Padrões de Linguagem no Tribunal

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qui, 15/04/1999

Quando escrevo um relatório para o Tribunal em nome de outra pessoa, é uma tentativa direta de influenciar a experiência subjetiva do juiz através da palavra escrita. Tal narrativa não é meramente uma contemplação da história do outro, mas também um documento planejado para influenciar. Mudanças sutis na expressão qualitativa de uma ideia em particular, impactarão a experiência dos leitores de uma maneira similar à maneira que as submodalidades impactam sobre os sistemas representacionais. Um aspecto particular disto é o uso de certas formas da narrativa na segunda pessoa. O uso enriquecedor da narrativa na segunda pessoa pode ser um meio mais efetivo de afetar inconscientemente o pensamento do juiz.

Essencialmente quando eu estou escrevendo um relatório para o Tribunal, eu estou contando a história de uma outra pessoa. O quanto vão acreditar nela, pode ser influenciado pelo uso de certas formas da narrativa na segunda pessoa. Neste aspecto, é importante não somente o que eu digo no relatório, mas como eu expresso isto. Naturalmente uma maneira de fazer isto, que iria aumentar para uma mudança digital, seria omitir a narrativa na segunda pessoa e então oferecer a historia como um fato. Magistrados e Juízes são perspicazes e logo iriam questionar a objetividade do documento se esta fosse a única estratégia que eu empregasse. Consequentemente eu venho, nos últimos dezoito meses, desenvolvendo estratégias de linguagem para melhorar a forma na qual eu conto a historia do cliente através do uso da narrativa na segunda pessoa.

Minha mente tornou-se particularmente focada neste assunto quando um dia eu estava de serviço no Tribunal de Jovens de uma cidade chamada Northallerton, localizada no topo do vale de York. Esta localidade, um tanto idílica, não é famosa pelo seu alto nível de delinquência juvenil e consequentemente nem pela experiência ou habilidades discursivas dos seus advogados. Naquela tarde em particular, um julgamento estava em andamento a respeito de um jovem agredido por outros quatro jovens. A agressão real não estava em questão, mas o que preocupava os magistrados naquele dia eram os requintes da agressão.

Como o advogado de defesa estava de novo questionando uma testemunha da acusação, eu notei que sempre que a testemunha relatava sua história, o advogado meticulosamente repetia o que havia sido dito sem formulá-lo com alguma narrativa na segunda pessoa. Isto fazia parecer como se fosse um fato. A conversa era algo como:

Testemunha de acusação: "Eu estava a uma distância de cerca de 10 jardas e X, Y e Z estavam batendo na cabeça e no corpo de A."

Advogado da defesa: "Você estava a uma distância de cerca de 10 jardas e X, Y e Z estavam agredindo A."

Isto criava uma certa representação dos fatos que parecia não ser particularmente favorável à defesa. O padrão de linguagem que estava realmente sendo usado parecia reforçar o caso da acusação. O que ele poderia ter dito era:

" Você diz que estava a cerca de 10 jardas de distância e que X Y e Z estavam agredindo A?"

O uso especial desta narrativa na segunda pessoa pressignifica a declaração que segue. Isto predispõe a mente e a prepara para processar as palavras que se seguirão de uma maneira pressuposta. Efetivamente isto é um método velado de encorajar o ouvinte a pensar sobre o conteúdo de uma maneira em particular. Como consequência desta observação, eu me tornei cada vez mais curioso sobre que efeito poderia usar para salientar o impacto dos meus relatos no Tribunal, variando o uso da narrativa na segunda pessoa. Eu tenho notado que utilizando a variedade de formas de linguagens é possível alterar a força qualitativa de uma declaração em particular. Seguidamente, relatores ou advogados na sala do Tribunal tentam criar uma mudança digital na experiência subjetiva do juiz através da apresentação dos dados, sem prestar atenção para os pressupostos da forma da linguagem que podem fazer com que o juiz pense sobre os dados apresentados de uma forma completamente contrária a qual pode dar uma ideia diferente do que os relatores ou advogados "realmente" pensam sobre o cliente. Sua habilidade para melhorar a eficácia da linguagem usada pode ser aumentada através do uso de padrões analógicos de linguagem tais como a narrativa na segunda pessoa.

Isto pode ser dividido em quatro diferentes categorias que eu tenho notado têm um variado impacto sobre o leitor. Quando ler este artigo, eu pediria para você reparar como as diferentes formas impactam sua própria experiência e imaginar o efeito que tais declarações terão no Tribunal.

FORMAS PEJORATIVAS

Estas formas tenderão a ter um impacto negativo sobre a história que eu estou relatando.

Se você notar estas formas sendo muito usadas em um relato, isto tende a ser uma clara indicação de que o escritor é cético sobre o que esta sendo dito, e isto será inconscientemente captado pelo Tribunal. Exemplos disto seriam:

"Ele diz que lamenta a infração."

"Ele fala que ele lamenta a infração."

‘Ele disse que ele lamenta a infração."

"Ele me falou que ele lamenta a infração."

Pode ser apropriado usar estas formas, particularmente quando o infrator tem um longo registro de infrações ou quando a evidência é tal que o Tribunal terá uma visão muito negativa. Nestas circunstâncias usando esta linguagem pode ser um meio de desenvolver rapport com o Tribunal.

FORMAS NEUTRAS

De uma perspectiva puramente profissional, estas são as formas que eu usaria nos meus relatos. Elas são as palavras que nós devemos considerar para sermos objetivos. Naturalmente você não pode influenciar através do uso aparente de palavras neutras. Todas palavras influenciam, e em muitos casos, estas formas podem ter um impacto muito grande na experiência subjetiva do juiz mais do que as formas descritas acima. A variação do seu impacto também pode ser muito grande. Compare, por exemplo, as formas neutras seguintes, e note o seu impacto:

"Ela falou dos seus sentimentos de arrependimento por ter cometido esta infração."

"Ela mostra que ela sente arrependimento de ter cometido esta infração."

Outras formas nesta categoria, incluiriam:

"Ele me informa ", " Ele reafirma", "Ele lembra", "Ele admite", "Ele relata", "Ele reporta", "Ele descreveu", "Ele falou de", e "Ele explicou".

Compare as formas das duas categorias acima e note a diferença no impacto que elas tem sobre a sua experiência interna.

"Ele diz que a janela da cozinha foi deixada aberta e que ele entrou através dela."

"Ele lembra de ter visto que a janela da cozinha foi deixada aberta e ter entrado através dela."

Cada uma destas sentenças pressupõe o que você pensa acerca do mesmo conteúdo de maneiras ligeiramente diferentes. Ajustando conscientemente estas formas, você mudará inconscientemente a maneira como a outra pessoa pensa sobre o assunto.

PALAVRAS CHAVE

Estas são aquelas palavras que eu poderia usar e que auxiliariam no processo global de reunir informações para o Tribunal. Elas podem ser muito úteis em transferir informação baseada nos dados sensoriais coletados na entrevista. A este respeito você usa o processo de entrevista como um meio para influenciar o juiz. Por exemplo:

"Tornou-se claro na entrevista que ..."

"A partir das minhas observações sobre ela durante a entrevista ..."

"Quando nós falamos sobre o delito ela ficou visivelmente perturbada ..."

"Eu notei durante a preparação do relato que ..."

Eu posso então usar estas declarações para trazer outras informações mais questionáveis. Por exemplo:

"Quando nós falamos sobre o delito ela tornou-se visivelmente perturbada sobre as consequências para a vítima e sua própria família."

Compare isto com usar uma forma pejorativa como:

"Ela diz que ela está perturbada sobre as consequências do delito para a vítima e sua própria família.

SUBMODALIDADES

Existem também algumas palavras que parecem afetar as submodalidades da declaração sem serem palavras óbvias que a PNL iria classificar como predicados de submodalidade. Neste sentido, elas parecem ser métodos ocultos ou secundários para influenciar outras pessoas enquanto sendo forma de narrativa na segunda pessoa. Elas são provavelmente menos sutis do que algumas das formas acima, mas são um valioso modo de realçar a história do infrator. Alguns exemplos são os seguintes:

"Ele expressou seu arrependimento por ter cometido este delito."

"Ele salientou seu arrependimento por ter cometido este delito."

Outras formas que poderiam incluir-se nesta categoria seriam "afirmou", "acentuou", "enfatizou" ou "foi firme". O uso de tais palavras parece pressupor que existe um grande impacto sobre o infrator. Isto irá obviamente afetar o modo como o juiz pensa sobre a historia do infrator.

CONCLUSÃO

Por prestar mais atenção a estas pequenas palavras que mantém unida a linguagem que você usa , é possível sutilmente influenciar seja quem for o leitor. A ultima vez que eu fiz um controle sobre a aceitação das minhas proposições de como o Tribunal deveria tratar com os infratores, eu tive uma taxa de aceitação de 92%. Isto foi durante um período de 5 anos, a maior parte com os Tribunais da Corte (Tribunais com jurisdição de grandes áreas metropolitanas que tratam somente com os casos mais sérios das infrações tais como roubo, assalto, abuso sexual, incêndio premeditado, etc.). Nenhuma das minhas proposições foi para aprisionamento.

Artigo original publicado na Anchor Point mar/97
Tradução: J.V.F. 
Revisão: M.H.Lorentz

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