Alguns dias atrás, eu saboreei uma refeição preparada por minha mulher, feita com os melhores ingredientes vegetais, basicamente um prato de arroz com legumes.

No entanto, na primeira garfada, um pedaço de cenoura pareceu-me estragado. Eu acho que ela abrira uma conserva nova. Entre as alternativas que me vieram à mente, eu poderia cuspi-lo fora, engoli-lo e comer o resto à força, engoli-lo e dizer a ela que não podia comer mais, etc.

Então, lembrei-me do artigo de Andreas. Eu mastiguei o bocado (à força) e tomei água. Então, lembrei-me de quando eu passei a gostar de whisky, que antes detestava (menos de um segundo originalmente).

No meio desta lembrança do estado de transição, eu comi um outro bocado e mantive-me lembrando daquele episódio. Depois de três bocados, eu percebi que até estava gostando. Na verdade, no fim da refeição, o gosto já estava bom.

Alguns dias depois, fui servido da mesma refeição! Eu havia esquecido a primeira experiência, até que percebi que a primeira garfada tinha um cheiro desagradável. Mas à medida que chegou mais próximo de minha boca o cheiro ficou bom de repente. Uma experiência esquisita...

Publicado na revista Anchor Point, Setembro, 2000
Tradução: Hélia Cadore
Publicado no Golfinho nº 71 - DEZ/2000