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"O que você ouve repetidamente, eventualmente você passa a acreditar."
Mike Murdock
Practitioners, em muitos campos, têm um conjunto de crenças tácitas que são comumente aceitas e que guiam o seu comportamento. A educação não é exceção. "A sabedoria convencional" guia o comportamento daqueles envolvidos no ensino dos estudantes. O problema com essas crenças inconscientes é que elas raramente são reexaminadas para validação. Elas mantêm o seu poder através da linguagem diária e passam de uma pessoa para outra como um vírus.
Pensamento vírus
"Os estudantes devem aprender o básico antes de poderem tentar resolver problemas mais complexos."
"O papel primário do professor é dar aos alunos o conhecimento de que eles precisam para atuarem efetivamente no mundo."
"Uma boa ordem é a base para um bom ensino."
Tais afirmações são crenças. Ditas com convicção, elas assumem a autoridade do locutor. A mente as aceita como verdade – como informação real. Tais afirmações são o que o psicólogo Robert Dilts chama de "vírus do pensamento". (1) Um vírus do pensamento é uma crença limitante – uma generalização ou uma distorção retirada de uma experiência, mas hoje separada do seu contexto. O perigo do pensamento vírus é que, como contêm alguma verdade, como são parcialmente verdadeiros em alguns contextos, as pessoas estão menos propensas a questionar a sua validade.
Afirmações tais como, os estudantes são motivados pelas notas e, devem aprender o básico antes que possam tentar resolver problemas mais complexos, soam como fatos. Entretanto, nem sempre são verdadeiras. Quase todos podem se recordar de situações onde o oposto é verdadeiro. Essas não são as "exceções" para o fato. Elas são indicadores que nos permitem saber que a afirmação é uma crença e não um fato – SE nós estivermos prestando atenção.
Afirmações factuais simples, que são unânimes, são frequentemente independentes do contexto. Afirmações de que a neve é branca, a fórmula da água é H2O, e que Seattle fica ao norte de Los Angeles são verdadeiras no contexto que as pessoas encontram na vida diária. Quanto mais complexa se tornar uma afirmação e menos definidos forem os termos usados na afirmação, menos provável será a afirmação conseguir uma concordância geral.
A fim de se chegar a um acordo, as pessoas devem especificar o contexto e negociar a definição dos termos para terem certeza de que significam a mesma coisa para todos. Infelizmente, quando as pessoas pensam em algumas situações onde uma afirmação é verdadeira, elas frequentemente a aceitam como verdade sem mais negociação. É assim que as crenças se tornam instituídas como "fatos".
Muitos vírus do pensamento educacional são uma parte tão profunda da estrutura da vida diária nas escolas que eles são duplamente difíceis de detectar. Os professores simplesmente balançam suas cabeças a tais afirmações. Não é caso de decepção. É que apenas a linguagem da educação tem o poder de definir o comportamento dos professores.
Vamos examinar algumas das afirmações listadas acima. (Para ver como você foi "infectado" por pensamento vírus semelhantes, veja Self-Inventory no livro Teaching in Mind: How Teacher Thinking Shapes Education.) Você pode descobrir que, inicialmente, você concorda ou discorda das afirmações. O mais importante é identificar em que base você concorda ou discorda.
1. Os estudantes devem aprender o básico antes de poderem tentar resolver problemas mais complexos. Você já não aprendeu alguma coisa onde começou com o básico e depois trabalhou avançando para conceitos mais complexos? Você já não aprendeu algo onde você saltou para um nível razoavelmente complexo e eventualmente foi empregando seus esforços até chegar no básico?
A maioria das pessoas responde "sim" para as duas perguntas, portanto a afirmação original é só parcialmente verdadeira. Melhor dito, é verdade em alguns contextos mas não em outros. Como tal, é inapropriado usar a afirmação como verdade permanente ou regra com o propósito de tomar decisões sobre como organizar o conteúdo acadêmico. Ainda assim essa afirmação é usada como base para a maioria dos livros textos e para planejar os cursos escolares!
2. O papel primário do professor é dar aos alunos o conhecimento de que eles precisam para atuarem efetivamente no mundo. Essa afirmação pressupõe diversas coisas. Primeiro, é possível para um professor "dar" conhecimento aos estudantes. Pesquisas sobre o conhecimento gerado interiormente colocam essa suposição em sério questionamento.
Segundo, a afirmação pressupõe que o professor sabe qual é o conhecimento que o estudante vai precisar. Embora seja razoável assumir que todos os estudantes vão precisar das habilidades básicas de alfabetização e aritméticas, o que essa afirmação significa para os professores de outras matérias além destes níveis?
O perigo nessa afirmação é que muitos professores foram vítimas do mito que o seu principal papel é dar informação aos estudantes. Dar é parte da metáfora do "conhecimento como objeto". A palavra dar é extremamente poderosa na definição do papel dos professores. A afirmação original soa como uma afirmação de fato - de sabedoria – de verdade, porém, de novo, ela é verdadeira em somente alguns contextos. É um pensamento vírus.
As decisões baseadas em generalizações independentes do contexto são tomadas com informações insuficientes, em relação ao que acontece com as tomadas num contexto específico. Por exemplo, habitualmente, manter os estudantes em silêncio com base no pensamento vírus de que uma sala de aula silenciosa contribui para o aprendizado pode inibir, tanto quanto favorecer, o aprendizado.
Se você está atento de que contextos diferentes mudam a verdade da afirmação, você está correto no caminho para reconhecer o perigo inerente em tais crenças limitantes. Para evitar infecção pelo pensamento vírus, é imperativo questionar a "sabedoria convencional" da educação perguntando: "Existe alguma situação em que isso é ou não é verdade?"
Os professores baseiam as suas decisões num conjunto de suposições básicas sobre o aprendizado, o conhecimento, o ensino e a natureza dos estudantes. Ensino cuidadoso exige identificar se estas suposições são válidas ou se, na realidade, são pensamento vírus. O importante é se a afirmação é verdadeira no contexto presente. Se não, as decisões baseadas nessa afirmação serão, algumas vezes, inapropriadas.
Certamente é mais fácil aplicar as mesmas regras para todas as pessoas e todas as situações do que ter que avaliar constantemente cada situação e decidir qual a ação apropriada. O custo desta "facilidade" é a negligência. Para o argumento de que não temos tempo para avaliar cada situação, eu concordo com Norman Cousins: "É um absurdo dizer que não temos tempo suficiente para ficarmos totalmente informados... O tempo utilizado para pensar é o que maior poupador de tempo". (2)
Referências
- Dilts, R. B. (1999). Sleight of Mouth: The Magic of Conversational Belief Change, CA: Meta Publications, 117
- Peter, L. J. (1977). Peter’s Quotations: Ideas for our Time. New York: Bantam Books, 494
Artigo original: "The Power of Language" não está mais disponível online.
Tradução JVF, direitos de tradução reservados.