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A transformação essencial é uma ferramenta poderosa para acordarmos para o espírito que vive dentro de cada um de nós. Esse processo pode complementar a jornada de qualquer pessoa que esteja buscando mais contato com sua natureza espiritual.
Da mesma forma que a imagem de Davi, libertada pela visão de Michelangelo e suas mãos maravilhosas, nossa verdadeira essência como seres espirituais vem à luz à medida que esculpimos as camadas de "material sombrio" que nos impedem de experimentar plenamente o Davi que vive em nosso interior. No entanto, diferentemente de Michelangelo, nós não podemos simplesmente esculpir nossas sombras (aspectos de nós mesmos que procuramos esconder ou negar, porque os consideramos inaceitáveis). Nós precisamos transformá-los.
Connirae Andreas, que desenvolveu o processo da Transformação Essencial, afirma, em sua fita audiovisual: "A Espiritualidade na PNL":
" [Algumas] partes de nós podem conectar-se profundamente, e de imediato, ao sentido de nossa natureza espiritual... e depois, temos outras partes de nós que surgem na vida diária e parecem totalmente diferentes... Nós meditamos, rezamos, fazemos o que quer que seja para desenvolver nossa natureza espiritual. E também temos essas outras partes que se zangam, sentem ciúme, que se enfurecem contra as coisas, que às vezes ficam intimidadas, que não parecem muito espirituais...
[Através da Transformação Essencial] nós olhamos para nossas partes não espirituais, em busca do Espírito que perdemos em algum lugar."
Essas palavras me fizeram pensar, quando as ouvi pela primeira vez há alguns anos atrás. Eu estava procurando uma maneira de lidar com aquelas partes inaceitáveis de mim mesma, que pareciam polarizar com meu desejo de desenvolvimento espiritual. Essa polarização atormentou-me durante muito tempo. Era importante para mim apresentar-me como uma pessoa amável, mas nem sempre eu me sentia amável e gentil.
Lembro-me bem de uma noite, quando eu estava no curso colegial, em que me senti cheia de raiva, com aversão por mim mesma e vergonha, tudo sem uma razão aparente. O aparecimento ocasional desta sombra terrível me perturbava muito, e naquela noite, especialmente, eu estava banhada em lágrimas, sentindo-me vazia, sozinha e sem recursos interiores para acalmar-me. A solução que encontrei, então, foi ligar para uma amiga e timidamente confessar-lhe que pessoa horrível era eu. Não me lembro de sua resposta específica, mas sei que me senti libertada pela experiência de admitir a ela a existência dessa sombra, e de ter recebido o abraço da sua amorosa aceitação de mim, com minha sombra e tudo. Apenas isso foi suficiente para libertar-me naquele momento, até que descobri outros recursos para uma solução mais completa.
Muitos autores e líderes no campo da espiritualidade, hoje em dia, estão tratando da necessidade de incluir em nosso trabalho espiritual alguma prática para abraçar e integrar (mais do que tentar transcender e passar por cima de) nossas sombras. Paradoxalmente, a escuridão é a fonte de nossa grande luz. Eu, por exemplo, aprecio a maneira direta, confiável, oferecida pela prática da Transformação Essencial para ajudar-nos a transformar nossas "sombras."
Brenda era uma participante de um seminário de Transformação Essencial. Ela estava lutando contra uma dependência de maconha. Como psicoterapeuta, ela trabalhava com crianças e adolescentes; sendo assim, tentava desesperadamente esconder sua dependência. Embora ela não fosse trabalhar sob a influência da droga, enquanto estava no trabalho sentia-se obsessivamente ansiosa para ir para casa e fumar. Com grande coragem, ela identificou a transformação dessa dependência como seu primeiro objetivo durante o seminário. O que ela descobriu foi que a finalidade positiva subjacente de seu vício era a busca de um profundo sentimento de paz. Ela buscara esse sentimento desde criança, mas jamais o experimentara plenamente. À medida que ela foi sendo guiada através de cada passo do processo de Transformação Essencial, ela foi capaz de integrar esse sentimento de paz em sua vida – passada, presente e futura - de tal forma que nunca mais sentiu a compulsão por fumar maconha.
Dois meses depois, ela reportou a liberdade que havia encontrado. "Eu não preciso mais disso... ["Paz Interior"] está integrada em todo o meu corpo e membros, não apenas em minha cabeça e em meu coração. Eu nem sequer penso mais nisso..."
Em seu maravilhoso poema "Canção de um Homem que Venceu,". D.H.Lawrence exclama,
Quem está batendo?
Quem está batendo à nossa porta à noite?
É alguém que quer fazer-nos mal.
Não, não, são os três anjos estranhos.
Deixemo-los entrar, deixemo-los entrar.
A prática da Transformação Essencial impulsiona-nos insistentemente na direção de nossa verdadeira natureza, que Pitágoras descreveu como nossa "divina humanidade".
Não importa que pensamentos sombrios, sentimentos e comportamentos tenhamos, a finalidade positiva que bate à porta da consciência (sob a forma de limitação) tem tudo a ver com acordar para nossa natureza espiritual. Quando abrimos carinhosamente a porta e buscamos um diálogo profundo com esses anjos estranhos, nós redescobrimos aspectos de nós mesmos que estavam escondidos na escuridão. Tipicamente descrita por palavras como "Paz", "Amor", "União com Deus", "Ser", e "Integridade", a finalidade positiva essencial é uma fonte que gera mudança e cura, que dá apoio à nossa busca de entrar em contato com nossa natureza espiritual.
Em minha própria experiência na prática da Transformação Essencial ao longo do tempo, eu tenho experimentado surpresas maravilhosas ao descobrir que algumas partes sombrias são transformadas mesmo sem minha participação consciente. Outras pessoas têm reportado descobertas semelhantes. Como em qualquer prática, em algum ponto a Transformação Essencial parece ter vida própria. Nossas mentes inconscientes tornam-se tão familiarizadas com o processo, que podemos perceber nossa entrada em estados profundos de paz e alegria, resolvendo nossas limitações com facilidade e naturalidade.
Através da prática da Transformação Essencial, nós começamos a apreciar de todo coração, ao invés de julgar e rejeitar, as partes de nós mesmos que ainda permanecem na sombra. Quando nós seguimos nossos desejos profundos através das sombras, isso nos guia com segurança ao nosso verdadeiro eu – ao Espírito que está dentro de nós.
Anchor Point, Abril 2001.
Trad. Hélia Cadore
Publicado no Golfinho Nº79 de AGO/2001