos retornaram ao normal, os dois grupos foram injetados com uma dose substancial de um vírus comum de pneumonia. A âncora era então disparada. Dentro de 48 horas, os ratos no grupo 2 (imunoestimulados) apresentavam um pequeno sinal do vírus e dentro de aproximadamente 7 dias não havia mais nada.

No mesmo espaço de tempo, todos os ratos do grupo 1 (imunodepressivos) estavam mortos. Um projeto de pesquisa mais tarde duplicou esses resultados substituindo o vírus da pneumonia por injeções de células vivas de câncer. Para esses ratos, o que fez a diferença entre a seleção dos estados fisiológicos mais fundamentais de vida e morte, foi uma âncora. (resumido por Chopra, 1990)

Sem dúvida, você já está imaginando as poderosas aplicações biomédicas dessa impressionante ferramenta. Num experimento de pesquisa realizado mais tarde, o poder da ancoragem foi usado para ajudar a cortar o custo de uma dispendiosa terapia de tratamento do câncer.

O objetivo da pesquisa era levar o sistema imuno de uma jovem a produzir Interlukin 2 ("IL-2") que era necessário em grandes quantidades para combater o seu avançado câncer de fígado. Naquela época, uma aplicação de IL-2 custava $40.000. Junto com a administração de uma simples aplicação, a mesma âncora usada nos experimentos com os ratos foi estabelecida.

Os pesquisadores ficaram surpreendidos ao descobrir que disparando essa âncora entre as aplicações, atingiam níveis mais elevados de IL-2 do que os normalmente contidos numa simples aplicação.

Por isto eu lhe devolvo a minha pergunta original, "Quais são os limites de uma âncora?" Parece que a única limitação que pode existir é a precisão da calibragem. Não somente esses experimentos provaram que as âncoras podem influenciar a nossa simples existência, mas para muitos pensadores produtivos foi estabelecida uma poderosa referência para suportar a crença – Se você pode calibrá-la, você pode capturá-la.

Planejando novos métodos de calibração

Como Practitioners de PNL, nós fomos treinados para calibrar primariamente com os nossos canais sensoriais. Esse método nos limita para calibrar e capturar os distintos estados fisiológicos. Embora investiguemos o uso de ferramentas de calibração de última geração, como scans PET, fMRIs e SQUIDS (superconducting quantum interference device), o impressionante poder da ancoragem se tornará virtualmente ilimitado. Entretanto, não é necessário tornar isso tão aperfeiçoado para começar a criar muitas aplicações exclusivas e efetivas para a ancoragem.

Após ter lido a pesquisa mencionada acima, minha mente começou a procurar por mais ferramentas comuns disponíveis que um practitioner poderia usar para explorar novas possibilidades. Naquela época, meu pai estava sofrendo dos efeitos adversos da medicação para controle da pressão sanguínea e estava interessado em aprender como influenciar a sua pressão por iniciativa própria.

Para executar isso, nós precisávamos de duas ferramentas, um indicador para calibrar continuamente a pressão sanguínea e uma ferramenta para influenciar o seu estado. Visto que os estados das ondas cerebrais alfa, teta e delta estão associados com baixa pressão sanguínea, nós precisávamos encontrar uma ferramenta que pudesse atuar como um parâmetro de controle que quando escalado poderia conduzir o cérebro através desses estados coletivos.

Muitas empresas hoje produzem uma ferramenta auditiva que pode ser usada para esse propósito. Nós escolhemos uma fita cassete que foi gravada no canal do ouvido esquerdo, um som puro de 100HZ e no canal direito um de 104HZ. Como esperado, pelo princípio da ressonância forçada, a atividade no background do cérebro começa a oscilar a 4HZ (onda delta), que pode ser verificada com o EEG.

Uma diminuição correspondente na pressão sanguínea podia ser vista imediatamente no indicador de pressão do seu novo relógio Casio. Quando ele ouvia a fita, uma oscilação auditiva muito distinta era detectada a 2-4 ciclos por segundo. Como ter a fita disponível na hora era restritiva, eu o fiz estabelecer âncoras visuais e cinestésicas que podiam recriar a imagem auditiva e o correspondente estado do cérebro.

Com apenas alguns minutos de prática, ele era capaz de influenciar sua pressão sanguínea disparando sozinho a âncora. Mais tarde nós descobrimos pesquisas em que a atividade no background do cérebro mudava de beta para alfa simplesmente fechando os olhos por alguns segundos. Quando conveniente, nós incluímos isso como a primeira etapa da estratégia seguida pela audição da imagem auditiva. Esse procedimento criou uma ampla bacia de atração e um acesso mais fácil ao estado atrator da baixa pressão sanguínea. Essa é somente uma das virtualmente ilimitadas maneiras que eu encontrei para começar a explorar as possibilidades da ancoragem via ferramentas de calibração mais precisas. (Anchor Point, outubro 1995 – parte 1 desta série).

Como a âncora funciona

Nesse ponto seria útil ter uma pequena discussão sobre como as âncoras são capazes de influenciar o sistema nervoso humano. Quanto mais nós entendermos sobre como as ancoras funcionam, maior flexibilidade nós teremos em planejar novos e efetivos usos. Muitos practitioners em treinamento já ouviram a frase "você não pode, não ancore". Como um cérebro humano testa o seu mundo exterior via seus cinco sentidos, uma representação desses eventos externos são codificados pela modificação sináptica. Modificação sináptica é um processo no qual o sistema nervoso reforça certos caminhos e enfraquece outros, resultando em exclusivos padrões eletroquímicos de ativação. Em outras palavras, um padrão de ativação eletroquímica codifica a atividade simultânea de todos os cinco sentidos como se fosse uma peça de informação.

Ao mesmo tempo, o cérebro também está testando seu mundo interior, via o córtex somatosensorial e codificando a reação fisiológica de todo o corpo para o evento externo no mesmo padrão de ativação. Qualquer coisa que reative esse único padrão eletroquímico de ativação também ativa a reação fisiológica do corpo que estava codificada com este padrão.

O padrão resultante da ativação pode ser referido como um estado atrator. Quanto mais efetivas se tornam as sinapses através da modificação, mais profundo e mais estável fica o atrator. Cada codificação do sistema sensorial desse evento simultâneo, é uma trajetória conduzindo para o estado do atrator e capaz de reativar o padrão codificado.

O fenômeno resultante é similar ao campo morfo-genético (capaz de auto organização espontânea). A propriedade mais importante desse tipo de campo é que ele é capaz de regulação, o que significa que qualquer parte do campo pode ativar todo o campo.

O que isso significa para o Practitioner? O que está evidente na pesquisa da psiconeuroimunologia é que cada reação psicofisiológica incluindo a expressão do DNA (resultando em produção de IL-2), é codificada neste padrão de ativação. Quanto mais exclusiva for a âncora, provavelmente maior será a trajetória que ela segue para conduzir para o padrão de ativação planejado ou estado atrator.

Âncoras visuais e a tomada de decisão humana

Uma maneira fácil de juntar toda essa informação, é entender como as âncoras são usadas distintamente pelo sistema nervoso humano no processo de tomada de decisão. O córtex frontal do cérebro humano é responsável pelo estabelecimento do campo de memória de trabalho o qual nós usamos para pensar. Ele ativa os padrões da memória de longo prazo e os indexa por localização. Como um practitioner de PNL, você considera esse processo como submodalidades.

O seu trabalho no passado com submodalidades mostrou-lhe que a localização de uma imagem é extremamente importante no significado da codificação. A razão para isso é que a localização de uma imagem é também indexado pelo sistema somatosensorial. Isso significa que quando você ativa uma memória e a coloca na memória de trabalho, a localização desta imagem se torna indexada pela mesma reação fisiológica como a memória. (Goldman-Rkic 1992) (Damasio 1994)

Imagine algo que você está muito motivado para fazer. Perceba a sua localização. Agora, imagine algo que você não está motivado para fazer, mas sabe que precisa fazer. Observe como a memória de trabalho coloca essas duas imagens em locais diferentes. Observe também que quando você olha para as duas possibilidades, existe uma diferença cinestésica que se torna facilmente perceptível e que lhe permite saber qual delas você quer fazer.

Isso é possível porque cada local, agora codificado pelas células piramidais (Goldamn-Rakic 1992) no córtex frontal, foi distintamente ancorada à sua reação fisiológica por meio do sistema somatosensorial. Isso é chamado de um marcador somático. O uso disso é surpreendente.

Você não apenas pode mover a imagem "desmotivada" para a posição "motivada" e se sentir diferente, como também pode distintamente influenciar outro estado fisiológico do lado de fora, por meio da ancoragem do local de cada um com um gesto da mão. Você irá descobrir que gesticulando distintamente para o local onde a pessoa guardou essas imagens, você será capaz de reativar a reação fisiológica dela. Nesse caso, ao invés de estabelecermos âncoras artificiais, nós estamos utilizando o próprio sistema marcador somático do cérebro e com muita precisão compassando um modelo interno do mundo da pessoa.

Como você pode utilizar essa ferramenta no contexto de tomada de decisões na vida real? A próxima vez que você se encontrar vendendo um treinamento de PNL para um cliente em perspectiva, elicie uma ocasião em que a pessoa viu algo numa loja que ela sabia que precisa ter. Enquanto você calibra, para ter certeza que essa é a reação que você quer, observe para onde os olhos dela se movem quando ela pensa sobre essa memória. Simultaneamente, ancore essa localização exata com um gesto distinto da mão. Agora falando simplesmente sobre os benefícios do que você tem a oferecer e gesticulando para esta localização exata, você irá ancorar o estado desejado para o treinamento de PNL.

Tenho a confiança de que esses poucos exemplos irão irradiar alguma luz no impressionante poder não utilizado do seu kit de ferramentas de ancoragem. De um lado do espectro nós podemos influenciar a tomada de decisão, por outro lado, vida e morte em si. Quantas novas aplicações você pode criar no meio disso? Eu deixo esse desafio com você.

Artigo publicado na Anchor Point dezembro de 1995.
Tradução publicada no www.golfinho.com.br em JAN/2005

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