Afirmações

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seg, 09/05/2011

"As estrelas do mar são uma praga para os pescadores que vivem da captura de mariscos e de outros moluscos no mar, pois as estrelas se alimentam desses animais. Os pescadores achavam que para matar as estrelas bastaria picá-las e jogar os pedaços de volta para o mar, porém não sabiam que cada fragmento se regenerava em um adulto perfeito e, no final das contas, isso conduziria para uma população ainda maior, até que o problema foi melhor compreendido." — Wikipédia.

Muitas pessoas recomendam que dizer afirmações positivas, repetidas vezes, é uma maneira de mudar as suas crenças sobre si mesmo e melhorar a vida. As afirmações se originaram da obra de Émile Coué (1857-1926) que defendia dizer a frase abaixo, repetidas vezes, até que ela se tornasse um mantra de fundo inconsciente: "todos os dias, de todas as formas, estou ficando cada vez melhor."

Existe um sério problema com essa afirmação particular na repetição da palavra "todo". Nunca será verdade que eu estou ficando melhor todos os dias e de todas as formas. A realidade não é assim. Mesmo se eu estiver ficando maravilhosamente melhor em muitos aspectos, não será em todas as formas. Muitos de nós temos uma voz interior que ouve as declarações universais e as contesta — e aqueles que não têm esse tipo de voz, ficariam melhor se tivessem uma!

Se eu disser a declaração de Coué para mim, ela estimula a minha voz interior a encontrar exceções à essa generalização universal. Ela poderia dizer sarcasticamente: "Sim, certo! Que tal a forma como você se dirigiu a sua esposa, hoje de manhã — isso é melhor? Que tal aquele joelho dolorido que estourou ontem, de tal forma que hoje você está mancando — isso é estar melhor? Eu não penso assim! "

Assim, mesmo se pudesse valer a pena insistir na ideia das afirmações, é preciso ter muito cuidado com as palavras que dizemos a nós mesmos, ou a afirmação pode "sair pela culatra" e produzir resultados contrários. Qualquer palavra universal, como "todos", "cada", "sempre", geralmente incita uma voz antagônica e isso, pode resultar na diminuição do seu otimismo! Mas há outros problemas com as afirmações que podem não ficar aparentes de imediato. Um site da internet diz o seguinte sobre as afirmações:

"A ideia por trás dessas técnicas é bastante simples. A maioria de nós cresceu aprendendo a se desprezar por qualquer erro real ou imaginado. Nós crescemos acreditando em certas coisas sobre nós mesmos ou nos comparando negativamente com os outros. O uso de afirmações positivas é uma técnica para mudar esse diálogo interno negativo para algo mais positivo."

A meta de termos vozes internas que são positivas parece muito atraente. Entretanto, se examinarmos essa prescrição um pouco mais de perto, a ideia de adicionar afirmações positivas apresenta alguns problemas. Se assumirmos, como faz a citação, que a maioria de nós "cresceu aprendendo a se desprezar por qualquer erro real ou imaginado", o que vai acontecer quando introduzirmos uma nova voz que é positiva e que dá apoio? Haverá um conflito inevitável entre esses pontos de vista opostos. Além disso, a velha voz que despreza irá provavelmente redobrar seus esforços no sentido de discordar com a voz que dá apoio. Isso pode resultar em nos colocarmos ainda mais para baixo do que antes de acrescentarmos essa afirmação.

Segundo a Wikipédia, "para uma afirmação ser efetiva, ela precisa estar no tempo presente, ser positiva, pessoal e específica". Um outro site oferece os seguintes exemplos:

"Eu estou saudável, feliz, sou inteligente e livre."

"Eu estou cercado por pessoas que me amam."

Esses exemplos combinam com os quatro critérios mencionados no Wikipédia, mas não combinam muito bem com a minha realidade.

Embora "eu estou saudável, feliz, sou inteligente e livre" não tenha o universal "todos", ele está implícito, e eu não conheço ninguém que esteja sempre saudável, feliz, inteligente ou livre. Se eu disser isso para mim quando estiver doente, triste, com tédio ou me sentindo imobilizado, isso irá se opor ao que eu sinto e não será muito útil.

Quantas vezes é verdade que você está cercado por pessoas que o amam? Você pode ter em casa várias pessoas ao seu redor que o amam muito, mas e no trabalho ou no armazém? Lá provavelmente existem, pelo menos outras pessoas, que estão indiferentes e que podem até ser hostis.

Se uma afirmação não se coaduna com a sua realidade, a parte de você que controla a realidade irá ser provocada a questioná-la, derrotando novamente a finalidade da afirmação. Contudo, se criarmos vozes internas que são um pouco mais sutis nas palavras que elas usam, existem maneiras de contornar essa dificuldade.

Um mundo feliz

A instrução interessante que se segue foi postada em um newsgroup, um ano atrás, por um email de Vikas Dikshit, um educador trainer de PNL de Pune, na Índia:

Há cerca de 18 meses atrás, uma jovem senhora me pediu ajuda para a sua depressão. Ela frequentava um psiquiatra e tomava remédio para a depressão por alguns meses.

Eu sugeri a ela que olhasse ao redor e dissesse mentalmente para si mesma, "Eu estou sentada nessa cadeira feliz. Aqui está essa mesa feliz. E essas são janelas felizes com cortinas felizes." Eu sugeri que ela fizesse isso todos os dias durante dez a quinze minutos.

Depois de quinze dias, ela ligou para dizer que agora estava se sentindo muito bem. Após cerca de dois meses, o psiquiatra suspendeu o remédio. Ela continua a me chamar ocasionalmente, e conta que ainda se sente muito bem. A mais recente foi quando ela esteve na minha cidade a cerca de dez dias atrás.

Cerca de um ano após esse email, Vikas escreveu dizendo que sua cliente ainda se sente muito bem, e que ele tem usado o mesmo método com sucesso — ou variações dele — com uma série de outros clientes. Embora esse método pareça muito simples para ter algum efeito, ele emprega alguns aspectos muito sutis de linguagem.

A maneira mais simples de entender esse processo é que ele é o mesmo que todos nós fazemos muitas vezes, porém utilizado de uma maneira mais útil. Se alguém fala sobre um "dia sombrio", ele não está realmente falando sobre o dia, ele está falando sobre os seus sentimentos. Quando alguém fala de um "ardor agradável", ele está falando sobre o ardor ou sobre como ele se sente? Quando alguém fala sobre a cortina feliz, isso significa que ele está se sentindo feliz.

Já que todas as frases são sobre algum aspecto do mundo sendo feliz, não há conflito entre dizer isso quando a pessoa não está se sentindo feliz. Uma pessoa infeliz ainda pode falar sobre cortinas felizes. Isso é muito diferente da afirmação "eu estou feliz" que irá contradizer o estado presente de alguém, se ele estiver infeliz.

Esse processo direciona a sua atenção para as coisas ao seu redor no momento presente, exatamente como ocorre com qualquer meditação útil. Como você tem atenção limitada, isso irá simultaneamente retirar a sua atenção do que você estava executando para aquilo que estava deixando você infeliz, inclusive algum diálogo interno negativo que estava acontecendo em sua mente.

A palavra "feliz" é um gatilho para esse estado, de modo que usá-la tende a eliciar sentimentos felizes, não importa o que ela descreva, seja uma cadeira ou uma mesa. Quando eu descrevo as cortinas como "felizes", isso conecta a felicidade com as cortinas — e com tudo mais no meu entorno que eu descrevo com essa palavra. Depois disso, cada vez que eu olhar para as cortinas — e para as outras coisas à minha volta — eu vou pensar na palavra "feliz" e isso tende a eliciar aquela sensação feliz. Se tudo à minha volta é rotulado dessa forma, em breve estarei cercado por coisas que estão agora associadas com a palavra "feliz" e que eliciam esse estado de sentimento.

Geralmente, há uma correspondência ou equivalência entre os estados internos de alguém e o que ele percebe à sua volta. Um pessoa feliz vive em um mundo feliz, e uma pessoa triste vive em um mundo triste. Uma pessoa triste tende a notar os acontecimentos tristes ao seu redor, enquanto uma pessoa feliz tende a perceber as coisas felizes. O método de Vikas usa essa equivalência em sentido inverso para provocar uma mudança no humor. Perceber coisas felizes significa sentir-se feliz.

Entretanto, é preciso ter muito cuidado se você incluir outras pessoas nas suas observações felizes, e notar que tipo de reação essas observações provocam em você, porque isso pode criar um contraste que não seja conveniente. Se eu notar uma criança feliz, isso pode me fazer sentir feliz, porque eu não sou uma criança — do mesmo modo como eu não sou uma cadeira nem uma cortina. Mas se eu notar outros adultos sendo felizes, esse contraste com o meu estado atual pode agravar a minha infelicidade. Se os outros à minha volta estão felizes, quando eu estiver infeliz, isso pode tornar ainda pior a minha infelicidade. Por isso é muito mais seguro não incluir outras pessoas de nenhuma maneira — mesmo crianças ou animais — e só usar objetos inanimados.

Outra maneira de pensar sobre esse método é que ele é um exemplo do padrão de linguagem hipnótica chamado de "restrição selecional". Visto que uma janela não pode ser feliz, sua mente irá inconscientemente procurar dar sentido a palavra "feliz" ao aplicá-la em alguma outra coisa. Se você está sozinho, você é a única possibilidade disponível, e mesmo se estiver com outros, você ainda é uma possibilidade. Como todo esse processamento ocorre de modo completamente inconsciente, ele não pode ser contrariado pelo seu pensamento consciente.

É claro que, apesar de toda essa compreensão maravilhosa, esse processo pode ser completamente anulado se alguém usar um tom de voz sarcástico, zombador ou desdenhoso. Mas se você usar um tom que é o habitual, simplesmente relatando a sua experiência "objetivamente", ou algum tom que expressa até mesmo um pouco de prazer, o processo irá funcionar. Se você fizer isso com você mesmo, ou com alguém, você pode notar a tonalidade, e mudá-la se ela não apoiar o método.

Você também pode usar esse método com qualquer outro adjetivo conveniente, tal como "calmo" ou "pacífico" para alguém que se agita facilmente, "amável" para alguém que sente raiva, ou "equilibrado" ou "centrado" para alguém que se sente disperso ou caótico. Simplesmente identifique o humor problemático, pense em seu oposto, e em seguida, selecione um adjetivo que expresse esse humor oposto para colocar no lugar do "feliz".

Por exemplo, se alguém está frequentemente com medo ou ansioso, o oposto é seguro, e ele pode usar essa palavra para descrever o mundo em volta dele. "Eu vejo a cadeira segura", "Essas são cortinas seguras", "Esse é um computador seguro", etc.

Tenha certeza de escolher uma experiência oposta, não algo na faixa intermediária de um espectro. Por exemplo, se você está sempre criticando e, muitas vezes, se recusa a aceitar alguma coisa, o contrário seria acolher ou amar, não aceitar, que é muito neutro.

Tente isso agora. Pense em um estado desagradável em que você às vezes entra...

Então pense no seu oposto, um estado positivo que você gostaria de ter no lugar desse…

Então use essa palavra para descrever as coisas ao seu redor, seja internamente ou para fora em voz alta. Continue a fazer isso por vários minutos, e note como isso muda a sua reação...

Esse método é uma afirmação que funciona, e não irá estimular outras vozes conflitantes para discordar dela.

Esse artigo foi extraído do livro de Steve Andreas, "Help with Negative Self-talk" (Ajuda com o diálogo interno negativo, em tradução livre), volume 1, capítulo 4 – "Falando positivamente com você mesmo."

Para obter o e-book completo, visite o site: http://www.realpeoplepress.com/pages.php?page=selftalkebook

Tradução JVF, direitos da tradução reservados.

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