Sentindo falta da bebida

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ter, 08/10/2013

A maioria de nós gosta de relaxar com alguns drinques – mas para alguns isso pode sair do controle.
Hoje, muitos estão procurando a terapia para se curar do hábito de se exceder na bebida.

Grant Woodward nos relata sobre esse fenômeno do século 21.

A cultura da bebida

  • As pessoas na Grã Bretanha bebem, numa noite, mais álcool do que qualquer outro dos seus vizinhos europeus. Nos seis países pesquisados, a Grã Bretanha tinha a maior taxa de consumo - uma média de 6,3 unidades.

  • Beber em excesso é definido como o consumo, em pelo menos um dia por semana, de mais do que duas vezes o limite seguro recomendado pelo governo, que é de três a quatro unidades de álcool para o homem e de duas a três unidades para a mulher.

  • O consumo em excesso entre as mulheres quase duplicou desde 1998, segundo pesquisa da Fundação Joseph Rowntree.

  • A polícia alega que os diferentes horários de encerramento que surgiram desde a entrada em 2005 da legislação que permitiu aos pubs ficarem abertos as 24 horas do dia, exigem mais policiais para a ronda da madrugada.

Quando Nick Kemp levou um grupo de clientes para um jogo de críquete que foi adiado por causa de chuva em Headingley, ele ficou surpreso com o que viu. Tendo escapado para um pub devido ao cancelamento do jogo, ele observou com assombro como cada um dos seus companheiros engolia uma dúzia de pints de cerveja. (Um pint, pronuncia-se "paint", é a capacidade de uma caneca de cerveja com 0,568 litro vendida nos pubs da Grã Bretanha. – NT)

"Eu ia pagar a conta porque era despesa da empresa," ele recorda. "Para mim, chegou uma hora em que fiquei curioso para ver o quanto eles conseguiriam beber."

E embora alguns possam achar que o total de 12 pints não seja um excesso, isso talvez só enfatize a maneira que a Grã Bretanha se encontra atualmente no controle do beber em excesso.

Hoje, trabalhando como terapeuta que ajuda as pessoas a superarem distúrbios, vícios e fobias alimentares, Nick está sendo muito procurado porque a sociedade luta contra as tentações da cultura da bebida.

"Há um certo ponto em que as pessoas percebem que sair e se divertir é diferente do que sentir que toda a sua vida está sendo gasta participando de um padrão como o Dia da Marmota (ver https://pt.wikipedia.org/wiki/Dia_da_marmota ou Feitiço do Tempo)," diz Nick direto do seu consultório situado no Centro de Terapia The Orchard, em Horsforth, Leeds.

"Quando as pessoas vêm me ver, não é porque elas querem parar de se divertir. Elas na realidade só querem ter algum controle para que o modo de beber fique adequado para elas."

"Não que eu ache que as pessoas deveriam beber, mas o que é melhor para elas no contexto do que elas sentem como o seu bem-estar, suas obrigações, seus relacionamentos, e assim por diante." Nick diz que pessoas diferentes têm definições diferentes do que significa beber em excesso. "Têm algumas pessoas que saem três ou quatro vezes por semana para beber e não acham que bebem em excesso."

"Elas podem ter saído na sexta-feira à noite para beber seis ou sete pints, e de repente, também na terça e na quarta-feira, depois na maioria das noites e mais tarde também na hora do almoço. E antes que percebam, estão na realidade, consumindo muito mais álcool do que antes. E, em alguns casos, nem percebem até que algo aconteça e vejam tudo começando a desmoronar.

"Mas isso não é o mesmo que ser um alcoólatra. Elas não são viciadas, mas estão comportamentalmente amarradas à bebida."

Um dos mais jovens clientes de Nick tinha 19 anos quando sua mãe fez contato depois que a bebida começou a colocar o jovem em apuros.

"Ele saía, começava tomando um pint e, mais tarde, acordava na delegacia de polícia," Nick recorda. "Ele literalmente bebia até desmaiar. Ele já estava identificado na polícia porque também brigava, mas depois não se lembrava de mais nada. Após algumas sessões ele começou a fazer as coisas de um modo diferente."

"Mais tarde, recebi um grande depoimento da sua mãe dizendo que ele tinha começado a se interessar por outras coisas. Na época em que ele bebia em excesso, seu mundo tinha se resumido a apenas uma coisa."

"Ao fazer isso, ele excluía todo o resto – e para muita gente isso significa que coisas como o trabalho e a vida familiar podem sofrer. E, muitas vezes, elas não entendem o grito de alerta até acabar na prisão ou no tribunal."

Os clientes do Nick vão desde adolescentes a operários e executivos, mas ele diz que aqueles que lutam para controlar o seu consumo têm, muitas vezes, traços essenciais de personalidade em comum.

"Eles tendem a ser muito ativos mentalmente – no contexto do trabalho, na maior parte do tempo, são capazes de cumprir prazos, organizar as coisas e planejar de forma muito eficaz. É que eles, em suas vidas emocionais, tendem a negligenciar o consumo de álcool em excesso como uma forma de fazê-los se sentir bem. De repente, eles não conseguem mudar o comportamento de modo que isso se torna normal. Todas as pessoas que eu encontrei que tinham esse tipo de problema de controle não eram realmente muito boas em diminuir a tensão, isto é, em relaxar.

Rótulo

"Elas tendiam a estar muito ligadas, sempre se antecipando ao que ia acontecer. E para lembrar, toda ansiedade é expectativa, todo relaxamento é estar no aqui e agora."

A primeira coisa que Nick tenta determinar é a que horas elas mais tendem a beber. "Geralmente, é quando estão sozinhas, entediadas ou com muito tempo para pensar. Elas bebem menos quando estão empenhadas em fazer outras coisas. Mas pode haver inúmeras razões. Um cliente achava que beber em excesso era uma obrigação social.

"Ao beber, ele fazia parte da sociedade de modo que era isso o que ele fazia. Depois se tornou parte da sua identidade – ele bebia o tempo todo."

Nick usa as técnicas da hipnoterapia e da Programação Neurolinguística para conseguir que o cérebro se desloque do pensamento de beber em excesso para o pensamento de beber uma quantidade moderada e desfrutar da sensação de ficar no controle.

Aquelas que vêm pedir ajuda podem ter que mudar os padrões que servem de reforço para a sua compulsão. "Uma pessoa disse, ‘toda quinta-feira eu encontro Bob na academia de ginástica e depois nós tomamos umas cervejas’. Então, em todos os lugares que eles vão tendem a reforçar o comportamento. Ao mudar os padrões, você tem que mudar os hábitos. Mas, como a compulsão alimentar, isso nem sempre foi assim. A pessoa não tinha três anos de idade e dizia: ‘Um pint de cerveja para mim’. É um comportamento aprendido."

"Analisando porque elas têm o que têm é uma abordagem limitada porque, muitas vezes, elas já pensaram nisso um milhão de vezes. Então a questão não é 'Por que estou fazendo isso?', é mais, 'O que eu preciso fazer de diferente do jeito que eu acho?'"

Se a Grã Bretanha continuar a liderar o caminho do beber em excesso, parece que Nick Kemp tende a ficar muito ocupado.

O artigo original "Missing the pint" encontra-se no site Provocative Change Works

Tradução JVF, direitos da tradução reservados.

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