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O uso de metáforas e símbolos no processo da cura se estende a milhares de anos. Mais recentemente, Simonton, Bernie Siegel e outros fizeram uso das metáforas e das imagens em pacientes com câncer ou outras doenças.nota1 E a Modelagem Simbólica – explicada com abrangência em nosso livro Metaphors in Mind: Transformation through Symbolic Modelling – segue nessa direção.
Existem três características que distinguem a Modelagem Simbólica dos outros processos de metáforas e visualização. Primeiro é a confiança do individuo, e somente o indivíduo, ao usar seus sintomas para identificar uma metáfora pessoal, autógena para a sua doença. Segundo, é um meio para questionar essas metáforas. Esse processo de questionamento foi originado por David Grove e é chamado de “Linguagem Clara”. E terceiro, enquanto as metáforas são comumente expressas como imagens, a Modelagem Simbólica também faz uso das outras maneiras pelas quais as pessoas representam suas doenças ou processos de cura: expressões corporais, sensações, sons, desenhos, objetos físicos, etc.
O uso da metáfora autógena pode ser particularmente conveniente nas doenças “funcionais ou relacionadas ao estresse, aquelas nas quais nenhum micro-organismo específico foi identificado como fonte do colapso fisiológico. Essa categoria da disfunção inclui tanto os maiores problemas de saúde como as doenças cardiovasculares, algumas formas de câncer, e as chamadas doenças autoimunes, bem como aquelas que são menos catastróficas, como úlceras gástricas, muitas condições alérgicas, síndromes miofaciais, enxaquecas e TPM. Estima-se que de 50 a 80 por cento de todas as doenças físicas que exigem atenção médica estão relacionadas ao estresse ou são funcionais por natureza”.nota2
Descrição dos sintomas
As pessoas, muitas vezes, usam espontaneamente na conversa uma metáfora para descrever seus sintomas. A Dra. Sheila Stacey diz: “Meus pacientes descrevem classicamente a dor com metáforas como nodoso, compressão, penetrante ou queimação. Eu descobri que os pacientes com câncer usam particularmente metáforas vívidas: “Ela está me destruindo pouco a pouco” ou “Eu estou assustado porque ela se espalha rapidamente.”
Além do uso espontâneo de metáforas para descrever seus sintomas, os clientes podem se beneficiar da eliciação e das técnicas de revelação das metáforas. Nesses casos, é importante que o facilitador use a linguagem “clara” porque desse modo ele não contamina a experiência do cliente com suas próprias preferências (muitas vezes inconscientes) por certo tipo de metáforas.
Quando ministrava um curso de Linguagem Saudável para um grupo de enfermeiras especializadas em esclerose múltipla, elas contaram que, muitas vezes, seus pacientes tinham dificuldade para descrever a natureza bizarra dos seus sintomas. Nós sugerimos que elas perguntassem a eles: “Quando fica difícil descrever os sintomas, com o que eles se parecem”? Essa pergunta convida o paciente a usar uma metáfora para descrever as qualidades e as características da sua experiência subjetiva da doença.
Quando as enfermeiras fizeram essa pergunta, elas obtiveram respostas como “É como formigas correndo por todo o meu corpo” e “É como um arame enrolado como queijo derretido em volta das minhas pernas”. Mais perguntas claras, como “Existe alguma coisa a mais sobre (a metáfora do paciente)”? ou “E que tipo de (a metáfora do paciente) é essa?”, encorajaram os pacientes a descrever essas estranhas sensações em detalhesnota3. As enfermeiras ficaram surpresas em como esses pacientes se sentiram aliviados quando puderam explicar seus sintomas dessa maneira. Alguns pacientes disseram que foi a primeira vez que eles sentiram que alguém realmente entendia como era experimentar a doença deles.
Metáforas evoluídas
Através da Modelagem Simbólica, o conflito, o desequilíbrio ou a doença inerente à metáfora do cliente encontra sua própria solução de uma maneira inesperada e orgânica. Quando isso acontece, o indivíduo normalmente experimenta uma mudança correspondente nos seus sintomas; algumas vezes imediatamente, algumas vezes nos dias ou semanas seguintes. Aqui temos dois exemplos.
“Neve no topo da montanha árida”
Uma dermatologista que faz uso da Modelagem Simbólica, a Dra. Justina Cladatus, relata: “Um dos meus pacientes tinha um problema de alopecia areata (perda de cabelo ou de pelos). Sua metáfora inicial para os seus sintomas era uma montanha árida com neve no cume. Quando o processo se desdobrou, ele se descobriu amarrado numa parede com cordas marrom num quarto escuro, com chão de cimento e uma pequena janela gradeada. A metáfora dele evoluiu até ele estar de pé ao lado de um poço branco situado num lindo vale cheio de flores amarelas e vegetação verde. O poço era uma fonte de água fresca. Enquanto isso, a neve derreteu e a montanha se tornou uma pequena colina com árvores crescendo nela. E o cabelo dele começou a crescer preto!”.nota4
“Os coelhinhos e as cenouras câncer”
Peter Hettel foi diagnosticado com câncer nos seios da face. Depois da cirurgia, seu câncer retornou e por isso ele se voltou para as abordagens alternativas, incluindo a PNL. Num outro exemplo da natureza individual da metáfora, Peter descobriu que suas células imunológicas brancas eram como “coelhinhos se banqueteando num campo de cenouras-câncer laranjas, o que aumentava a energia e o apetite sexual deles, com isso faziam mais sexo e mais coelhinhos que também estavam com fome e comiam mais”. Uma manhã ele percebeu, para sua surpresa, que não tinha cenouras suficientes para todos os seus coelhos! Algumas semanas depois, ele havia literalmente cuspido o seu tumor. Seu médico disse “Foi como se o seu corpo tivesse rejeitado um objeto estranho, como a rejeição de um transplante, realmente expelido do seu corpo. Eu não posso responder por isso”.nota5
Para concluir
Nós nos habituamos a pensar que a mente não tivesse nenhum efeito sobre o corpo. Agora, até o mais tradicional médico admite que a mente e o corpo estão ligados e que as mudanças num afetam o outro. É possível ir até mais longe e reconhecer que mente e corpo são simplesmente expressões diferentes da mesma unidade, e que toda doença é uma doença mente corpo, e que toda cura é uma cura mente corpo. A Modelagem Simbólica, a Linguagem Clara e a metáfora autógena formam um processo congruente para trabalhar com os sintomas mente corpo.nota6
Notas
1 Com a Vida de Novo, O. C. Simonton, S. Mathews-Simonton and J. L. Creighton.
2 Arun Hejmadi e Patricia Lyall, 'Autogenic Metaphor Resolution ', em Leaves Before the Wind, Charlotte Bretto e outros, pp. 99-122.
3 As restantes “9 perguntas claras básicas” estão disponíveis no artigo: "Less is More ... The Art of Clean Language" (The Basic Questions).
4 Esse exemplo foi retirado do Experts Forum do website de Caroline Myss www.myss.com ('Resources').
5 Como relatado em Remarkable Recovery por Caryle Hirshberg e Marc Ian Barasch, pp. 287-293.
6 Quando usamos a Modelagem Simbólica nas manifestações físicas dos sintomas, nós sempre recomendamos que os clientes procurem seguir as orientações do seu médico.
O artigo sob o título “Healing Metaphors” foi publicado pela primeira vez em 2001 pela The Magic Lamp, newsletter da Organisational Healing Ltd e atualmente não se encontra disponível. É uma parte de um artigo mais longo: The Mind, Metaphor and Health que se encontra no site www.cleanlanguage.co.uk