Vigie sua linguagem! - Linguagem clara e modelagem simbólica

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qua, 15/08/2001

Em seu primeiro livro, The Structure of Magic, 1, (A Estrutura da Magia, 1) Richard Bandler e John Grinder aprofundaram o estudo sobre a fonte da "magia" descrita por Freud. Ele explicaram que, quando as pessoas usam a linguagem, elas estão criando um modelo ou representação de sua experiência. Essa experiência, por sua vez, baseia-se em sua percepção do mundo. Completando o ciclo, essas percepções são formadas e limitadas pelo modelo.

Se uma pessoa disser: "A vida é simplesmente uma corrida de ratos com um obstáculo atrás do outro", essa pessoa está dando ao ouvinte uma visão de sua própria paisagem mental. Jamais ocorreria a ela perceber os eventos da vida como "um suave passeio de barco" ou "um pedaço de torta", porque esses não são consistentes com a corrida cheia de obstáculos que forma o seu modelo de vida. Ela espera obstáculos, portanto suas percepções estão ligadas em perceber ainda mais obstáculos. É a velha síndrome de: "se tudo o que você possui é um martelo, todas as coisas lhe parecerão um prego".

Você pode ter uma imagem vívida, e quem sabe até humorística da corrida de ratos pulando um obstáculo após o outro. Mas como todos os especialistas em PNL sabem, o seu mapa não é o território daquela pessoa. Embora, de seu ponto de vista, procurar manter a corrida ou remover os obstáculos possa parecer uma maneira lógica de mudar a experiência dela, não há garantia de que isso vai funcionar para ela.

O uso terapêutico da linguagem pela PNL, nos modelos Meta e Milton, funciona admiravelmente nos domínios sensoriais e cognitivos da experiência. Existe um terceiro domínio – metáforas – e, agora, um terceiro modelo linguístico que pode ser usado para explorar as paisagens metafóricas que as pessoas descrevem à medida que partilham sua experiência mental. No início dos anos 80, o terapeuta David Grove, nascido na Nova Zelândia, estudou as transcrições de renomados terapeutas, como Virginia Satir e Carl Rogers. Grove compreendeu que esses terapeutas afastavam continuamente seus clientes de suas estruturas referenciais – e de metáforas nas quais os sintomas deles se codificavam. Através de uma reformulação sutil das palavras que o cliente dizia, os terapeutas introduziam seus próprios mapas de mundo.

Por exemplo, em resposta à frase do cliente: "Eu estou preso, sem saída", um terapeuta pode dizer: "O que aconteceria se você encontrasse uma saída?" Essa pergunta pressupõe que "encontrar uma saída" é o que o cliente precisa. A pressuposição vem do mapa do terapeuta, e não do cliente. Grove pressupõe que se "estar preso" faz parte da metáfora do cliente, deve haver informações valiosas sobre isso. Ele desenvolveu algumas perguntas muito simples que honram e preservam a experiência do cliente. As primeiras cinco perguntas básicas destinam-se a ajudar os clientes a acrescentar detalhes e dimensões às suas percepções.

  1. E há alguma coisa mais a respeito de [palavras do cliente]?
  2. E que tipo de [palavras do cliente] é esse [palavras do cliente]?
  3. E isso [palavras do cliente] é como o quê?
  4. E onde está [palavras do cliente]?
  5. E [palavras do cliente] está perto de quê?

Note que as perguntas empregam algumas metáforas comuns ao "mapa" de todos – qualquer coisa diferente (conteúdo livre mas pressupõe que haja algo mais a ser descoberto); espécie de (categoria); semelhante a (comparação); e onde/perto de que (localização). Devido ao fato de que as perguntas contêm pressuposições mínimas, elas são chamadas de "Linguagem Bem Formulada" ou "Perguntas Bem Formuladas".

James Lawley e Penny Tompkins, psicoterapeutas de Londres, estudaram as técnicas de Grove durante alguns anos. Em seu livro, recentemente publicado, Metaphors In Mind: Transformation through Symbolic Modelling 2, eles oferecem uma explicação detalhada da sintaxe das perguntas e de como são usadas. A seguir, uma versão simplificada.

No caso do cliente "preso", eis o que acontece quando se usam Perguntas Bem Formuladas com três pessoas diferentes que "estão presas, sem saída".

Terapeuta: E que tipo de "prisão sem saída" é esse "preso sem saída"?

Cliente 1:
Meu corpo inteiro sente-se como que afundando no chão.

Cliente 2:
Não posso ver nenhuma saída à frente. Tudo está nublado.

Cliente 3:
Todas as portas que me foram abertas estão fechadas.

Note que os significados que os três clientes atribuem para "preso" são muito diferentes. Eles continuam metafóricos, mas podem não corresponder ao significado de "preso" para o terapeuta. Quantos pensariam em fazer perguntas sobre "nuvens" ou "portas", quando um cliente diz que está "preso"?

As Perguntas Bem Formuladas têm tripla função:

  • Primeiro, elas reconhecem a experiência do cliente exatamente como ele a descreve, sem "contaminação" do mapa do terapeuta.
  • Segundo, elas dirigem o cliente para algum aspecto de sua percepção ou experiência.
  • Terceiro, elas colocam o cliente em busca do autoconhecimento.

É difícil discutir Perguntas Bem Formuladas sem considerar o que elas realizam. Elas são uma ferramenta que os terapeutas usam para ajudar os clientes a explorar os símbolos e metáforas que formam suas paisagens mentais. Metáforas são muito mais do que maneiras "interessantes" de descrever percepções. Elas são o "material" que forma as paisagens mentais. São muito diferentes das percepções ou descrições cognitivas. Por exemplo, um cliente pode dizer: "eu vejo vermelho". O terapeuta pode presumir que essa afirmação significa a mesma coisa como "estou zangado". De fato, a "cor vermelha" pode ser um componente crítica da experiência da pessoa. A menos que o cliente aborde o "vermelho", a mudança pode ser difícil ou, no mínimo, temporária.

Usando o método de Perguntas Bem Formuladas, Lawley e Tompkins desenvolveram um modelo terapêutico que facilita aos clientes a automodelagem ou a exploração de sua própria paisagem metafórica. Eles chamam isso de Modelagem Simbólica. O modelo pressupõe que os clientes tenham acesso aos recursos necessários para mudar. O papel do terapeuta é assistir os clientes no desenvolvimento da familiaridade com seus símbolos mentais – juntando informações sobre seus mundos simbólicos. Quando tiver emergido bastante informação – quando padrões maiores ou relacionamentos forem percebidos – a mudança muitas vezes ocorre espontaneamente.

Você pode questionar-se sobre como as Perguntas Bem Formuladas ajudam o terapeuta a compreender a experiência do cliente o tanto necessário para ajudá-lo a realizar a mudança. Elas não ajudam! Como Tompkins e Lawley apontam, essa é uma nova maneira de pensar sobre a terapia. Ela está centralizada na informação, mais do que no cliente ou no terapeuta. O terapeuta, ainda assim, precisa manter o rapport com o cliente – deve usar acuidade sensorial e acompanhamento minucioso para tornar as perguntas mais eficazes. Mas o terapeuta não precisa compreender o significado ou a razão da metáfora do cliente. O terapeuta simplesmente trabalha com aquilo que é. O cliente é que deve tornar-se consciente de como seus símbolos interagem para formar seu mundo – tanto dentro como fora.

No livro Metaphors in Mind, Lawley e Tompkins explicam as Perguntas Bem Formuladas e a Modelagem Simbólica, muito melhor do que eu poderia fazê-lo. Portanto, eu gostaria simplesmente de partilhar minha experiência sobre o processo. Foi-me dito por outros praticantes da PNL que eu reajo à polaridade. Claro, eu discordo! No entanto, aceitando que pode haver um pouco de verdade na percepção deles, aqui vai o que uma Pergunta Bem Formulada pode fazer para uma pessoa que reage à polaridade.

Eu acredito firmemente na pressuposição da PNL de que a comunicação é de responsabilidade de quem a faz. Quando eu faço uma afirmação e alguém "repete" sua própria versão daquilo que eu disse, sinto-me compelida a negociar até que sua versão corresponda àquilo que eu disse "realmente". Eu penso nisso como um acordo por aproximação sucessiva! Consideremos, então, o que acontece quando alguém repete exatamente aquilo que eu disse. Porque nada foi mudado, eu não tenho obrigação de achar outra maneira para dizê-lo. Quando a repetição do outro junta-se a uma pergunta, eu imediatamente procuro a resposta, ao invés de "explicar-me". Exemplo:

Eu: Algo está me prendendo.

Terapeuta: O que a impede de ir para frente?

Eu: Bem, não é que eu não queira ir para frente... (seguida de uma longa explicação sobre o que eu quis dizer em primeiro lugar.)

A pergunta do terapeuta afasta-me de uma consideração sobre "algo" que "está me prendendo" e muda minha atenção para 1.) esclarecer minha afirmação; e 2.) ir para frente.

E se o terapeuta dissesse: "Algo está prendendo você. E quando algo está prendendo você, existe alguma coisa mais sobre esse algo que a está prendendo?"

Essa pergunta não contém nada que eu precise esclarecer. Eu estou sendo dirigida para "algo que está me prendendo" e continuo a explorar isso, numa tentativa de responder à pergunta – e, assim, aprender mais sobre isso por mim mesma.

Durante um seminário sobre Modelagem Simbólica, é impressionante a rica variedade de paisagens metafóricas que emergem através de Perguntas Bem Formuladas. Mundos quadridimensionais desabrocham para a existência – três dimensões espaciais movendo-se no tempo. Uma pessoa tem duplicatas de tudo – paredes, flores, pássaros e cores. A paisagem de outra parece limitada a um pequeno canto da sala. À medida que o treinamento continua, os símbolos exigem que se lhes fale diretamente, ao invés de através do "cliente". Cursores piscando nos computadores vistos pelo canto dos olhos tornam-se o coração pulsante de uma mãe. Os símbolos tomam forma e, com eles, a percepção e o comportamento do participante no "mundo real". No final do primeiro dia, todos estão cuidando onde pisam na sala – preocupados em não pisar sobre a "realidade" de alguém!

Quando se faz uma pergunta a um participante, é difícil que os outros não a respondam intimamente, a partir de seus próprios modelos. Ao ouvir a resposta, muitas vezes eles ficam surpresos, dizendo: "Eu jamais pensaria nisso!" A variedade infinita de símbolos metafóricos e relações que formam a experiência de uma pessoa são lógicos somente dentro do quadro da paisagem metafórica dessa pessoa.

Lawley e Tompkins reportam que, após uma sessão de terapia, os clientes os cumprimentam por terem entendido "como é que eu sou". Na verdade, eles não fazem isso. O que eles fazem é manter acompanhamento meticuloso da linguagem do cliente, às vezes voltando atrás e juntando alguns símbolos numa simples pergunta. E quando "algo está me prendendo" e "uma capa longa" e "uma rocha enorme" e "uma águia sentada no meu ombro", o que acontece depois? Essa pergunta aparentemente sem lógica faz perfeito sentido no mundo metafórico do cliente.

"O que acontece depois"? é uma das quatro Perguntas Bem Formuladas básicas, juntamente com "O que acontece imediatamente antes de ...?" "De onde ... veio?" e "Então, o que acontece?" Essas nove perguntas são usadas mais ou menos 80% das vezes. 25 perguntas adicionais podem ser usadas de maneira esparsa, uma vez que a paisagem simbólica tenha sido desenvolvida. Lawley e Tompkins contam sobre um estudante principiante que facilitou uma grande mudança em seu companheiro, fazendo-lhe a mesma pergunta repetidamente. Quando perguntaram a ele como é que ele sabia manter aquela pergunta, o estudante admitiu que era a única pergunta que ele conseguia lembrar! Muitas vezes, menos é o máximo!

Perguntas Bem Formuladas e Modelagem Simbólica funcionam? Durante meu treinamento de três dias, eu vi muitas mudanças de percepção acontecerem entre os participantes. Minha própria experiência foi sutil, à medida que eu vi uma rocha mudar-se numa âncora. O que isso significa? O que sei é que depois do seminário eu completei um livro que vinha escrevendo e deixando de lado há anos. A rocha "me segurava". A âncora me centrou.

Metaphors in Mind contém diversas transcrições completas dos trabalhos que Lawley e Tompkins fizeram com seus clientes. As transcrições são anotadas de forma que, além de mostrar o fluxo da Linguagem Bem Formulada, o leitor compreende o que está acontecendo. Além do Metamodelo e do Modelo Milton o Modelo de Metáfora e Perguntas Bem Formuladas seriam um acréscimo importante ao treinamento em PNL. David Grove, James Lawley e Penny Tompkins proporcionaram aos terapeutas uma ferramenta tremendamente eficiente para ajudar os clientes a criar uma mudança abrangente e ecológica.

Mais informações sobre Perguntas Bem Formuladas e Modelagem Simbólica, ou para pedir Metaphors in Mind, visite o site http://www.cleanlanguage.co.uk

  1. Bandler, Richard e John Grinder (1975) The Structure of Magic. Vol. 1. Palo Alto, CA. Science and Behavior Books.
    Em português, A ESTRUTURA DA MAGIAEditora Guanabara Koogan
  2. Lawley, James e Penny Tompkins (2000). Metaphors in Mind: Transformation through Symbolic Modelling. Londres, Inglaterra. The Developing Company Press.
  3. Tompkins, Penny e James Lawley (1997) "Less Is More... The Art of Clean Language." Rapport Magazine, Ed. 35, Fevereiro, 1997.
     

O artigo original "Watch Your Language! Clean Language and Symbolic Modelling" encontra-se no site: www.cleanlanguage.co.uk

Publicado na Anchor Point de Março 2001
Golfinho impresso Nº78 JUL/2001
Trad. Hélia Cadore.

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