Uma das pressuposições básicas tanto da PNL como do trabalho de Milton H. Erickson, M.D. é que as "pessoas têm dentro delas, o recurso fundamental que elas precisam para mudar."

Uns anos atrás, logo depois do meu primeiro treinamento em PNL, um evento particular me fez tomar consciência do poder desta pressuposição fundamental. Num domingo de manhã, enquanto minha esposa Linda estava preparando o café da manhã, minha filha mais nova, Michelle, colocou sua mão no queimador do forno elétrico, deixando-a com uma queimadura de segundo grau na sua mão esquerda.

Nesta época Michelle tinha cerca de dois anos, e suas habilidades de comunicação eram bastante limitadas. Eu estava na sala lendo os jornais de domingo. Minha esposa, que é enfermeira diplomada, é muito boa em cuidar das queimaduras e machucados de nossos filhos, e por isso eu não me envolvi de imediato.

Quarenta e cinco minutos depois, Michelle ainda estava gritando e chorando. Eu decidi ir ver se tinha algo que podia fazer para ajudar. Quando entrei na sala onde Linda e Michelle estavam sentadas, eu decidi simplesmente observar por um tempo. Percebi rapidamente que na maior parte do tempo, quando Michelle estava gritando, Linda estava segurando-a junto ao corpo, tentando confortá-la. Fiquei um pouco preocupado de que ela estivesse inadvertidamente ancorando a dor com este contato particular. Também percebi que mais ou menos a cada 45 a 50 segundos, Michelle parava de gritar por cerca de 10 segundos, e então de novo prosseguia no seu choro histérico.

Eu sugeri para Linda que ela colocasse a Michelle deitada no tapete, com um travesseiro embaixo da cabeça, onde ela poderia deitar confortavelmente. Neste momento, eu não tinha nenhuma ideia do que estava ocorrendo com a experiência subjetiva interna da Michelle. Mas eu estava razoavelmente certo de que, quando ela estava experimentando os 10 segundos de descanso, isso representava algum tipo de experiência interna com recursos, a qual para ela, seria bom ser desenvolvida.

Como Michelle estava chorando deitada no chão, cada vez que ela ficava quieta, eu poderia ancorar este estado tanto cinestesicamente com um toque como auditivamente com um sussurro. Depois de repetir diversas vezes essas ancoras, e testar para ver se elas funcionavam, comecei a disparar as duas ancoras simultaneamente em cada expiração (a fase relaxada da respiração). Eu mantive a aplicação das ancoras em ritmo com a sua respiração e logo ficou cada vez menor o tempo do choro e os períodos calmos se tornaram mais longos. Cerca de três minutos depois, ela espontaneamente fechou os olhos e caiu num sono profundo.

Antes, Linda tinha tentado em vão, fazer a Michelle aceitar algum tipo de tratamento na mão coberta de bolhas. Ela não permitia que nada tocasse a sua mão, nem mesmo água fria. Mas depois que ela adormeceu, nós fomos capazes de colocar a mão dela dentro de uma tigela de água fria.

A coisa mais fascinante aconteceu quando a Michelle acordou duas horas depois. Parecia que o seu conforto estava agora ancorado na tigela de água. Ela ficou agitada e voltou a chorar apenas com a sugestão para tirar a mão de dentro d'água, ou com qualquer tentativa de levar a água embora. Então eu sugeri que se derramasse um pouco de água numa toalha e que ela enrolasse a toalha na mão. Ela concordou com isso e funcionou muito bem para manter o conforto dela sem a tigela.

Depois eu quis colocar na sua mão um pouco de gel de aloe vera (um remédio altamente recomendado para tratamento de queimaduras), mas ela rejeitou. Quando insisti um pouco mais, ela de novo começou a chorar. Eu voltei atrás rapidamente e decidi perguntar ao próprio inconsciente dela o que poderia ser benéfico. Eu simplesmente ofereci uma pressuposição para esta pequena menina de dois anos de que algo dentro dela saberia o que ela precisava para ajudar a curar rapidamente a sua mão e se sentir "OK." Eu sugeri que ela deixasse esta parte dela falar.

Em resposta, Michelle disse que queria um pouco de Coca (Coca Cola), e assim fui para a cozinha. Eu presumi que o que ela queria era beber a Coca, e portanto voltei e lhe ofereci um copo de Coca. Ela disse: "Não, pai. Coloca na minha mão."

E aí eu hesitei por um tempo porque todo o meu conhecimento médico e lógico sugeria que Coca Cola na sua mão queimada e com bolhas, seria muito abrasivo. Mas, por conta própria, ela retirou a toalha da mão e, com prudência, foi em frente com a sua iniciativa.

O que se seguiu foi quase divertido. Minha filha derramou a Coca Cola na sua mão queimada sem pestanejar. E depois quis que se derramasse um pouco da Coca na toalha que estava usando. Depois de alguns minutos usando a toalha molhada com Coca, ela jogou a toalha para o lado e pediu para ir brincar.

Durante o resto da tarde, Michelle brincou com suas bonecas, segurando-as com a sua mão queimada como se nada tivesse acontecido. Não chorou nem reclamou da mão ou da dor pelo resto do dia. E a cada vez que eu ia verificar a mão dela, o inchaço e o vermelhão estavam diminuindo. Ainda mais surpreendente, na manhã seguinte, a sua mão parecia completamente normal como se nada tivesse acontecido.

Você não vai encontrar esse procedimento de cura para queimadura descrito em nenhum livro médico. Na verdade, eu suspeito que muitos médicos não iriam olhar com bons olhos esse tratamento para queimaduras. Em nenhuma circunstância, alguém que esteja lendo esse artigo, interprete essa experiência com minha filha como representação de um bom tratamento químico para queimaduras.

A ciência médica moderna normalmente não espera que a cura ocorra rapidamente. Quando acontece, é comumente rejeitada pelos médicos como um embuste, um diagnóstico errado ou "placebo" (falado como se eles soubessem o que é isto). Os fenômenos de cura rápida são raramente registrados nos artigos médicos, muito menos estudados ou modelados.

Dr. Bernie Siegel é um dos médicos pioneiros que reconhecem que existe uma categoria de "pacientes excepcionais" que ficam curados bem mais rápido do que esperado, ou que vivem quando não se espera.

A PNL é um modelo que tem pavimentado o caminho para reunir o corpo e a mente, que a medicina vem tentado separar desde o tempo do filósofo Descartes. A PNL está começando devagar a modelar os ingredientes perceptuais e as sequências envolvidas na cura rápida, como o Tratamento da Alergia pela PNL de Dilts, Hallbom e Smith, ou o tratamento de Connirae Andreas para a infecção utilizando as submodalidades das memórias de cura. Naturalmente, Robert Dilts tem feito extensos trabalhos sobre o relacionamento das crenças tanto na doença como na saúde, observando que a cura rápida pode seguir frequentemente uma mudança de crença. Outros como Joseph Scanlon, relatam a modelagem de padrões comportamentais de curadores tradicionais que induziram a cura rápida.

Muitos mais trabalhos são necessários nessa área. Com o tempo, nós podemos descobrir que o caminho mais saudável e mais exato para ajustar a química do corpo é através da mente. Mas a fim de fazer esse trabalho, a pressuposição guia deve ser que "as pessoas têm dentro delas os recursos que necessitam para a mudança e a cura." Como o Dr. Norman Cousins chamou a atenção, o cérebro humano é uma fábrica farmacêutica maravilhosa produzindo pequenas quantidades de cada substância química que nós conhecemos, que podem operar no corpo, e de muitas outras que ainda não conhecemos. A tarefa dos PNListas, ao facilitar a cura rápida, é descobrir e modelar os silêncios para a eliciação e mobilização desses maravilhosos recursos internos.

Eu acredito que a intervenção acima descrita, funcionou com a minha filha porque, mesmo quando eu não tinha ideia do que fazer ou como proceder quando ela estava sofrendo, eu sabia que ela tinha dentro dela os recursos essenciais de que necessitava. Tudo que eu precisava fazer era ajudá-la a mobilizar seus próprios recursos. Quando eu fui suscetível para ela com esta suposição, usando tanto minhas próprias habilidades de observação como a utilização do estado de recursos internos de cura dela, minha filha foi capaz de se curar muito mais rápida e profundamente do que se eu a tivesse forçado a um tratamento baseado no conhecimento convencional.

Todos nós que usamos a PNL, podemos usar os lembretes frequentes para manter e usar os bons fundamentos. Os fundamentos da PNL que foram aplicados nessa situação são:

1. Pressuposição
2. Acuidade sensorial
3. Feedback
4. Utilização e
5. Ancoragem.

Quando passei por essa situação, eu não sabia antes o que fazer. Eu não tinha nenhuma "técnica da PNL para queimaduras" para aplicar. Mas juntos, nós geramos uma solução de cura criativa e apropriada para a situação dela. Desse então, eu tenho usado muitas vezes estas mesmas habilidades, quando necessito caminhar através de territórios desconhecidos para ajudar a encontrar soluções de cura para os pacientes.

Jon M. Sward, Ph.D., J.D. é o Diretor e conselheiro do Centro Internacional para Melhoria da Função Humana em Wichita, no Kansas, EUA. Ele é conselheiro para clinica de saúde mental certificado, médico psicoterapeuta certificado e também Master Practitioner em PNL. Seu endereço é 3100 N. Hillside, Wichita, Kansas 67219.

Artigo republicado na revista Anchor Point Vol. 19 Nº 1
Publicado em Jan/1991