Metáforas da Organização - Parte 2

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ter, 17/07/2007

Metáforas da Organização - Parte 1

Modelagem Simbólica foi desenvolvida a partir dos estudos realizados durante cinco anos por David Grove, um dos mais inovadores psicoterapeutas do mundo. Penny Tompkins e eu escrevemos o livro Metaphors in Mind: Transformation through Symbolic Modelling, para que o uso da Linguagem Clara de Grove junto com as metáforas geradas pelos clientes possam ser amplamente conhecidas – não somente dentro da comunidade terapêutica, mas também entre pessoas interessadas por metáforas em outros contextos: negócios, organizações, educação e saúde.

Quando alguém diz: "Eu continuo subindo pelas paredes nessa empresa", David Grove aceita que a metáfora é uma descrição perfeita da experiência dessa pessoa. Deste modo, qual é o tipo da parede, onde está, seu tamanho e forma, a direção da subida, tudo será a representação de como é ter a experiência desta pessoa.

Além do trabalho de Grove, Metaphors in Mind incorpora ideias da linguística cognitiva, da teoria sistemas auto-organizantes, da dinâmica evolucionária e da Programação NeuroLinguística (PNL).

Metáforas embutidas

Uma conversa habitual está repleta (na maior parte inconsciente) de metáforas. De fato, é "duro" "achar" uma frase do "dia a dia" que não "contenha" uma metáfora "escondida":

Deu branco na minha cabeça.
Tem um vazio no meu conhecimento.
Eu estou me sentindo para baixo hoje.

Obviamente essas frases não são metáforas até que "branco", "vazio" e "para baixo" são examinados com mais atenção. Nós chamamos essas e as expressões similares de metáforas embutidas visto que a sua natureza metafórica está encoberta pelo costume e familiaridade. Logo que você começa a reconhecer as metáforas embutidas, você irá percebê-las em tudo que é lugar. 1

Linguagem Clara

David Grove descobriu que quando nós ignoramos as metáforas da outra pessoa ou introduzimos as nossas próprias, nós "contaminamos" inconscientemente a experiência dessa pessoa. Isso está correto numa conversa comum, mas não se você quer facilitar para que esta pessoa se torne consciente do seu mundo simbólico interior que tem tanta influência na maneira como ela pensa, sente e se comporta. Assim, como podemos ajudar uma pessoa descobrir e desenvolver suas próprias metáforas sem introduzir as nossas próprias? Para solucionar essa charada, Grove imaginou algumas perguntas muito simples e uma maneira de indagar chamada de Linguagem Clara. 2

Como mostrei na parte 1 desse artigo, Gareth Morgan pode analisar uma empresa e decidir que ela está funcionando como uma máquina. Ou ele pode sugerir que um gerente use a metáfora da planta aranha (veja nota na parte 1)para ajudar a redesenhar a sua estrutura organizacional. Isso está em contraste acentuado com a Modelagem Simbólica onde você usaria a Linguagem Clara para facilitar o gerente descobrir a sua própria metáfora para a organização, e depois usar essa metáfora para ajudá-lo a alcançar o objetivo. Por exemplo:

(G = Gerente. F = Facilitador. O negrito é usado para acentuar o formato de algumas perguntas da Linguagem Clara, que pode ser usado para realizar perguntas em qualquer metáfora.)

G: Eu quero entender porque a nossa organização não é bem-sucedida.

F: E quando você quer entender porque a sua organização não é bem-sucedida, a sua organização é parecida com o que?

G: Você poderia dizer que é como uma máquina.

F: E que tipo de máquina?

G: [Pausa] É como uma máquina de ceifar e enfeixar, eu acho.

F: E existe mais alguma coisa sobre esta máquina de ceifar e enfeixar que é semelhante a sua organização?

G: É flexível com peças intercambiáveis dependendo do tipo de colheita.

F: E tem alguma coisa a mais sobre ser flexível com peças intercambiáveis?

G: O timing é muito importante. Muito cedo ou muito tarde e você deixa escapar a oportunidade. Não é bom iniciar a colheita até que a safra esteja pronta.

F: E aí o que acontece?

G: Nós passamos de novo por todo o ciclo.

F: E da onde pode se originar este ciclo?

G: É a ordem natural das coisas. [Pausa] Está certo. Nós temos que educar os novatos sobre o tipo do ciclo. Eles tentam executar tudo com pressa ou desistem muito ligeiro. Se eles soubessem do ciclo...

Essa curta troca de palavras demonstra os fundamentos da Linguagem Clara. Perguntas Claras são "claras" porque o facilitador é cuidadoso em somente perguntar sobre as metáforas do cliente, ao usar as próprias palavras dele para fazer isso, e não introduzir qualquer metáfora sua. 3 Por causa disso, as perguntas claras podem ser usadas numa grande variedade de circunstâncias.

A melhor maneira de você compreender como funciona a Modelagem Simbólica é através de exemplos. Por isso o restante desse artigo descreve como a Modelagem Simbólica está sendo usada em três contextos organizacionais: no coaching executivo, no desenvolvimento de novos produtos e na criação da metáfora da empresa. Deverá ser bem fácil extrair o processo a partir desses exemplos e aplicá-lo em você e nos seus clientes.

Das bombas para a batuta

A sessão inicial de coaching com um gerente de uma empresa multinacional revelou que ele queria "ser capaz de se defender contra os agressivos gerentes seniores". Enquanto eu o ouvia descrever seu trabalho, percebi algumas das suas metáforas: "Eu tenho que defender o meu pessoal", "Eu explodi", "Eu estava numa situação sem saída", "Seu método é treiná-lo e depois tomar a defensiva", "As tropas estão brigando na margem da estrada", "O tenente dele me deu ordens", "Eu posso perder a cabeça no calor da batalha".

Quando se junta essas expressões, é fácil identificar a metáfora oculta do gerente: o trabalho é uma batalha.

Quando eu repeti para ele as suas próprias palavras, ele disse que estava "chocado com a bomba", e nós rimos. Eu perguntei "E de onde vem estar no ‘calor da batalha’?" Imediatamente ele respondeu "Você precisa defender o seu território para estar do lado vencedor". Então eu indaguei "E quando você precisa defender o seu território para estar do lado vencedor, o que você gostaria que tivesse acontecido"? Traços de emoção correram pelo seu rosto antes dele sacudir a cabeça e dizer "Não ter que me defender". Eu perguntei que metáfora ele preferia no lugar dessa. Depois de experimentar e rejeitar a ideia de uma equipe esportiva, ele se decidiu por uma orquestra – então eu o ajudei a explorar a ideia usando a Linguagem Clara. Mais tarde, ele usou essa metáfora para aferir o seu comportamento e o dos outros: Eu estou participando como um membro de uma orquestra? Quando é que eu sou o primeiro violino e quando é que estou tocando o triângulo? Quando eu presido uma reunião, estão todos tocando no mesmo tom e eu estou conduzindo apropriadamente?

O gerente reconheceu que enxergar o seu trabalho como uma batalha tinha influenciado significativamente a maneira como ele reagia aos seus colegas, e em particular aqueles "mais elevados da cadeia de comando". Durante os meses seguintes, ele alterou gradualmente o seu comportamento para se ajustar e ficar mais próximo da sua metáfora da orquestra. E surpresa, surpresa, os gerentes seniores começaram a agir de maneira diferente com relação a ele.

Lançando novos balões

Eu trabalhei recentemente com o Diretor de uma companhia que estava perto de lançar um novo produto que precisava de um alto grau de autonomia. Ele estava inseguro de como o produto seria visto por ser parte integrante da empresa existente. Através do processo da Modelagem Simbólica, ele imaginou a metáfora de uma plataforma de lançamento central onde um balão de ar quente poderia subir e descer. O balão era navegado pelo seu próprio capitão e estava sempre conectado à plataforma de lançamento por um cabo que tanto definia a distância como fornecia proteção. Esse arranjo permitia que outros balões fossem lançados, e também para a possibilidade que quando um balão ficasse tão grande que poderia cortar o cabo, esse fosse substituído por um mais folgado - exatamente a forma de organização mais autônoma. A Linguagem Clara facilitou que o Diretor explorasse numerosos aspectos da metáfora: o balão, as qualidades do capitão, o equipamento de lançamento e aterrissagem, o relacionamento com observadores de fora, os planos estratégicos da conferência, o efeito no público olhando os balões voando, etc.

Uma característica interessante nessa abordagem é que eu não tinha ideia do produto que estava na cabeça do Diretor porque eu estava trabalhando completamente dentro da lógica da metáfora. Também, uma das suas colegas que estava observando o processo se sentiu obrigada a participar ao dizer que ela nunca tinha tido um insight tão claro sobre o que ele pensava. Ao examinar a metáfora, ela contribuiu com sugestões para o funcionamento do balão e expressou suas preocupações. Mais tarde, eles mencionaram o fato de que ao se manterem dentro da metáfora, isso eliminou a defensiva que muitas vezes ocorre nestas situações.

Criando a metáfora da empresa

Muitas empresas criaram a declaração da missão e sua visão, mas poucas criaram a metáfora da empresa. A empresa New Information Paradigms (NIP), um empresa do nicho de desenvolvimento de software, especializada em sistemas de administração de conhecimento, é uma delas. Auxiliados pelo consultor Caitlin Walker, 4 cada um dos 16 funcionários identificou algumas metáforas para "a empresa e para onde ela vai", para "mim como membro da NIP", para o "meu relacionamento com a NIP e a maneira que eu gostaria que ficasse". Como resultado, uma parede inteira próxima da máquina de café ficou adornada com desenhos simbólicos e diagramas das metáforas.

Ensinaram a Linguagem Clara ao pessoal, pois assim eles podiam investigar com atenção cada uma das outras metáforas. Em seguida, facilitaram cada uma das quatro equipes da empresa para incorporar os seus mapas pessoais para dentro de uma metáfora do grupo. Com isso concluído, as equipes, em pares, discutiram as áreas de superposição, divergência e sinergia, para produzir uma metáfora integrada. Finalmente, todas as quatro equipes se juntaram para produzir uma única metáfora - a da empresa.

E o resultado? Um entendimento muito melhor do que eles estavam tentando alcançar coletivamente e como eles podiam trabalhar juntos. A NIP verificou também que as "reuniões eram mais curtas, mais construtivas e que eles alcançavam um entendimento comum mais ligeiro. Eles eram capazes de permanecerem objetivos por mais tempo e isso ainda permitia o pessoal acessar suas emoções sem ter que torná-las públicas". Caitlin Walker acrescenta que o processo dá a eles outra perspectiva de como chegar a um entendimento e como revelar os problemas: a metáfora de um grupo continha um rio, e quando eles viram que não havia maneira para as pessoas cruzarem o rio, eles perceberam "aí está, este é o problema"!

Reconhecendo que era um bom negócio, a empresa tem imaginado suas próprias aplicações para a Modelagem Simbólica. Quando um cliente da NIP tem dificuldade em especificar suas exigências, a equipe de vendas usa a Linguagem Clara para ajudá-lo a criar uma metáfora para o que ele quer. Quando a metáfora é traduzida para a linguagem tradicional de negócios, o cliente sente-se compreendido e a NIP sabe que tem uma informação de alta qualidade. Por exemplo, tome a empresa que considerou seu sistema de informação como uma série de reservatórios interconectados onde o nível da água muda dinamicamente com a quantidade de chuva, pela evaporação e pelo uso. O cliente queria monitorar de perto o nível da água, predizer quando era necessário um novo reservatório, e não serem pegos de surpresa por uma estiagem severa. Uma vez explorado, a metáfora foi convertida para a linguagem da previsão da demanda, plano de contingência e controle de qualidade. De volta ao escritório, os vendedores retransmitiram essa informação e a metáfora do cliente para os designers de software.

A NIP diz que as metáforas forneceram uma "linguagem comum de definição" para discutir um projeto e para obter as razões encobertas de porque algo é daquela maneira. Os desenvolvedores de software criam suas próprias metáforas para ajudar a explicar as características técnicas do design para as equipes de vendas e de marketing, que as utilizam nas apresentações aos clientes. Os desenvolvedores de software descobriram no processo, um uso inusitado para os seus sistemas.

Diagramas das metáforas das três equipes

A New Information Paradigms identificou três vantagens principais no uso de metáforas. Em suas palavras:

"As metáforas funcionam porque elas transmitem uma enorme quantidade de informações e de abundância".

"Apresentar ideias e situações como metáforas dá ao destinatário a oportunidade de entender a mensagem que está sendo comunicada a ele, em seus próprios termos. Porém talvez ainda mais importante, qualquer questão levantada ou crítica desfavorável à metáfora não é pessoal (com suas diferenças de opinião inerentes, defeitos, etc.) – o espaço para alguém se ofender é muito reduzido... existe "espaço para manobra" sem ser "obrigado a"... levar tudo metaforicamente".

"Encorajar os participantes de um grupo a sugerirem suas próprias metáforas para (aparentemente) a mesma coisa – um produto, uma situação com cliente, etc. – muitas vezes cria um "espaço compartilhado" mental ou virtual. Nesse "espaço compartilhado" se torna possível explorar as metáforas individuais, existe espaço para elas serem absorvidas ou usadas como pedras de calçamento em direção a uma metáfora que todos contribuíram, ou que pelo menos tenham apoiado".

Comentários finais

Facilitar um indivíduo ou grupo a reconhecer as metáforas inconscientes que formam a visão do mundo deles, que guiam as suas decisões e que restringem as suas escolhas, encoraja os insights e eleva a própria consciência. É necessário o uso com habilidade da Linguagem Clara para facilitar sem sugerir, pressupor ou impor sua própria metáfora.

E todo o processo pode ser levado a um nível mais profundo ao facilitar o indivíduo ou grupo a automodelarem simbolicamente o modo que o sistema deles funciona. Então, ao invés de tentar fazer a mudança acontecer, ocorre um novo aprendizado, os problemas são resolvidos e a criatividade é estimulada organicamente, como um subproduto do processo de automodelagem.

Notas

1 Metáforas da Vida Cotidiana de Lakoff e Johnson, foi o primeiro e até hoje a melhor apresentação do significado da metáfora na linguagem diária.

2 Para as "nove perguntas básicas da Linguagem Clara" e mais exemplos do seu uso, veja o artigo "Less is More... The Art of Clean Language" no site www.cleanlanguage.co.uk

3 É evidente que a Linguagem Clara introduz metáforas e conduz a atenção – toda linguagem faz isto. A Linguagem Clara é "clara" porque ela só usa metáforas "universais" (de espaço, tempo e forma) o que deixa os clientes livres para processar, reagir e responder com qualquer informação que eles considerem relevante.

4 O trabalho de Caitlin Walker com a NIP foi apresentado num vídeo intitulado "Working with Imagery and Metaphor in Creativity"; produzido em 1999 pela Open University para o seu curso de MBA. Veja também o site da NIP www.nipltd.com.

Referências
Morgan, Gareth, Imagens da Organização
Morgan, Gareth, Imaginization, Sage, 1997.   Em espanhol Imagin-i-zacion
Lakoff, George & Johnson, Mark, Metáforas da Vida Cotidiana.
Lawley, James & Tompkins, Penny, Metaphors in Mind: Transformation through Symbolic Modelling, 2000

James Lawley foi gerente sênior na indústria de telecomunicações antes de cofundar a The Developing Company. Ele agora se especializou em facilitar gerentes e suas equipes a desenvolverem suas capacidades de pensar simbólica e sistemicamente, e a aprenderem a se modelar. Escreveu juntamente com Penny Tompkins o livro Metaphors in Mind: Transformation through Symbolic Modelling.

O artigo original, em inglês, "Metaphors of Organization - Part 2" encontra-se no site www.cleanlanguage.co.uk

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