Transformação Essencial: Caminho para a autoaceitação

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sex, 23/07/2004

A cliente sentada à minha frente lutava contra as lágrimas, à medida que se esforçava para expressar o seu objetivo ao trabalhar comigo. "Eu simplesmente me sinto sempre tão tola, tão inepta e sem valor. Acho que a maioria das pessoas que me conhecem ficariam surpresas ao ouvir-me dizer isso; eu tenho conseguido esconder muito bem. Mas, cada vez mais, parece-me impossível vencer mais um dia. Eu odeio a minha vida, e odeio esses sentimentos. Eu quero simplesmente sentir-me normal, aproveitar minha vida; mas nada do que já tentei funcionou."

Eu fiquei olhando e ouvindo aquela mulher talentosa, inteligente e amável, com seus punhos cerrados, a voz embargada, e a dor evidente em seu rosto; e pensei sobre as numerosas vezes em que ouvi a mesma história, com pequenas diferenças. "Eu odeio minha vida, eu não sou bom como deveria, eu não mereço amor, eu tenho vergonha do meu corpo, eu sinto muito medo, eu não posso continuar ..." Eu já ouvi isso tudo, e muitas vezes de indivíduos que, na superfície pareciam ter tudo em ordem, no controle de suas vidas, atingindo seus objetivos, e com todas as razões para se sentirem bom consigo próprios e com suas vidas. No entanto, sob aparências cuidadosamente construídas, encontra-se uma dor com muitas máscaras – solidão, medo, raiva, culpa, e uma variedade de outros sentimentos que foram engarrafados e contidos por tanto tempo.

Durante 17 anos de trabalho com organizações e indivíduos visando a facilitar a mudança, eu tenho me surpreendido ao ver o quanto esse tipo de desconforto emocional/espiritual prevalece em tantos de nós, desde a mãe incapaz de ver uma saída para sua condição até o Presidente de uma corporação de bilhões de dólares, brilhante na condução de seus negócios mas subjugado pelo desespero em sua vida pessoal. Quando as camadas são retiradas e nossos personagens que eram cuidadosamente mantidos são afastados, permanece o medo de que talvez não sejamos bons o suficiente e de que as pessoas comecem a ver através de nossa fachada; e o vento frio e rude da solidão começa a soprar em algum lugar vazio, no mais profundo de nosso espírito. Tendo vivido pessoalmente minha infância, adolescência e início da vida adulta com esse medo e desespero, estou familiarizada com esse território. Eu estive lá, eu fiz isso.

Os sintomas podem ser tratados, as distrações e divergências podem ser penetradas proporcionando algum alívio temporário; mas, uma questão crucial e profunda permanece: qual é a fonte dessa angústia, desse sentimento, para que tantos de nós vaguemos pela vida desconectados, não aceitos, numa postura permanente de autoproteção?

Muitos argumentam (e a autora deste artigo também) que, em última análise, essa inquietação, experimentada em graus que vão desde a irritação e a ansiedade até o desespero e o desalento, provém da separação da alma de sua Fonte. É como se vivêssemos longe de nosso verdadeiro Lar e sofrêssemos a aflição da saudade.

Num plano menos esotérico da experiência terrestre, a história (a minha própria e a de muitos clientes) parece indicar que grande parte da dor escondida logo abaixo da superfície é, para muitos de nós, um reflexo de nossa separação de partes de nós mesmos. Crescemos aprendendo a esconder certos aspectos, com medo de que, se os outros nos virem como realmente somos, eles não nos aceitarão nem nos amarão. Esse ato de esconder-se aparece de várias maneiras: negação da existência do aspecto, negligência dessa parte (muitas vezes na esperança, consciente ou não, de que se não lhe dermos atenção, isso vai desaparecer ou morrer), raiva e/ou abuso do aspecto de nós mesmos que achamos inaceitável. Seja qual for a forma na qual a separação de si mesmo se manifesta, é como se nós considerássemos o aspecto que nos agita como inimigo, ao invés de um aliado potencial no processo do aprendizado de viver uma vida rica e plena. Ao tratar qualquer aspecto de nós mesmos como inimigo, nós deixamos esse aspecto sem crédito e separado do resto de nós mesmos. E, ironicamente, ao rejeitar uma parte de nós porque não gostamos do jeito que ela é, de como se comporta, ou do que é, nós virtualmente garantimos que ela continue, e provavelmente aumente, aquelas coisas pelas quais a rejeitamos. É mais ou menos como uma criança de dois anos de idade que, ao sentir-se separado de sua mãe, age de modo a chamar atenção dela, para garantir que ela o ame e que ele está seguro. Quando nós permitimos que uma parte de nós mesmos saiba que não é querida, essa parte tenderá a fazer aquilo que tem a fazer para obter nossa atenção. O excesso de peso, que sempre tem sido teimoso, torna-se ainda mais, os vícios tornam-se compulsões, a falta de confiança torna-se um sentimento de impotência, a raiva começa a colorir tudo na nossa experiência, cegando-nos para a alegria.

E então, como curar-nos? Viver com algum aspecto de nós mesmos ausente é como dirigir com apenas alguns cilindros – a gente não vai longe e viaja mal. Portanto, convidar essas partes que deixamos de lado é imperativo para estarmos realmente presentes em nossas vidas. O processo de Transformação Essencial®, desenvolvido por Connirae Andreas, é um veículo gentil e respeitoso para esse convite (ver o livro Transformação Essencial, por Connirae e Tamara Andreas, Summus Editorial). Com base na pressuposição de que por detrás de tudo em nossas vidas está uma intenção positiva, este processo de mudança envolve no diálogo o aspecto separado (e geralmente mal compreendido) do indivíduo; isso resulta em reconhecimento, compreensão e mudança. Logo, fica claro que, na raiz do comportamento, dos sentimentos ou pensamentos que o indivíduo deseja mudar, sempre houve uma intenção positiva, até mesmo amorosa e nobre. O peso que não queria baixar, os vícios, a raiva ou o medo, a timidez dolorosa, não eram produtos da autossabotagem ou traição de si próprio mas, antes, tentativas de uma parte nós para tirar-nos de onde estamos e levar-nos para onde precisamos estar; e, frequentemente, tentativas feitas por uma parte que está operando com recursos limitados mas fazendo o melhor que sabe. Quando podemos responder a essa parte na base de sua intenção mais do que de seu comportamento problemático, é muito mais fácil e até alegre convidar essa parte a voltar para nós mesmos.

A Transformação Essencial permite que essa parte do indivíduo, talvez pela primeira vez, seja realmente compreendida e bem-vinda. E, com resultados notáveis e muitas vezes capazes de mudar nossa vida, o aspecto que havia sido xingado, maldito e geralmente desrespeitado por tanto tempo aprende como entrar e operar no estado que sempre procurou, seu verdadeiro destino emocional.

Fiquei ali sentada, olhando e ouvindo a minha cliente, sua postura agora relaxada, sua voz não mais angustiada, com toda sua conduta em paz. Ela acabara de fazer uma experiência notável, que mudou as coisas de modo poderoso. Através do processo da Transformação Essencial, ela havia aprendido que a parte dela que estava gerando os sentimentos dolorosos, a inutilidade e o medo, estivera buscando proteção e, através dessa proteção sentir-se segura. Sentindo segurança, essa parte importante dela queria relaxar, a fim de pode usufruir da beleza e apreciar a vida. Eu queria apreciar a vida a fim de encontrar a paz, para experimentar a unidade com Deus. Agora, "a unidade com Deus" parece ter sido um longo caminho a partir do medo e da inutilidade iniciais mas, ao explorar o progresso, foi pleno de sentido. Proteção – segurança – relaxamento – estar ciente da beleza e apreciar a vida – paz – unidade com Deus. A dificuldade era o fato de que isso não estava funcionando; ela estava presa na fase da inutilidade e do medo. Como resultado do processo da Transformação Essencial, ela foi capaz de mover-se diretamente ao estado que havia sido tão ardiloso, sem necessidade dos passos intermediários.

Ao proporcionar expressão e reconhecimento de todas as partes do ser, a Transformação Essencial oferece a oportunidade de mover-se em direção da totalidade, da autoaceitação e da alegria.

Publicado na revista Anchor Point de abril 2001.
Publicado no Golfinho Impresso Nº81 - Out/2001
Trad. Hélia Cadore

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