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Em 2009, aqueles envolvidos no desenvolvimento pessoal receberam uma sacudida dos pesquisadores que demonstraram que uma das ferramentas mais populares de autodesenvolvimento de todos os tempos, geralmente diminuía a autoestima das pessoas e as tornava menos propensas para agir. Como no caso da pesquisa repetida mostrando que uma aplicação muito simplista de "O Segredo" é um dos dois obstáculos mais significativos para o êxito pessoal, essa pesquisa sobre afirmações foi quase ignorada pelos trainers de PNL, bem como por outros "especialistas em desenvolvimento pessoal". Principalmente porque nós simplesmente não achamos que a pesquisa tenha sido feita corretamente.
Mas, recentemente, houve vários estudos corroborantes, e eu acredito que está na hora de dirigirmos um novo olhar sobre uma técnica que nunca foi oficialmente desenvolvida como parte da PNL, foi claramente criticada pelos desenvolvedores da PNL e, agora, mostrou que só funciona em determinadas situações. Há boas razões porque as afirmações bloqueiam o sucesso, quando o fazem, e são fáceis de serem entendidas para que possamos nos mover além da afirmação.
Os estudos iniciais da pesquisa
Os psicólogos Joanne V. Wood e John W. Lee da Universidade de Waterloo e W.Q. Elaine Perunovic da Universidade de New Brunswick pediram que, inicialmente, os 249 participantes da pesquisa preenchessem um pequeno questionário projetado para analisar a autoestima deles e dizer quantas vezes eles falavam coisas positivas sobre si mesmos, numa escala de 1 (nunca) a 8 (quase que diariamente). Cerca de 50% deu uma nota 6 ou maior. Os indivíduos que já tinham autoestima elevada, disseram que frequentemente afirmavam algo para eles mesmos, particularmente para ajudá-los a enfrentar exames, preparar apresentações, lidar com os problemas ou mesmo como parte da sua rotina diária. Na média, eles sentiam que tais afirmações eram úteis. Aqueles com autoestima baixa também alegavam que tais afirmações os ajudavam algumas vezes, mas disseram que os faziam se sentir pior na maioria das vezes. Para descobrir por que, os pesquisadores fizeram dois novos estudos.
Primeiro, eles pediram que os estudantes escrevessem tudo que sentiam ou pensavam num período de quatro minutos. O recrutamento incluiu números iguais de estudantes com alta ou baixa autoestima e a metade de cada grupo foi orientada a dizer para si mesmo, a cada 15 segundos, "eu sou uma pessoa adorável", quando uma campainha era tocada pelo pesquisador. Depois, eles responderam a vários questionários. Dois foram projetados para avaliar o humor deles, incluindo perguntas como "qual é a probabilidade de uma pessoa com 30 anos se envolver num romance feliz e afetuoso?" e "você gostaria de ir a uma festa?" Outro questionário classificava a autoestima atual deles, fornecendo dois adjetivos e pedindo que eles dissessem qual deles o tocava mais - por exemplo, valioso ou imprestável, bonito ou horrível, bom ou ruim. Como você presume, os estudantes com autoestima mais elevada tiveram escores mais elevados e mais apropriados em todos os três questionários do que aqueles com baixa autoestima. De fato, eles realmente se sentiam um pouco melhor depois de dizer as afirmações (apenas ligeiramente). Mas para aqueles que já tinham baixa autoestima, o efeito das afirmações foi dramático e negativo. Eles se sentiam pior depois de dizer essas palavras, tiveram mais crenças negativas e expectativas de sucesso mais baixas. Os escores da autoestima deles caiu a quase a metade, como resultado de tentar usar afirmações.
Os pesquisadores explicaram o resultado, dizendo que todo mundo tem uma gama de ideias que está preparado para aceitar. Mensagens que estão dentro desse limite são mais convincentes do que aquelas que estão fora. Essas mensagens que estão fora da gama encontram uma maior resistência e podem até mesmo levar as pessoas a se agarrarem mais firmemente à sua posição original. Se uma pessoa com baixa autoestima disser algo positivo sobre si mesma, mas isso estiver muito fora do alcance do que ela realmente acredita, a sua reação imediata será rejeitar a alegação e se sentir ainda pior. As declarações que contradizem o modelo de mundo básico e a autoimagem atual de uma pessoa, não importa quão positiva seja a intenção, são susceptíveis de disparar pensamentos diferenciados. Claro que, como Practitioner de PNL, você tem várias intervenções que podem mudar a autoimagem e o modelo do mundo, fazendo com que essas afirmações funcionem... e, claro, em qualquer caso, as afirmações podem dar a impressão de não serem tão importantes. Wood concluiu que as afirmações só funcionam em situações onde as pessoas fazem afirmações muito específicas que são impossíveis de serem discutidas, ou quando nenhuma das suas crenças principais foi desafiada. Por exemplo, as pessoas podem ficar melhor dizendo "eu escolho bons presentes para as pessoas" em vez de "eu sou uma pessoa generosa". Colocado em termos de Comunicação Transformacional, as afirmações positivas são formuladas melhor como uma "mensagem do eu" específica e sensorial em vez de como um julgamento. Ela adverte que "autoafirmações estranhas e exageradamente positivas, tais como ‘eu me aceito completamente’, são encorajadas frequentemente pelos livros de autoajuda. Os nossos resultados sugerem que essas autoafirmações podem prejudicar as próprias pessoas para quem elas foram destinadas: pessoas fracas em autoestima."
No terceiro estudo, os indivíduos foram solicitados a considerar a declaração "eu sou uma pessoa adorável" e se concentrar apenas nas formas em que isso é verdade ou considerar as formas nas quais isso é e nas que não é verdade. Após a tarefa, as pessoas com elevada autoestima se beneficiaram focando apenas no lado positivo da declaração, mas aquelas com baixa autoestima se sentiam pior com relação a si mesmas se elas se concentrassem somente nos positivos, e se sentiam melhor se fossem solicitadas a tomar uma abordagem mais equilibrada. Wood sugere que se as pessoas com baixa autoestima forem solicitadas a pensar somente pensamentos positivos, e tiverem dificuldade em bloquear os pensamentos negativos, isso apenas atesta a crença delas de que elas não estão a altura das pessoas normais. Já em 1991, Norbert Schwarz, da Universidade de Michigan, descobriu que as pessoas que foram solicitadas para lembrar de 12 exemplos sobre serem assertivas, avaliaram a si mesmas como menos assertivas do que aquelas que só tinham que lembrar de seis exemplos. Ele ressaltou que não era se lembrando de 12 eventos que fazia uma pessoa se sentir mal, era a própria reação interna dela que tinha dificuldade para lembrar dos 12. Quando as pessoas tinham dificuldade em trazer 12 exemplos à mente, elas decidiam que, afinal, não deviam ser muito assertivas.
Abordagens da PNL para a afirmação
Richard Bandler e John Grinder não incluíram as "afirmações" em sua lista de técnicas de PNL. Robert Dilts na sua Enciclopédia de PNL traz afirmações de vencedor, dizendo: "a afirmação é um método para criar, fortalecer e incentivar processos de autorrealização". A "afirmação" envolve essencialmente a declaração verbal e o reforço das crenças fortalecedoras. O processo da afirmação envolve a repetição de uma série de declarações de crenças. Em muitos aspectos, as afirmações representam o exemplo fundamental da "programação neurolinguística". Elas empregam o uso da linguagem para estabelecer e incentivar a "programação" mental positiva. De qualquer modo, os exemplos de afirmações de Dilts são todos baseados na realidade atual. Dito de outra forma, os exemplos de Dilts são todos orientados aos processos, como por exemplo, "é possível para mim estar bem e saudável", "eu tenho a capacidade de ficar saudável e bem", em vez de baseados nos resultados: "eu estou saudável e bem." A pesquisa acima sugere que, desde que as suas afirmações não desafiem a "realidade" do cliente, elas estão mais propensas a serem recebidas de forma positiva.
Bandler e Grinder desenvolveram métodos para transformar as crenças internas, e parece que estavam muito conscientes do risco de contradizer a experiência da realidade de uma pessoa. Bandler, por exemplo, descreve a criação de uma nova crença como a criação de um novo foco de atenção, em vez de contradizer a evidência que uma pessoa reuniu sobre a "realidade". Descrevendo a formação de novas crenças, diz Richard Bandler: "Você sabe que crença gostaria de ter no lugar da crença que tem agora?... Comece a pensar sobre ela agora, e tenha certeza de pensar em termos positivos, não em termos negativos. Pense no que você quer acreditar, não no que você não quer acreditar. Eu também quero que você forme essa crença não em termos de um fim ou uma meta, mas em termos de um processo ou uma capacidade que resultaria em você alcançar essa meta. Por exemplo, se você gostaria de acreditar que sabe PNL, mude-a de modo que você acredite que pode prestar atenção, e aprender e reagir aos comentários a fim de aprender PNL... Queremos mobilizar novas capacidades, não instalar novas ilusões!" Na medida em que uma afirmação tradicional como "todos os dias, de todas as formas, eu estou ficando melhor e melhor" for inconsistente com a realidade, ela será, naturalmente, uma ilusão. Não é de se admirar porque muitas pessoas na pesquisa se opuseram a ela.
Eu me pergunto se o questionamento positivo funciona melhor do que as afirmações?
Uma pesquisa recente oferece dicas de uma técnica que resolve o problema da afirmação e da reação inesperada e confirma uma abordagem muito anterior a PNL.
Ibrahim Senay, Dolores Albarracin Noguchi e Kenji na Universidade de Illinois deram tarefas desafiadoras aos participantes da pesquisa, e, antes de começar, os fizeram dizer para eles mesmos, um dos dois tipos bem diferentes de comentários. Um tipo de comentário era "Eu vou fazer isso" (uma afirmação). O outro era "Será que eu vou fazer isso?" (uma pergunta). Em várias experiências diferentes, os resultados foram os mesmos. Aqueles que solicitaram a pergunta eram mais motivados, mais focados e mais bem-sucedidos. Além disso, eles relataram que depois tiveram pensamentos diferentes sobre as suas metas. Em um estudo, por exemplo, os indivíduos tinham como meta irem ao ginásio de esportes regularmente. Aqueles instruídos para dizer "eu vou", mais tarde relataram que se sentiram motivados (por exemplo) "porque eu me sentiria culpado ou envergonhado se não fosse", enquanto os instruídos a dizerem "será que eu vou?" relataram que se sentiram motivados (por exemplo) "porque queriam assumir mais responsabilidade pela própria saúde." Em termos de PNL, as afirmações tiveram um efeito inesperado produzindo uma motivação "afastando-se", enquanto que as perguntas produziram uma motivação "em direção a". Os pesquisadores notaram que as perguntas expõem a pessoa para possibilidades, enquanto que as afirmações fecham a mente para outras escolhas. O questionamento o convida para explorar; a afirmação lhe diz o que é e ignora a capacidade de descobrir resultados inesperados ou mais úteis.
Esse estilo de questionamento do diálogo interno foi sub-relatado na PNL, mas podemos vê-lo no trabalho de Milton Erickson. Erickson cita continuamente o seu próprio diálogo interno antes de qualquer novo sucesso como "eu estava pensando..." Ele não usa autoafirmações, ele usa o autoquestionamento. Por exemplo, em sua coletânea, em uma discussão com Ernest Rossi, ele menciona como desenvolveu a capacidade de escrever artigos inteiros durante o sono, inconscientemente. Ele diz: "eu me perguntei se poderia escrever editoriais. Se eu não reconhecesse as minhas palavras na página impressa, isso me diria que havia muito mais na minha cabeça do que eu havia realizado. Aí eu tive a prova de que era mais brilhante do que eu sabia." Mais tarde, ele descreve como aplicou a si mesmo uma experiência pessoal transcendental. "Eu estava no quintal, no verão de um ano atrás, me perguntando que tipo de experiência estranha eu gostaria de ter. Como eu estava intrigado com aquilo, percebi que estava sentado no meio do nada. Eu era um objeto no espaço... Foi a coisa mais incomum que eu consegui fazer!"
Um processo da PNL que instala um estilo de questionamento útil como uma metaestratégia em uma situação desafiadora é o Processo de Perguntas Essenciais (Core Questions Process) descrita por Steve Andreas em seu novo livro "Help With Negative Self Talk" (Ajuda com o diálogo interno negativo, em tradução livre). A ideia básica desse processo é que estamos continuamente classificando a nossa experiência / decidindo como reagir ao nos fazermos perguntas inconscientes. Às vezes, essas perguntas são estruturadas de modo que elas só fornecem respostas inúteis (como, por exemplo: "Por que isso sempre acontece comigo?"). Você pode identificar essas perguntas inúteis e instalar outras mais úteis projetadas para satisfazer a sua intenção.
Conclusões
A autoafirmação é um padrão de linguagem desenvolvido muito antes da PNL, e tanto a pesquisa como a PNL indicam alguns cuidados sobre o seu uso. As afirmações funcionam melhor quando se referem a elementos positivos específicos da experiência atual de uma pessoa que são aceitáveis em seu modelo atual do mundo. Mesmo nesse ponto, as afirmações exprimem uma ideia fixa, e perguntas feitas a si mesmo podem fornecer uma substituição mais útil e mais rápida para o diálogo interno inútil.
Bibliografia: consulte no artigo original em inglês.
O artigo original "How Can We Do Better With Affirmations?" encontra-se no site do autor.
Tradução JVF, direitos da tradução reservados.