Espaço dos leitores
Uma folha de papel em branco. Poderia ser a tela do computador, algo já bastante comum para algumas pessoas. Uma caneta ou um teclado. Pronto. Tenho todos os elementos para começar a escrever. Falta um: uma ideia. Muitos escrevem a partir de uma notícia de jornal. Alguns buscam até nos classificados. Basta lê-los, escolher um e imaginar um pouco: quem foi a pessoa que o escreveu?
Por exemplo, por que será que ela quer vender "um par de patins usados uma única vez" (como certa vez eu vi)?
Aliás esta é a ideia que eu escolhi e usarei. O anúncio não dizia mais nada além da frase, um endereço e um nome feminino. Imaginei que fosse uma mãe aflita. Deve ter cedido à vontade do filho, apesar de ser contra. Mãe tem disso.
O seu "contra" pode ter sido originado pelo seu medo, que deve tê-la impedido de sequer enunciar o desejo para seus próprios pais.
Seu filho, feliz com o ganho, vestiu os patins. Iniciou seu aprendizado. Pequenos tombos ligam o sinal de alerta na cabeça da mãe. O menino (ou seria uma menina?) ousa. Sente-se seguro (afinal foi só um tombinho de nada) e quer ir mais longe. Com mais velocidade. Não consegue fazer a curva e leva "aquele" tombo... Chora de dor e a mãe o acode. Apenas umas manchas roxas e um galo na testa. Porém, na imaginação da mãe, misturando com seus próprios medos, pinta um quadro negro. Uma perna quebrada ou pior, um atropelamento. E se o menino (ou menina) for para rua com estes patins perigosos? Num segundo, com a velocidade do pensamento, a sua criança já está no hospital, cheia de gesso!
A decisão está tomada "chega de patins!" O telefone é acionado e, na mesma hora, apesar dos protestos de seu amado filho, no jornal do dia seguinte, lá está o anúncio...
Tomara (pensei) que ninguém atenda ao anúncio! Ou que a mãe reflita um pouco e desista da venda! Afinal o sonho de uma criança não se mata no primeiro tombo.