Escrito por:
Publicado em:
A PNL tem dois tipos de pressuposições – as linguísticas e as epistemológicas. As pressuposições linguísticas, objeto desse artigo, descrevem a informação ou as relações que devem ser aceitas como verdadeiras para fazer sentido do que está sendo falado para o ouvinte. As pressuposições epistemológicas são as crenças, regras ou princípios essenciais que formam a base de um sistema. Por exemplo, os sistemas matemáticos são construídos sob um grupo de regras básicas. As pressuposições da PNL podem ser vistas como um grupo fundamental de princípios de como você pode escolher viver a sua vida.
A pressuposição linguística é algo que está abertamente expressa no corpo da declaração em si, que deve ser pressuposta ou aceita para que a frase ou a forma da expressão faça sentido. É uma inferência que pode ser feita a partir da estrutura da linguagem e que fornece um caminho a partir das palavras faladas por alguém (muitas vezes chamada de estrutura superficial) para o que está realmente acontecendo dentro da pessoa (sentimentos internos, pensamentos, memórias, crenças, valores – a estrutura profunda). Pressuposições linguísticas permitem que o universo interno do orador seja revelado, e assim presumido pelo ouvinte pelas palavras que a pessoa está usando. A informação que a pessoa revela pela conversa não é necessariamente acurada ou correta, porém irá revelar o que ela considera como verdadeira no modelo de mundo dela. Como o ouvinte passa a conhecer as representações internas do orador, ele pode usar diferentes estruturas de sentenças ou uma mudança nas palavras para oferecer ao orador, representações alternativas internas para a consideração dele – e assim auxiliar potencialmente o orador a expandir o seu modelo do mundo.
Identificando as pressuposições linguísticas
Como recebedor de uma comunicação, é importante distinguir entre o que está pressuposto numa comunicação e o que você sobrepõe ou supõe, baseado na sua interpretação da comunicação através dos seus filtros, história, crenças e valores. Quantas vezes você já não esteve conversando com alguém e fez uma suposição sobre o que ele estava dizendo somente para descobrir que você tinha suposto errado! Isso acontece muito seguido e pode ser a causa de equívocos ou argumentos, resultando em perdas de amizades ou relacionamentos. Essas inferências, deduções ou conjecturas que nós inferimos do que está sendo falado (baseado em como nós enxergamos o mundo ou nossas crenças) são muitas vezes chamadas de adivinhações.
Por exemplo, considere a seguinte frase: "Ivan saiu da cidade ontem depois de causar um considerável sofrimento." Quais das seguintes afirmações são pressuposições e quais são adivinhações?
- Tem uma pessoa chamada Ivan.
- Ivan irá voltar e causar mais sofrimentos.
- Ivan feriu fisicamente alguém.
Eu fui malandro aqui – todas elas são adivinhações! Ivan pode ser muitas coisas – uma pessoa, um cachorro, um furacão,... Não existe nada na frase que pressuponha que Ivan vai retornar. Ivan causou sofrimento e nós não sabemos se foi físico ou emocional. Você identificou todas como adivinhações ou você fez suposições baseadas no seu modelo do mundo?
Mais exemplos:
- Leia a seguinte frase e depois decida o que está pressuposto: "Os pais da minha esposa tratam meus filhos de maneira diferente porque eles têm deficiência física." Eu tenho uma esposa – sim; minha esposa tem pais, sim; eu tenho filhos – sim; meus filhos são tratados de maneira diferente – sim; meus filhos têm deficiência física – adivinhação, pode ser que os deficientes sejam os pais da minha esposa.
- Considere o seguinte: "Minha vida é uma confusão." Isso pressupõe que o orador tem o conhecimento do que seria se a vida dele não fosse uma confusão? Por exemplo, você só sabe que algo está quente se você tem a compreensão de como é o "não" quente (ou frio). Ao invés de impor seu modelo de "não confusão" no orador, nós precisamos ficar curiosos e descobrir o que ele quis dizer (internamente) por confusão e como a partir da perspectiva dele, isso poderia ser diferente.
- Agora considere a frase: "Eu não consigo consertar o problema." Assumir que o orador não sabe como consertar o problema é uma adivinhação. É bem possível que o orador saiba como resolver o problema, mas não seja capaz de fazê-lo agora, possivelmente devido a restrições no tempo ou a recursos financeiros limitados.
- Quando você lê o seguinte, o que você imagina? "Quando foi a primeira vez que seus filhos lhe bateram?" Você pensou em bater num contexto de violência física ou no sentido competitivo de vencer num esporte ou jogo, ou em alguma outra coisa? Pela informação fornecida, nós não sabemos o que significa "bater".
Usando Pressuposições Linguísticas
Você pode usar as pressuposições linguísticas para ajudar o seu ouvinte a adquirir uma perspectiva diferente sobre um problema ou o mundo em geral. Por favor, preste atenção: da perspectiva da PNL, nós respeitamos o modelo do mundo da outra pessoa e somente ajudamos o nosso ouvinte a enxergar as coisas de modo diferente, se ele nos deu permissão.
Você também precisa ficar consciente das pressuposições que usa na sua linguagem diária e como elas podem ter um impacto significativo sobre o ouvinte. Por exemplo, meu pai faleceu recentemente e muitas pessoas bem-intencionadas disseram algo como: "Eu sei que você está triste com a perda do seu pai." Para essa frase fazer sentido, eu tinha que aceitar a pressuposição de "estar triste" e o que você acha que era o impacto disso sobre o meu estado emocional? Agora considere a frase "Eu sei que você irá ter força para enfrentar a perda do seu pai." Isso não me colocaria num estado mental diferente?
Para adquirir uma melhor perspectiva do poder das pressuposições linguísticas, considere os seguintes exemplos:
- "Você quer falar sobre o seu problema hoje ou na nossa próxima sessão?" A principal pressuposição, ou o que o ouvinte deve aceitar para fazer sentido da frase, é que "ele irá falar sobre o problema". De uma maneira similar, você pode dizer para seus filhos: "Você gostaria de ir para cama agora ou daqui a meia hora." Na realidade, eles podem ter muito mais opções para escolher. Entretanto, se eles aceitarem a pressuposição da frase, as escolhas deles estarão limitadas a agora ou em meia hora. Isso é chamado de amarração dupla.
Eu já usei inúmeras vezes a amarração dupla e sempre com ótimos resultados. Certa ocasião, eu estava tratando com uma grande empresa e vinha obtendo evasivas do staff deles. Felizmente, eu tinha documentado todas as nossas comunicações. Finalmente, escrevi uma carta pra cada um dos diretores, com um anexo fornecendo todos os detalhes de como fora tratado. As frases finais da minha carta eram a seguinte: "Ou vocês apoiam integralmente como o seu staff lidou com isso ou vocês se comprometem a resolver isso de uma maneira mutuamente satisfatória para todos os envolvidos" (note a amarração dupla). Duas semanas mais tarde, eu recebi uma oferta que excedeu todas as minhas expectativas!
- "Não resolva esse problema tão ligeiro." A pressuposição é que isso seja possível de ser resolvido e a única dúvida real é a velocidade na qual será resolvida.
- "Depois que você tiver terminado esse exercício, você irá notar como é fácil fazer as mudanças que deseja na sua vida." Nessa frase as duas pressuposições são: "o exercício será concluído" e "é fácil fazer mudanças".
- "Já que você se ofereceu para esse exercício, você está fazendo agora as mudanças." Pressupõe que o ouvinte "já está fazendo as mudanças" – quaisquer que sejam elas.
- "Sobre que assunto você quer falar hoje?" Essa questão é simples, direta e se foca na atenção do ouvinte no fato que ele irá falar sobre um assunto hoje. Você pode acompanhar essa frase com uma amarração dupla como: "Você quer falar sobre o assunto A ou o B?"
- Compare as duas frases seguintes: "Você continua melhorando o seu relacionamento com a sua família?" com "Você está melhorando o seu relacionamento com a sua família?" A palavra "continua" na primeira frase implica que o ouvinte já está melhorando o seu relacionamento, enquanto que na segunda frase não existe esse envolvimento.
Para as pressuposições linguísticas serem efetivas, elas devem ser aceitas pela mente inconsciente do ouvinte. Obviamente, para essa atividade é essencial o rapport e o ouvinte ter segurança, como no caso de qualquer outra atividade de mudança.
Roger Ellerton PhD, CMC é um consultor certificado de administração e fundador e sócio gerente da Renewal Technologies. O artigo acima é baseado no seu livro Live Your Dreams Let Reality Catch Up: NLP and Common Sense for Coaches, Managers and You.
O artigo acima foi traduzido na íntegra do original sob o título "Linguistic Presuppositions" que se encontram no site da Renewal Technologies.
Tradução JVF, direitos da tradução reservados.