A vida secreta da metáfora

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seg, 10/09/2012

A metáfora é mais conhecida como uma figura de linguagem através da qual descrevemos uma coisa em termos de outra, como na famosa frase de Shakespeare em Romeu e Julieta: "Julieta é o sol." Mas a metáfora é muito mais do que uma simples figura de linguagem empregada pelos poetas apaixonados quando se referem às suas amadas como massas interestelares de gás incandescente. A metáfora está intensamente, embora imperceptível, presente em tudo, desde a economia e a propaganda até a política e os negócios, na ciência e na psicologia.

A metáfora vive uma vida toda secreta em torno de nós. Nós falamos uma metáfora a cada 10 a 25 palavras, ou cerca de seis metáforas por minuto. A metáfora condiciona as nossas interpretações do mercado de ações e, através da propaganda, ela se infiltra sorrateiramente em nossas decisões de compra. Na boca dos políticos, a metáfora cutuca sutilmente a opinião pública; na mente dos empresários, estimula a criatividade e a inovação. Na ciência, a metáfora é a nomenclatura preferida para novas teorias e novas descobertas; na psicologia, é a linguagem natural das relações humanas e das emoções.

A metáfora é uma maneira de pensar muito antes de ser um estilo com palavras.

Novas pesquisas nas ciências sociais e cognitivas deixam, cada vez mais claro, que a metáfora influencia as nossas atitudes, crenças e ações de uma forma surpreendente, oculta, e frequentemente excêntrica. A metáfora finalmente saltou fora da página e pousou com um forte estardalhaço bem no meio do nosso curso da consciência. Esse impacto está causando um grande estardalhaço no campo da psicologia, através da terapia da metáfora

Através de um processo chamado de modelagem simbólica, os psicoterapeutas James Lawley e Penny Tompkins ajudam os clientes a criar e explorar as metáforas ao redor das emoções cruciais ou dos dilemas pessoais. Para aprender mais sobre a técnica, eu marquei uma sessão com eles. Algumas semanas antes do nosso encontro marcado, a minha mãe faleceu e eu decidi que a morte da minha mãe seria o ponto de partida para a nossa conversa.

Eu me encontrei com Lawley e Tompkins depois do funeral da minha mãe. Já havia passado o choque inicial. Eu tinha passado uma semana limpando a casa dela, a casa aonde eu crescera. As coisas agora estavam voltando ao normal. A rotina do dia a dia havia retornado. Enquanto eu me esforçava para identificar exatamente como me sentia, para reconciliar o contraste entre a intensidade da morte da minha mãe e o retorno abrupto à normalidade, o melhor que eu poderia sugerir era: "Nenhuma diferença."

"Mais alguma coisa sobre essa 'nenhuma diferença'?" Lawley perguntou.

"O sentimento está em toda parte, difuso", eu disse, "como um cobertor leve, que não é perceptível porque é muito leve. O mais notável sobre esse sentimento é que ele tem poucas características. É quase nada, como um papel de parede."

"Alguma coisa a mais sobre esse 'papel de parede'?"

"Você o ignora, especialmente se ele for sem graça."

"Alguma coisa a mais sobre esse 'papel de parede sem graça’? "

"Eu não gosto dele, é muito sombrio. Isso me lembra da casa aonde eu cresci."

Minha família se mudou para a casa em que eu cresci quando ela era nova, no início dos anos 70. Quando eu era adolescente, eu detestava aquela casa. Ela simbolizava para mim tudo que era frágil e opressivo ao crescer na periferia. A porta de madeira do meu quarto ainda tinha a profunda marca resultante do dia em que meu irmão jogou o seu sapato em mim e não acertou. O cabideiro de plástico no banheiro vivia caindo da parede toda vez que eu tentava pendurar uma toalha molhada. O gramado e a calçada ainda eram mantidos impecavelmente limpos, exatamente como todos os outros gramados e calçadas dessa rua impecavelmente limpa.

Ao examinar as coisas da minha mãe, fiquei impressionado com os poucos pertences pessoais que ela possuía. Ela tinha muitas quinquilharias – pratos comemorativos de Norman Rockwell, diversas placas com "uma oração irlandesa" impresso neles, umas bugigangas com teor patriótico – mas pouco além disso. As bugigangas continuavam aparecendo por todo lado, não apenas nas paredes como também nas gavetas, debaixo das camas, nos armários, muitos delas guardadas em sacos plásticos.

Minha mãe também tinha uma surpreendente coleção de enfeites de Natal e de Halloween, que ela embalava e guardava cuidadosamente depois de exibi-los durante as festas. Esse material sempre me deixou deprimido, um pouco como a monotonia impessoal de tudo isso, como o papel de parede.

Então, no armário do banheiro, debaixo de alguns envelopes velhos de aspirina, frascos de desodorantes para os pés e uma variedade de enfeites de Natal (todos guardados em sacos individuais de plástico), encontrei o álbum de fotos da minha mãe de quando ela estava no colégio secundário em 1944. Em suas páginas deformadas e bolorentas, estavam muitas fotos velhas, junto com os desenhos que eu tinha feito, quando criança, para o Dia das Mães, para o Natal e para os aniversários de casamento dos meus pais.

As fotografias mostravam a minha mãe em toda a sua glória – vestida como a Mãe Terra, enrolada em um lençol e com uma coroa de Natal de plástico na cabeça durante uma das muitas festas que meus pais realizaram no porão; na porta da frente durante a festa surpresa dos seus 50 anos, suspirando de prazer e incrédula enquanto observava a tia Peggy, com uma baliza, liderando o desfile dos amigos e parentes no meio da nossa rua; bronzeando-se em uma cadeira no jardim com fatias de pepino estrategicamente colocadas sobre os olhos.

Entre os meus desenhos coloridos de craion – cheios de balões, fogos de artifício e enormes corações vermelhos - tinha um bilhete no qual minha mãe explicava que estavam faltando os desenhos da minha irmã e dos meus irmãos porque tinham estragado em uma das frequentes inundações no nosso porão.

"Minha mãe era muito engraçada e divertida", eu disse. "O papel de parede sem graça encobria os remendos coloridos."

"Mais alguma coisa sobre esse 'encobria'?" perguntou Lawley.

"Isso é o que encobre os sentimentos. As memórias da minha mãe podem ser salpicos de cor."

"Quando você pensa nesses 'salpicos de cor', então o que acontece?"

"Não é mais tão sem graça. Ele se torna cheio de vida."

O papel de parede sem graça ocultava um monte de sentimentos – sobre a minha mãe, a minha infância, a casa em que eu cresci. Ao seguir a metáfora, auxiliado pelas sugestões gentis de Lawley, eu revelei as memórias e as emoções que tinham ficado empapeladas por tanto tempo.

Lawley e Tompkins são practitioners da "linguagem clara", uma forma de terapia através da palavra desenvolvida pelo psicoterapeuta neozelandês David Grove. Grove, que morreu em 2008 com cinquenta e sete anos, trabalhou com pessoas que sofriam de transtorno de estresse pós-traumático – veteranos de guerra, vítimas de crimes violentos ou de abuso psicológico ou sexual. Nos anos 80, ele começou a perceber que os clientes sempre falavam em metáforas quando descreviam as suas emoções mais preocupantes e as suas memórias mais traumáticas.

É bem fácil rotular uma emoção específica, como a dor pela morte de um ente querido, o medo, o orgulho ou a felicidade. É muito mais difícil transmitir a presente experiência qualitativa dessa emoção. Mas a linguagem metafórica pode descrever o indescritível. Dizer que a dor é como "ter o seu coração arrancado" ou que a alegria está "estourando no seu corpo como a rolha de uma champanhe" não é apenas a forma mais vívida de expressar a experiência desses sentimentos, é a única maneira de expressar a experiência desses sentimentos.

"Muito raramente podemos declarar o que uma coisa é, senão dizendo que é uma outra coisa", escreveu George Eliot no 'The Mill on the Floss'. Ao dizer que os meus sentimentos sobre a morte de minha mãe eram como um papel de parede sem graça, eu realmente descobri quais eram os meus sentimentos.

Lawley e Tompkins, que moram no Reino Unido, passaram cinco anos estudando com Grove para produzir um relato sistemático da abordagem dele à metáfora no livro 'Metaphors in Mind: Transformation through Symbolic Modelling'. "Eu percebi que, se não forçar as pessoas enquanto estiverem falando, elas naturalmente começam a usar a metáfora para descrever a experiência delas", segundo Grove. "Aí eu percebi que essa era uma outra maneira de estruturar a experiência. Eu decidi que a metáfora era uma linguagem completa digna de estudo."

Grove prestou atenção especial às metáforas dos clientes observando que elas, gradualmente, adquiriam um significado altamente personalizado. Se um cliente permanecia, por muito tempo, com uma metáfora, ela se tornava cada vez mais elaborada, evoluindo, muitas vezes, para uma espécie de parábola que contém uma lição importante. As metáforas têm uma estrutura consistente e uma relevância direta com a experiência do cliente. E Grove percebeu que quando as metáforas mudavam, as pessoas também mudavam.

Grove imaginou a linguagem clara como uma técnica para ajudar os clientes a desenvolverem as suas próprias metáforas – clientes com ou sem transtorno de estresse pós-traumático – e usarem essas metáforas para alcançar o insight emocional e a mudança psicológica.

A linguagem clara de Grove envolve a implacável busca do inesperado e do peculiar nas metáforas do cliente e o compromisso de apegar-se às próprias palavras e imagens do cliente. Permitir que o próprio inconsciente do cliente se analise por meio da metáfora é a chave de como funciona a terapia groviana.

Mas Grove acreditava que as metáforas do cliente eram únicas para os indivíduos em vez de terem um significado universal, como os arquétipos de Jung. Ele também também se deu ao trabalho de evitar a interpretação das metáforas do cliente, uma prática que ele acreditava que apenas se intrometia no processo terapêutico. Grove chamou a sua linguagem de "clara" precisamente porque ela restringia os pressupostos, as ideias e os preconceitos do próprio terapeuta. A linguagem clara pretende ser como uma lousa em branco na qual o cliente pinta um cenário metafórico. A técnica, ele disse uma vez a Lawley, é o cliente "interrogar a metáfora até que ela confesse as suas forças."

Para facilitar esses interrogatórios, Grove imaginou perguntas para eliciar e reforçar as metáforas do cliente. As perguntas de Grove enfocam a própria metáfora em si, não o que o cliente ou o terapeuta pensa sobre a metáfora. De acordo com Tompkins, o papel do terapeuta é "prestar atenção nas exatas palavras do cliente." "Você tem que andar lado a lado com a pessoa pela paisagem metafórica dela. Você tem que manter a atenção na experiência dela do momento. O poder de direcionar a atenção para onde as pessoas normalmente não procuram é enorme. Quando você perceber o incomum em uma metáfora, quando ouvir o choque na voz do cliente, você sabe que acertou no alvo."

Assim, quando o cliente usa uma metáfora em uma sessão regular, o terapeuta considera a frase ao pé da letra e começa a fazer perguntas sobre ela. "Quando alguém disser: 'Eu sou uma bomba-relógio,’ a lógica normal diz: ‘Isso não é real’, explica Lawley. "A linguagem clara pergunta: 'Que tipo de bomba? Existe alguma coisa a mais sobre essa bomba?'"

Para Grove, as metáforas carregam informações e essa informação só pode ser acessada por meio da própria metáfora, não pelas explicações engenhosas do terapeuta ou do cliente sobre ela. A explicação não é apenas desnecessária, mas também inútil. "As perguntas formuladas na linguagem ‘normal’ pedem que o cliente comente a sua experiência", Grove escreveu no seu livro Resolving Traumatic Memories: Metaphors and Symbols in Psychotherapy (Resolvendo as memórias traumáticas: as metáforas e os símbolos na Psicoterapia, em tradução livre). "Toda vez que ele fizer isso, ele sai do seu estado de introspecção para executar uma tarefa intelectual a qual interrompe o processo em que estamos trabalhando para encorajar e simplificar."

Esse processo - o processo de transformação pessoal - é sobre a experiência em vez da interpretação. A metáfora tem um poder paradoxal. Ela se distancia de uma experiência ao compará-la com alguma outra coisa, mas, na realidade, ao fazer isso se traz essa experiência para mais perto. "Ao falar sobre o que alguma coisa não é, você entende o que ela é," coloca Lawley.

"As nossas perguntas fornecem um formato, exteriorizando algum aspecto particular da experiência interna do cliente de uma forma que ele não experimentou antes," escreveu Grove. "A experiência é viva e real, não contida só nas palavras ou dissipada nas respostas. Nós estruturamos um ambiente internamente: o cliente vai experimentar em vez de descrever como é a experiência."

A linguagem clara não está limitada a encontros terapêuticos. Ela tem sido utilizada pela polícia britânica para ajudar os policiais em suas técnicas de entrevista; pelo Serviço Nacional de Saúde britânico para melhorar a comunicação médico/paciente; na Irlanda do Norte e na Bósnia como parte do processo de reconciliação pós-conflito, e pelas grandes empresas de consultoria como um aspecto dos seus métodos de treinamento de gerentes.

Caitlin Walker, uma consultora que desenvolve programas de aprendizagem e de desenvolvimento que enfocam problemas de diversidade, conflitos e de liderança, tem usado a linguagem clara com adolescentes britânicos indisciplinados no contexto das sessões de controle da raiva. Trabalhando com um adolescente que tem um longo histórico de brigas na rua, ela perguntou: "O que acontece pouco antes de você bater em alguém?"

"Eu simplesmente desligo, moça," ele respondeu, estalando os dedos. "Meu rosto fica corado. Simplesmente tudo fica quieto."

"Você 'fica corado'. Você 'desliga,'" Walker repetiu, usando as mesmas palavras do adolescente e também estalando os dedos. "’Simplesmente tudo fica quieto.’ E quando 'fica quieto,' que tipo de quietude?"

"Como persianas, moça," disse o rapaz, colocando as mãos em volta dos olhos, como uma viseira de cavalo. "Eu não consigo ouvir nada e é como se eu só pudesse ver a pessoa que está na minha frente. A próxima coisa que eu enxergo são as pessoas gritando, alguém deitado no chão, e eu encrencado."

Walker então explora o que acontece pouco antes dele bater em alguém: "Você ‘fica corado', e quando você ‘fica corado', qual é o tipo de vermelhidão?"

"Vermelho sangue. Simplesmente fica vermelho e eu fico com raiva, como se o meu sangue fervesse."

"E quando 'o seu sangue ferve’, o que acontece pouco antes de estar ‘vermelho sangue’ e ‘fervendo’?"

"Tudo está calmo!"

"E quando ‘tudo está calmo', ‘está calmo’ como o quê?"

"É um azul calmo, como o céu, como a minha mãe," respondeu ele, olhando para cima e, algo fora do comum, sorrindo.

"E um 'azul calmo, como o céu, como a sua mãe', em seguida um 'vermelho sangue’ como se o seu 'sangue fervesse,' e então o que acontece depois do 'sangue ferver'?"

"Eu fico enfurecido e ataco. Então fico fora de mim e corro, e olho para o céu e penso na minha mãe e respiro no azul até que o vermelho se vá."

Através desse interrogatório claro, Walker ajudou o garoto a enxergar todo o espectro de pensamentos e de sentimentos que precedem uma briga violenta. Ela pediu que o rapaz pensasse nas suas metáforas coloridas da próxima vez que sentisse que ia perder a calma, e usasse as metáforas para se livrar da situação antes dos seus punhos começarem a se mover no ar.

Na próxima vez que se encontraram, ele contou: "Você sabe que eu fico corado. Bem, ontem eu senti que isso ia acontecer. Eu me levantei de manhã, azul e relaxado, aí eu vi meu pai bêbado - vermelho! Aí tive que colocar a mesma roupa suja porque ele não tinha lavado as roupas - vermelho! Não tinha dinheiro para o ônibus - vermelho! Estava com frio e atrasado para a escola - vermelho! Chegar na escola e ficar de castigo, vou ficar vermelho e como ninguém vai dizer nada, ele ferve! Aí, eu pensei, se eu for a pé para a escola, eu passo pelo lago com os patos e se parar e ficar olhando para a água, porque isso me deixa azul e se eu respirar no azul e pensar na minha mãe, então eu não vou ferver tão rápido."

Agora, toda vez que esse menino sentir que está ficando corado, ele respira no azul do lago perto da sua escola. Com a raiva sob melhor controle, ele tem sido capaz de, pela primeira vez, começar a fazer amizades com seus colegas.

Essa translação da metáfora para a vida real é o princípio central da terapia groviana. Para incentivar essa transição, Grove frequentemente solicita que os clientes realmente façam alguma coisa relacionada à metáfora deles, uma técnica que ele assimilou de Milton H. Erickson, um psiquiatra que se especializou na hipnose clínica.

Erickson, muitas vezes, usava parábolas no seu trabalho terapêutico, acoplando-as com tarefas específicas para os clientes representarem. Um dos clientes de Erickson era alcoólatra. Erickson contou a esse homem sobre o cacto suculento, como a planta conservava a água e como sobrevivia por até três anos no deserto, sem chuvas. Ele depois disse que o homem deveria ir ver os cactos no jardim botânico local. Erickson nunca mais ouviu falar do homem. Muitos anos depois desse cliente ter morrido, a filha dele visitou Erickson para lhe dizer que seu pai tinha se mantido sóbrio desde o dia em que foi ao jardim botânico.

Erickson chamava essas tarefas de "atribuições de função ambígua", mas a função delas em promover mudança psicológica tornou-se muito menos ambígua desde que ele começou a realizar experiências com elas. Ao descrever emoções penosas, muitas vezes usamos metáforas de contenção: mantemos contidos os nossos sentimentos, lacradas as nossas memórias ruins e os nossos ressentimentos enterrados. Para testar se a representação física dessas metáforas tem impacto psicológico sobre a experiência dessas emoções, os pesquisadores em Cingapura e no Canadá inventaram a sua própria atribuição de função ambígua.

Primeiro, eles pediram que os participantes colocassem no papel as lembranças de uma decisão recente da qual eles se arrependeram. Em seguida, metade do grupo, lacrou seus textos em um envelope antes de entregá-los; a outra metade não. Quando mais tarde, perguntaram como eles se sentiam sobre a lamentável decisão, aqueles que haviam lacrado as suas lembranças em um envelope relataram, de modo significativo, menos emoções negativas.

Em um experimento relacionado, a mesma equipe de pesquisadores pediu que os sujeitos anotassem duas coisas: o relato de uma reportagem sobre a morte acidental de uma criança e os planos para o fim de semana. Metade do grupo lacrou o relato sobre a morte da criança dentro de um envelope, a outra metade lacrou seus planos para o fim de semana. Os pesquisadores descobriram que aqueles que haviam lacrado a história da morte da criança recordavam menos detalhes do evento do que aqueles que tinham lacrado os seus planos para o fim de semana. A conclusão deles: o encerramento físico ajuda a alcançar o encerramento psicológico.

Grove também usou atribuições de função ambígua com seus clientes. Se, por exemplo, um cliente dissesse: "Eu estou em um túnel de tijolos e não consigo ver a saída," Grove pode ter mandado o cliente para o museu de transportes para aprender sobre túneis, ao pedreiro para aprender como construir um túnel ou para uma loja de faça você mesmo para comprar material e construir a réplica de um túnel. Objetivo: transformar insight em ação.

Depois que eu terminei de limpar a casa da minha mãe, só tinha um lugar para olhar: o sótão. A entrada para o sótão era pelo forro do armário do meu quarto. Eu sabia que nós nunca havíamos guardado muita coisa lá em cima, porque era lá onde eu escondia as minhas coisas - em particular, os meus diários de adolescente - que eu não queria que a minha mãe descobrisse. Ainda assim, pensei que devia conferir o sótão só para ter certeza de que nada havia ficado para trás.

Quando coloquei a cabeça no sótão, descobri três caixas de chapéu em más condições. Em cada uma delas havia um chapéu da minha mãe dos anos 60. Eu reconheci um deles, em particular: um pequeno feito com penas de um rosa brilhante. Fotos em preto e branco da minha mãe usando esse chapéu estavam entre as fotos que eu tinha encontrado no seu álbum do colégio.

O chapéu estava coberto por uma fina poeira preta e algumas penas tinham caído. Mas, apesar dos quase quarenta anos no sótão, ele ainda estava inteiro.

Levei o chapéu para casa. Eu o limpei e fiz alguns reparos. Ele agora ocupa lugar de destaque na nossa lareira, um pequeno toque colorido da minha mãe.

Esse é um extrato editado do livro de James Geary: I is an Other: The Secret Life of Metaphor and How It Shapes the Way We See the World, publicado em fevereiro de 2011 pela HarperCollins.

James Geary foi escritor do Time Europe e agora é editor da revista Ode. Seus livros incluem "Geary's Guide to the World's Great Aphorists" e o bestseller The World in a Phrase. Seu último livro é I is an Other: The Secret Life of Metaphor and How It Shapes the Way We See the World. Sua homepage é www.jamesgeary.com

O artigo The Secret Life of Metaphor foi publicado pela primeira vez na revista Ode (© Ode Magazine USA, Inc.) em fevereiro de 2011 e se encontra no site www.cleanlanguage.co.uk

Tradução JVF, direitos da tradução reservados.

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